O Anjo-Vampiro

Dentro de casa, Tábata pega o telefone e liga para alguém:

- Olá, Vilma...! Precisamos nos reunir imediatamente...! Temos um grande problema para resolver...! Chame todos os bruxos...! Vai ser em sua casa... cinco minutos...! Ok...! Até já...!

A bruxa termina a sua ligação telefônica e vai para o quarto para se trocar, mas ao abrir a porta, encontra Lúcifer tranquilamente instalado em sua cama, com as pernas esticadas e cruzadas relaxadamente, como se estivesse em casa! O peito desnudo, vermelho e musculoso do anjo caído está todo à mostra! Tábata se assusta com a cena e, num reflexo, arremessa uma bola fumegante na direção do invasor. Ele agarra o feitiço bem diante de seus olhos, sorri para ela sem mostrar os dentes e depois o esmaga, espalhando faíscas pelo ambiente. Alguns focos de incêndio começam a tomar vulto rapidamente, mas a bruxa gira a mão espalmada, apontando-a por toda a direção do interior do quarto. O fogo se apaga naquele passe de magia. Lúcifer ergue as sobrancelhas e demonstra ter ficado impressionado com aquilo.

- Olha só! Deveria trabalhar com os bombeiros! Mas acho que alguém que gosta de jogar bolas fumegantes não resistiria a ver tudo pegando fogo, de vez em quando, né?
- Quem é você? (indaga, preocupada, a mulher).
- Não me conhece? Achei que eu seria mais famoso, depois de tudo o que fiz no passado. Mas não tem problema, mais cedo ou mais tarde serei uma celebridade global e celestial!

Lúcifer se desencosta ligeiramente da confortável posição recostada em que se encontra e suas enormes asas negras se abrem, derrubando os perfumes que estavam sobre a cômoda de um lado da cama e quebrando uma das portas do armário de roupas do outro lado. Ele se recosta novamente.

- Ops! (diz ele, mas sem demonstrar nenhum arrependimento pelos acidentes que causara).
- Lúcifer?! O que faz em minha casa?! Pretende tornar a minha vida um inferno?
- Rsrsrs! Uma bruxa espirituosa...! Que bom...! Disseram-me que você é uma das melhores de sua espécie! Mas esqueceram de me dizer que eu me divertiria também!
- Vou perguntar mais uma vez: o que faz... em minha... casa...?
- Não acho que esteja em posição de me confrontar! Deveria... me reverenciar..., na verdade! Mas... tudo bem...! Hoje estou de bom humor...! Eu preciso de uma ajuda sua.
- Sabe muito bem que nenhum bruxo irá te ajudar novamente.
- É! Eu ouvi dizer que fizeram uma reuniãozinha... logo depois de meu último encontro com um de vocês.
- Então sabe também que fizemos um pacto para não te ensinar mais nenhum feitiço, mesmo que isso nos leve à morte.
- É! Sei disso também! Mas não preciso mais aprender feitiços, poções e nem elixires. Eu preciso apenas que trabalhem para mim!
- Rsrsrs! Trabalhar para você?! Por quê? Seu departamento de Recursos Humanos está em greve...? Pelo amor de Deus, dê o fora daqui!
- Humm! Também não precisa mencionar o nome Dele diante de mim. Que falta de elegância...!
- Está perdendo o seu tempo e o meu!
- Meu tempo é infinito...! Mas por que estaria perdendo o seu tempo...? Vai sair...? Vai a algum lugar importante...? Talvez uma reuniãozinha...? Ou um chá mágico de bebê...?
- As minhas atividades não são de sua conta!

- Rsrsrs! É! Tem razão! Não quero mesmo saber o que as bruxinhas fazem para se divertir num sábado à noite! Mas eu preciso que reúna o máximo possível de bruxos... para me ajudar com um... probleminha... que estou tendo!

- Se for de próstata, devido à sua idade, não vou poder ajudar!

Lúcifer não gosta da piada e num salto, desaparece da cama e surge diante de Tábata, pegando-lhe forte no pescoço enquanto a empurra com violência contra a porta de seu quarto! Ela vai ficando sem ar.

- Tem um anjo que está reunindo um exército de vampiros para me confrontar! Ele vem fugindo de meus demônios, que infelizmente perderam o rastro dele. Quero que seus amigos bruxos eliminem todos os vampiros que encontrarem. Quero a extinção da espécie sugadora de sangue humano!

Tábata já sem ar aperta também o pescoço de Lúcifer que acha graça daquilo, mas começa a sentir algo estranho em seu corpo, que vai ficando amarelado, como se um fogo estivesse lhe consumindo de dentro para fora! Lúcifer larga a bruxa, faz uma careta e seu corpo volta ao normal rapidamente.

- Seus poderes não podem me ferir! Mas os meus podem eliminar também a sua espécie, bruxa.
- Se pode nos destruir, porque não faz isso contra os vampiros? Os bruxos lhe agradeceriam.
- Prefiro que vocês, que odeiam tanto os vampiros, façam este serviço. Eu pegarei o anjo pessoalmente, enquanto meus demônios eliminam eventuais focos de resistência.
- Por que um simples anjo o confrontaria? O que ele pretende com isso?

- Você, seus amigos e amigas só precisam saber sobre o que lhe ordenei! O resto é comigo! Quero seu exército em ação a partir de amanhã! Não importa quanto tempo leve! Destruam todos os vampiros que vivem do Alasca a Antártida e do Céu ao Inferno! Tem sete dias para varrer a espécie deste planeta! Todos os dias virei até você, aqui, nesta mesma hora, para saber como vai indo o andamento dos... trabalhos. Se as coisas não acontecerem da forma como desejo... eu mesmo eliminarei todos os bruxos..., começando por você!

- Mas existe um pacto de não nos mostrarmos para as pessoas comuns. Como faremos o que me pede sem quebrarmos o acordo?!
- Não se importe com este acordo! Em breve eu criarei novos acordos.
- Mas se não devo cumprir o atual acordo, como espera que eu cumpra os seus novos?
- Não tente me desafiar, bruxa! Se tiveres amor à sua vida medíocre, faça o que lhe mando ou sofra as consequências das escolhas erradas!

Ao dizer isso, Lúcifer desaparece dali, para alívio de Tábata. O dilema desta bruxa agora é a situação mais complicada do mundo! Ajudar Eliseu ou Lúcifer! Destruir os demônios ou os vampiros? Esperar pela ira de Deus ou a do Diabo? Seja como for... o resultado não poderá ser bom e muitas consequências ruins acontecerão antes de dias melhores existirem no futuro!