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Introdução
XVI - O CONGRESSO DAS VASSOURAS
I - O CÉU
XVII - EXÉRCITO DE VIVENTES
II - O ANJO
XVIII - REENCONTRO
O Anjo-Vampiro
CAPÍTULO XXI - BOA NOITE CINDERELA
III - O DOM
XIX - MAIS UMA NOITE
Na casa da bruxa, Tábata e Elisabeth estão acabando de jantar na cozinha, mas a conversa ainda irá longe:

- Como os bruxos conseguem viver sem serem descobertos pelo restante da humanidade? (indaga Elisabeth).
- Precisamos aprender a viver deste modo. Os anjos não nos consideram da mesma forma como o restante das outras pessoas.
- Por quê? Somos todos humanos, afinal! (relembra Elisabeth).

- Os anjos dizem que os conhecimentos da magia nos levam a tomar decisões erradas. Alegam que desrespeitamos aqueles que nos enfrentam ou nos atacam. Então passamos a viver nas sombras e de forma isolada para evitar um contato maior com os outros humanos. Os anjos nos proibiram de usar nossas poções e magias contra as pessoas que não são bruxos! Pequenos feitiços são até tolerados por eles, mas se, mesmo por acidente, alguém morrer por conta de nossas atividades mágicas, isso terá punição grave!

- O que eles fazem com os bruxos que desrespeitam esta regra?
- Melhor você não saber!
- Por quê? Os anjos são protetores. Não acredito que façam mal às pessoas.
- A história não é bem essa! Eles só se preocupam em cumprir suas missões e regras, mesmo que outros paguem por isso!
- Não pode estar falando de anjos como Eliseu! Eu vejo como ele se preocupa comigo!
- Você é a missão dele! Qualquer um que interfira nisso terá um fim na ponta daquela espada celestial.
- Está me assustando, Tábata! O que fazem os anjos contra os bruxos que desobedecem as regras que eles criaram?
- Os anjos levam o bruxo transgressor para uma região isolada do planeta. Lá o contato com outros humanos é ínfimo! Eles nos separam de nossas famílias e amigos.
- Não existe o perdão divino?
- Claro que sim! Mas nem sempre é dado! Depende do quão grave é o nosso erro, na opinião deles.
- Está me parecendo mais uma regra de boa vizinhança!

- Não sabe o que está dizendo! Os bruxos são tratados como terroristas pelos anjos! Eles não aceitam que possamos ser melhores do que o restante da humanidade! Alegam que este mundo viveria em guerra se pudéssemos usar livremente nossos poderes.

- Mas os anjos não fizeram nada contra os humanos, no caso da morte das bruxas de Salem?
- Foi depois daquele episódio que eles criaram esta regra! Nunca mais ninguém ouviu falar de bruxos e bruxas. Vivemos escondidos desde então.
- Eles não puniram os humanos que queimaram vivas as bruxas?
- Não! Somente Deus pode punir homens e mulheres! Os anjos apenas protegem humanos que têm dons especiais, como você!
- Sinto muito por toda esta confusão! (declara a Curandeira).

Tábata se levanta da mesa e leva o prato dela e de Elisabeth até a pia, enquanto continua falando.

- Por causa da existência deste seu dom, estamos agora tendo que ajudar os anjos e nos unir aos vampiros contra Lúcifer, que nada mais é do que um anjo caído, ou seja, um problema que deveria ser exclusivamente celestial.

Elisabeth também se levanta e leva as panelas da mesa até o fogão, ao lado da pia.

- Não sabia que tantas coisas acontecem neste mundo sem que a humanidade saiba.

Tábata separa os talheres e os coloca de cabeça para baixo num recipiente dentro da pia. Faz o mesmo com os pratos em outro recipiente com rasgo adequado, também no interior da pia. Ela aperta um botão na parede e jatos d'água começam a lavar tudo ali mesmo.

- A humanidade não ignora todos estes fatos, apenas esquece que eles aconteceram de verdade no passado (declara Tábata). Depois, escritores produzem livros de ficção e fantasia, transformando tudo em lenda. Eles inventam mentiras sobre bruxos, demônios, anjos e vampiros e mostram em filmes estes absurdos. A verdade é apagada e substituída por piadas e desrespeito conosco!

- Eu gosto de livros de fantasia! Sempre sonhei com anjos ajudando as pessoas (declara Elisabeth).

- Homens e mulheres veneram anjos porque eles os protegem. Mas do outro lado, vampiros, demônios e bruxos são punidos por ameaçarem ou matarem pessoas, mesmo que tais pessoas, que atacamos, mereçam o castigo! Mas Lúcifer, aquele anjo caído, sempre agiu como quis, desafiando Deus e as regras celestiais! Agora os anjos nos pedem ajuda contra o "coisa ruim"! Isso é ridículo!

Agora os talheres já estão lavados. Tábata abre uma porta de frente com a pia para ter acesso ao recipiente plástico embutido. É um armário de guardar loucas e talheres. A bruxa retira os utensílios que acabara de lavar para guardá-los, mas sem querer se corta ao tocar numa das facas. Rapidamente ela larga todos de volta na pia e com a outra mão pressiona o ferimento. Um pouco de sangue começa a sair. Elisabeth percebe o fato e estica a mão na direção da bruxa para ajudá-la. Tábata oferece a mão machucada à Curandeira, que ao tocar no ferimento, o sangue para imediatamente, a dor se vai e o corte já não existe mais. A bruxa arregala os olhos e observa de perto o resultado da prodigiosa cura.

- Parece mágica! Você tem mesmo um dom! Nunca acreditei que isso fosse possível!
- Talvez alguns humanos tenham algo de bom a oferecer a bruxos, vampiros e demônios! (declara Elisabeth).

Tábata deixa escapar um leve sorriso de agradecimento àquela cega mulher. Até que enfim uma quebra de gelo e, quem sabe, uma potencial amizade esteja ali se formando. Em gratidão, Tábata demonstra sutilmente que talvez tivesse algo a dizer à Curandeira:

- O que foi, Tábata? Sinto que tem um grande peso dentro de você! Quer me contar alguma coisa?

A bruxa titubeia um pouco, torce ligeiramente a boca, demonstrando que talvez não devesse nada dizer àquela doce e agradável jovem curandeira.

- Elisabeth! Você precisa entender que seres celestiais e humanos não devem se envolver demais.
- Por quê? O que pode haver de ruim em amar alguém?
- Isso não é permitido! No passado alguns anjos se apaixonaram por humanas e o resultado foi catastrófico.
- Nossa! O que aconteceu?
- O resultado foi o nascimento dos vampiros! Foi assim que eles surgiram!
- Não é possível! Não acredito nisso!

- Pense bem, Elisabeth! Os vampiros são poderosos e eles também podem voar! Eles são imortais como os anjos, mas podem morrer como os humanos se forem feridos seriamente. Eles têm um defeito genético-celestial e precisam de sangue humano para continuar vivos! Quer dizer..., eles são meio mortos, meio vivos, já que anjos não estão totalmente vivos.

- Como isso é possível, Tábata? Não pode ser verdade! Os anjos são bons, gentis, protetores..., como podem gerar vampiros?

- Não deixe as ilusões dominarem a realidade dos fatos, Elisabeth! Se os anjos são tão bons, por que Lúcifer é tão mal? Por que é que os anjos quando ficam muito tempo entre humanos tendem a enlouquecer? Por que acha que Deus se afastou da humanidade?

-
Não! Está mentindo! Não acredito nisso! (grita Elisabeth, que percebe a chegada de seu protetor na cozinha. E ela, ainda de costas, indaga o anjo). Diga que isso não é verdade, Eliseu! Por favor! Diga...!

- Eu adoraria que não fosse! Mas sou um anjo e não posso mentir para a minha protegida!
- Isso só pode ser um sonho ruim! Não é verdade! Não pode ser! Deus não deixaria tudo isso ficar dessa forma! (diz a Curandeira, correndo em prantos na direção de seu quarto).

A bruxa volta para o fogão e começa a esquentar água.

- Não devia ter dito isso a ela! Eu pedi a você que não o fizesse! (relembra Eliseu).

- Se quer a ajuda de todos nós... os humanos também deveriam saber toda a verdade. Acho mesmo que você poderia se apresentar às autoridades e dizer o que está para acontecer. Talvez as armas que eles desenvolveram ao longo de milhares de anos, possam nos ajudar a eliminar os demônios e abrir o caminho até Lúcifer para você.

- Não posso fazer isso!
- Eu sei! As regras celestiais não deixam, não é?

Eliseu olha para ela de forma repreendedora, enquanto a bruxa coloca a água quente numa xícara e um líquido dentro dele.

- O que está fazendo?
- Um chá para acalmar a sua protegida!

Eliseu olha para a xícara e demonstra não acreditar que aquilo seja um chá.

- É um chá! Não quero fazer mal a garota! Ela não merece o que está vivendo!
- E o que é este líquido que acaba de colocar na água?
- Um calmante! Ela irá dormir tranquila esta noite, porque a partir de amanhã, nem sei quando algum de nós conseguirá fazer isso novamente.

Ao dizer isso, Tábata inclui um saquinho de chá na água quente e leva a xícara num pires até o quarto de Elisabeth. O anjo vai atrás dela e para na entrada do cômodo. A Curandeira está deitada de barriga para baixo, chorando e soluçando muito.

- Calma, Elisabeth! A humanidade sempre esteve cega para os fatos da vida (relembra Tábata). Agora que você sabe mais sobre o que está acontecendo, precisa se acalmar e se preparar para os próximos dias! Precisa dormir bem esta noite. Tome este chá! Vai lhe fazer bem.

A garota reduz seu choro, senta-se na beirada da cama e pega o pires das mãos de Tábata.

- Cuidado está quente! (avisa a bruxa).

Elisabeth começa a bebericar lentamente seu chá, enquanto a bruxa se afasta para sair do quarto, mas é impedida pela presença de Eliseu que está postado à sua frente.

- A bela adormecida acordou do conto de fadas, anjo! (declara a bruxa). Agora a dura realidade vai ajudá-la a enfrentar a guerra que se aproxima!

Eliseu se afasta da porta, dando espaço para a bruxa passar.

- Vou dormir agora! (declara a bruxa ao sair). Faça silêncio, anjo, não mexa em nada da casa, eu acordo com qualquer barulho. E quando isso acontece, posso lançar feitiços contra o primeiro que aparecer na minha frente. Boa noite!
- Então espero que tenha uma boa noite...! Mas por vias das dúvidas estarei preparado para seu mau humor (declara ele à bruxa).

Tábata se afasta e entra no quarto ao lado. Eliseu observa agora a sua protegida, tomando com cuidado o chá.

- Sinto muito sobre tudo isso, Elisabeth! Não queria que soubesse dessa forma.
- E de que forma queria que eu soubesse? Quando pretendia me contar?
- Nunca tive a intenção de te contar!
- Até onde então me deixaria ir com a atração que venho sentindo por você? Sou cega, mas vejo que você também está sentindo algo por mim.
- Elisabeth! Existe uma grande chance dos anjos desaparecerem depois desta guerra contra Lúcifer. Se eu te conhecesse quando ainda estava vivo... tudo seria diferente! Mas como anjo... tenho deveres a cumprir e uma missão a realizar.
- Eliseu...! Se eu te conhecesse em vida e me apaixonasse por você... o seu antigo dom te enganaria! Acharia que também estava apaixonado por mim.
- Não! Agora..., depois de tanto tempo..., aprendi com você... a diferença entre o dom da empatia e o amor verdadeiro! Eu não me enganaria novamente sobre isso..., se estivesse vivo!

Elisabeth para de tomar o chá e olha na direção de seu protetor. Um sorriso entre lágrimas acontece naquele rosto perdido entre a dor da dura realidade e o amor por seu anjo.

- A vida não pode ser tão cruel, Eliseu! Por que Deus deixou que tudo acontecesse desta forma? O que deu errado?

- Não sei...! Ninguém sabe...! Talvez tudo isso faça parte do plano divino..., para dar às pessoas a chance de evoluir..., de aprender..., de encontrar caminhos alternativos... em meio à dor e às dificuldades na busca por um caminho de uma vida melhor e mais feliz. Só saberemos ao certo quando, e se, esse dia chegar!

- Acredita mesmo nisso?
- Minha função é tornar a sua vida melhor! Estou fazendo o possível. Mas peço desculpas a você, por levá-la por caminhos tão espinhosos e feios.

Elisabeth se levanta, coloca o pires com a xícara sobre a cômoda ao lado da cama, caminha até seu anjo protetor e para diante dele. O casal se olha por alguns segundos e se entregam a um forte e caloroso abraço. É um momento único de carinho e atração entre ambos, que jamais poderia ir além disso! Os dois ficam parados por alguns minutos, abraçados, cúmplices da enorme separação que os atraiu e que atualmente os une como protetor e protegida!

- O que tinha naquele chá? Estou ficando sonolenta muito rapidamente!

Eliseu a pega no colo e a coloca deitada na cama. Ele a cobre com o lençol que estava ali ao lado, dá um beijo na testa dela e percebe que Elisabeth não está mais acordada!

- Boa noite, Elisabeth...! Durma bem...! E nem precisa mais sonhar com anjos...! Eu já estou aqui para te proteger...!

Eliseu se afasta, sai do quarto, encosta a porta e se posiciona ali perto, na sala, pensativo no que acontecerá nos próximos dias e no fim de um romance que nem sequer começou. A bruxa observa tudo de sua porta entreaberta, também pensativa sobre como será o dia de amanhã. Logo depois ela se tranca silenciosamente para poder dormir, se conseguir!

IV - A VIAGEM
XX - A FILA DA PROCURA
V - MAL ASSOMBRADA
XXI - BOA NOITE, CINDERELA
VI - BATALHA NOTURNA
XXII - FACÇÕES DA GUERRA
XXIII - NOVOS COMBATENTES
VII - PRIMEIRO ACORDO
VIII - A FUGA
XXIV - TRANQUILÓPOLIS
IX - VISITA INDESEJADA
XXV - A VIRADA
X - LANCHONETE
XXVI - A FROTA DO MAL
XXVII - SERES DA GUERRA
XI - A NOVA VIAGEM
XII - TÁBATA
XXVIII - A BATALHA FINAL
XXIX - A PAZ ETERNA
XIII - IMPASSE
PERSONAGENS
XIV - VERÔNICA
ANJOS, FADAS E BRUXAS
XV - SANGUINÁRIO
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