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Introdução
XVI - O CONGRESSO DAS VASSOURAS
I - O CÉU
XVII - EXÉRCITO DE VIVENTES
II - O ANJO
XVIII - REENCONTRO
O Anjo-Vampiro
CAPÍTULO XXIII - NOVOS COMBATENTES
III - O DOM
XIX - MAIS UMA NOITE
Na casa de Sanguinário, o vampiro conversa com Elisabeth:

- Então você pretende se casar e ter filhos com aquele anjo?

A Curandeira "olha" para ele e não gosta da pergunta:

- Você é sempre assim, insensível com os humanos?
- Eu gosto muito de humanos! Sempre faço um carinho neles antes de lhe arrancar todo o sangue.
- Você é nojento! (declara a moça).
- Já teve um gato? (indaga o vampiro a ela).
- Já! Uma gata, uma vez! Mas por que a pergunta?
- Bom! Os gatos matam e comem diversos animais e você não os chama de nojentos!
- Eu dava ração para o meu gato. Ele não precisava matar outros animais.
- Os gatos tem uma habilidade de se esgueirar por aí e eles conseguem pegar muitos animais diferentes: insetos, camundongos, filhotes de pássaros, lagartixas, ovos em ninhos etc etc etc.
- Não entendo onde pretende chegar com esta conversa fiada!

- Rsrsrs! Quero dizer que as pessoas fecham os olhos para aquilo que não querem ver! E se não conseguem ver... não ligam para o que acontece ao seu redor! Não ligam se milhares de pessoas morrem todos os dias, sejam assassinadas, acidentadas, doentes, ou se viram alimentos de vampiros!

- Para mim, você continua muito nojento!
- Rsrsrs! E você continua cega, literalmente!

Agora chega Eliseu e Barrattiel à casa de Sanguinário. A porta se abre sozinha e se fecha. Logo depois os celestiais se materializam diante dos olhos de todos.

- Precisamos ir embora daqui! (declara Eliseu).
- Mas e o exército lá fora? Vão ver meu carro e fazer perguntas! (relembra o vampiro-líder).
- Eles já estão indo embora. Prepare a sua mala, Sanguinário, você irá conosco.
-
O quê? (indaga o humano, descrente sobre o que acabara de ouvir, enquanto olha assustado na direção de Eliseu).
-
O quê? (indaga agora também o vampiro, que esperava ter o dono da casa como um "lanchinho" rápido antes da viagem). Não foi isso que combinamos antes.
- Eu sei! (comenta Eliseu). Nós vamos precisar dele mais um pouco!
- E onde colocaremos este sujeito enorme? No porta-malas de meu carro?! (ironiza o vampiro, diante da cara de preocupado de Sanguinário).
- Esperem um pouco aí! Eu não vou a lugar algum com vocês! Não quero me meter numa guerra entre demônios e vampiros!
- Infelizmente você não tem escolha! (alerta Eliseu). Se ficar será morto por Lúcifer ou antes pelo nosso amigo vampiro aqui.

Sanguinário olha diretamente para o sanguessuga, que está com um sorriso irônico no rosto.

- Do que está falando? Fiz tudo o que esta criatura me pediu, passei fome, sede e mal consegui dormir, porque ele jogou um balde de água em mim (neste momento Eliseu olha de forma repreensiva para o vampiro, que ergue os ombros e se defende).
- Eu estava com muita fome então resolvi jogar um balde de água fria nele para esfriar todo este sangue quente que ele tem. Não gosto muito de comida molhada e fria! Prefiro bem sequinha e quente!

Eliseu faz uma careta para o comentário do vampiro.

- Se quiser, Eliseu, eu corto a cabeça deste sugador de sangue (declara Barrattiel). Isso não irá alterar a minha condição de anjo caído!
- Eu cheguei a pensar em morder o pescoço de seu amigo (declara o vampiro, olhando para Barrattiel), mas acho que se combater um Lúcifer já está difícil, imagine dois?
- Parem com isso! (ordena Elisabeth). Vocês só falam de mortes e sangue o tempo todo! Vamos falar do que importa? O vampiro tem razão, como iremos nós cinco naquele carro apertado?
- Eu voarei invisível pelo caminho (informa Eliseu). E se eu detectar algum problema à frente na estrada, aviso vocês.
- Que legal, um
anjo-drone* invisível! (declara o vampiro de forma jocosa).
- E por que precisa de mim ainda? (indaga Sanguinário).
- Preciso saber sobre o momento da chegada de vampiros, bruxos, demônios e de Lúcifer ao local da batalha final! (declara Eliseu). Você nos avisará quem, quando e quantos estão chegando. Isso nos ajudará a surpreendê-los.
- Espera que eu use meu dom para lhe informar sobre milhares de pessoas e seres que estão chegando?!
- Exatamente!
- Acho que não posso fazer isso! Está muito além de minha capacidade!
- Sua opção, se quiser ficar, é ser morto!
- Quer saber... o vampiro tem razão, fazer negócios com anjos é um inferno! (declara Sanguinário erguendo um dos braços para cima em reprovação ao que Eliseu está propondo).
- Ao menos eu estou lhe oferecendo a vida, quanto ao vampiro...!
- Eu já entendi! Sei que não tenho opção! Mas ficar numa zona de guerra entre seres tão perigosos e cruéis... também não é garantia de que sobreviverei!

- Se falharmos, todos perderemos! (declara o anjo Eliseu ao Sanguinário). Preciso que nos ajude! Com você, poderemos prever o próximo passo de nossos inimigos e nos preparar! Quero que pegue toda a água potável e comida que puder levar para você e Elisabeth. Coloque tudo no porta-malas do carro do vampiro!

Lá fora o exército está em retirada da cidade. Os veículos estão pegando a estrada em direção à capital. As manifestações começam a tomar as principais ruas das maiores cidades de todos os países. Uma grande concentração de demônios, disfarçados de trabalhadores comuns do dia-a-dia, está tumultuando a civilização humana. Poucos entendem o que realmente eles querem. Alegam salários melhores, mas por que em todo o mundo? A guerra que se avizinha é orquestrada por Lúcifer e tudo indica que a humanidade sofrerá seu último suspiro na próxima noite, quando estes demônios se transformarem em seres alados e violentos!

De volta à estrada, o estranho grupo composto de um anjo, um ex-anjo, uma humana com o dom da cura, um vampiro e outro humano com a capacidade de encontrar pessoas, estão a cento e oitenta quilômetros por hora no carro esportivo de alta potência do vampiro-líder. Numa das curvas do caminho, um radar escondido detecta a velocidade excessiva em que estão para chegar o mais cedo possível em Tranquilópolis! O radar informa à polícia rodoviária mais à frente. Um policial vem agora invadindo a pista lentamente para forçar o vampiro a parar. Ele abana os braços apontando para o acostamento.

O vampiro olha indignado para frente e põe a cabeça para fora enquanto dirige. Ele olha para cima e grita com Eliseu que está voando invisível logo acima:

-
Mas que droga! Você não viu este sujeito aí de cima?
-
Ele estava escondido sob as árvores! (responde de volta o anjo).
- E agora? Passo por cima dele ou de lado pelo acostamento? (indaga o vampiro ao ex-anjo Barrattiel sentado a seu lado).
- Se quiser eu coloco a minha espada para fora e corto o sujeito ao meio! (responde Barrattiel).
- Credo! Não pode estar falando sério! (reclama Elisabeth).
- Não estou falando sério! Foi apenas uma ideia que me surgiu. Acho que não estou tão bem da cabeça quanto imagino! (informa Barrattiel).

Eliseu tem uma ideia e pousa de barriga com força sobre o teto do veículo.

- Eeeeiiii!! (reclama o vampiro-líder).

Eliseu continua invisível e coloca a cabeça de lado, abaixando-a perto da janela que está aberta, quando fala com o pessoal no interior do carro:

- Tive uma ideia...! Barrattiel, preciso que me ajude com isso! Vamos fazer o que fizemos juntos no passado uma vez quando precisávamos proteger aquele sujeito, lembra-se?

- Sim! Claro que me lembro! (responde o colega ex-celestial).

Os dois se concentram. Barrattiel coloca as suas mãos sobre o painel dianteiro do veículo e em poucos segundos o veículo desaparece em pleno ar. O vampiro-líder desvia do policial para não atropelá-lo! Pelo homem da lei passa uma forte ventania que o faz virar de costas. O policial abre os olhos, de forma espremida, e vê apenas o que o deslocamento de ar fez à estrada, causado pela passagem do veículo: folhas, poeira, pequenos pedaços de galhos, tudo voando em direção ao horizonte distante. O policial não acredita no que vê, e não vê! Como um carro pode ficar invisível e passar por ele em alta velocidade? No interior do veículo estão todos espantados e mais tranquilos com o que aconteceu. O carro volta a ficar visível, mas Barrattiel está passando mal:

- Não estou me sentindo bem! Acho que isso foi demais para mim!

Eliseu, ainda invisível e deitado de bruços sobre o teto do veículo, observa, preocupado, seu colega no interior do carro!

- Respire fundo, Barrattiel! Acalme-se e procure relaxar! Daqui a pouco você se recupera! (sugere Eliseu). Vou continuar voando mais alto para ver o que está acontecendo à frente. Pisa fundo! (ordena ele ao motorista). Temos que chegar o mais rápido possível ao ponto de encontro com os outros vampiros.

O veículo é acelerado até quase atingir quatrocentos quilômetros por hora nas retas. Em poucos minutos o grupo chega até uma saída de terra ao lado da estrada, quando reduz bastante a velocidade. O vampiro-líder entra a direita até um vilarejo praticamente abandonado. Existem duas casas ali próximas uma da outra. Ao redor escombros podres de outras casas de madeira, agora dominadas por cupins impiedosos.

- Puxa! Como vocês escolhem mal suas moradias...! (declara Elisabeth observando os detalhes com o seu equipamento de visão artificial).
- Muito pior é o que escolhem para comer! (declara Sanguinário).

O vampiro-líder sorri ironicamente para as observações dos dois humanos a bordo de seu carro. Ele abre a porta, desce, observa tudo ao redor e anda lentamente em direção à casa!

- É aqui que está o seu grupo de vampiros? (indaga Barratiel).
- Não! Este lugar é de um clã rival!
- O quê?! (espanta-se o anjo-caído). Por que viemos aqui?

O vampiro-líder para de andar. Olha ao redor em busca de alguma coisa e declara:

- Se um vampiro quer entrar em guerra contra outros iguais, basta invadir a área de um concorrente.

Eliseu pousa perto dele e se torna visível novamente:

- O que está fazendo agora? É seu plano D?
- Achei que quisesse mais vampiros para combater nesta sua guerra?
- Eu quero mais apoio e não mais inimigos!

Agora surge um homem muito forte, feio e muito sério que sai de trás de uma das casas abandonadas e caminha na direção de Eliseu e do vampiro-líder.

- O que está fazendo aqui, vampiro? (declara o sujeito já apresentando numa das mãos uma enorme peixeira afiada, enquanto continua avançando).
- Calma! Vim apenas conversar com você! Não estou interessado em seu território!
- Não quero falar com você! Mas já que está aqui, vou aproveitar para eliminar a concorrência! (declara o enorme sujeito já desferindo um golpe contra o rival sugador de sangue).

O vampiro-líder salta de costas, assim como Eliseu! Eles desviaram do primeiro golpe! Mas o dono do lugar avança novamente na direção do concorrente, que caminha de costas num círculo grande para não se afastar demais de Eliseu. O anjo tenta argumentar como o sujeito, já nervoso:

- Calma! Vamos conversar! Precisamos de sua ajuda contra Lúcifer!
- Assim que eu matar vocês, poderão falar com ele pessoalmente! (declara o homem da peixeira desferindo mais um golpe que zune próximo ao rosto do inimigo do vampiro-líder).

Eliseu se aproxima por trás e agarra o poderoso braço que segura a faca! Mas o sujeito é muito forte e empurra o anjo para longe, jogando-o ao chão! Ao ver isso, Barrattiel, mesmo exausto, sai do carro, arranca a espada, guardada sob seu casaco negro e caminha resoluto na direção do perigoso homem, que percebe a vinda do ex-anjo.

- Espere um pouco! Você é um anjo?! (indaga o sujeito que se volta na direção dele).
- Largue esta faca ou provará de minha lâmina em seu peito! (declara Barrattiel).

O enorme homem joga a faca no chão e cessa as agressões contra o vampiro-líder e Eliseu, que já se levantara, caminha novamente na direção dele.

- Por que um anjo está aqui? Quem são vocês, afinal?
- Já lhe disse: precisamos de sua ajuda e de todos os vampiros que encontrarmos! (declara Eliseu, que chega bem próximo a ele).
- Não estou sentindo cheiro de sangue em nenhum de vocês dois! Ambos são anjos! (informa o enorme sujeito olhando para Barrattiel e Eliseu). E este aqui é um concorrente! (olhando agora na direção do vampiro-líder). O que está acontecendo?
- Não temos muito tempo para explicar! Você conhece a lenda da Curandeira? (indaga Eliseu).
- Claro! Todo vampiro sabe sobre isso!
- Pois é! A Curandeira existe e Lúcifer a quer! Estamos protegendo-a! Mas Lúcifer está enviando todos os demônios do mundo para atacar e destruir a humanidade. Temos que matá-lo e aos seus seguidores!
- Não pode estar falando sério! Ninguém pode matar Lúcifer! E você sabe disso!
- A opção é que não sobre nada além de demônios neste planeta. Você quer isso? O que lhe restará para comer depois? (indaga Eliseu). Qual o seu nome?
- Vladimir!
- Muito bem, Vladimir! Quantos seguidores você tem?
- O suficiente para mim e muito pouco para uma batalha contra Lúcifer!
- Tudo bem! Temos outros amigos que lutarão conosco!
- São mais vampiros?
- Não! São outros amigos! (informa Eliseu).
- E quem seria louco o bastante para fazer isso? (indaga Vladimir).
- Bruxas, fadas... (responde o
vampiro-líder).
- O quê?! Você disse bruxas?!
- Sim! Ou acha que sem elas poderíamos vencer Lúcifer? (indaga Eliseu).
-
Isso só pode ser brincadeira!

- Não! Não é! Este é um evento único na história desse planeta! Se não conseguirmos a ajuda do máximo possível de combatentes, não teremos nenhuma chance! As bruxas ficarão na retaguarda esperando o momento certo para atacar. Enquanto isso eu e todos os vampiros combateremos os demônios até que Lúcifer decida entrar na batalha. Então eu lutarei contra ele até a morte.

- Vocês são loucos!
- Não! Louco é Lúcifer de iniciar esta guerra! Acha que consegue falar com outros líderes-vampiros para nos ajudar?
- Eu não disse que irei ajudar vocês.
- Não há tempo suficiente nem para conversarmos agora. Você tem que nos ajudar! (relembra Eliseu). Vá e leve sua equipe hoje à noite até Tranquilópolis. Lá será o local do combate final amanhã.
- Acho que nunca ouvi falar de algum vampiro que vivesse por lá! (declara Vladimir). Por que o lugar? Tem algo especial lá?
- Sim! O acesso é restrito e poderá ser defendido mais facilmente contra um ataque em massa de demônios (responde Eliseu).
- Hum! Verei o que posso fazer! Mas não prometo nada! (declara Vladimir).

- Se vocês não aparecerem por lá, a nossa chance de vencer irá se reduzir e a sua chance de continuar vivo também! A Curandeira pode dar a vida de volta aos vampiros. E ela estará lá conosco. Durante a batalha nenhum de vocês morrerá em definitivo. Eu te garanto isso! Mas se não lutar conosco a morte de vocês será lenta e muito dolorosa!

- Eu já entendi as opções que tenho! Mas eu quero algo em troca.
- A sua vida e a dos outros não é suficiente?
- Não! Não é! Quero todos os humanos de Tranquilópolis como prêmio de guerra! Meu pessoal estará faminto depois da batalha e precisaremos nos alimentar!
- Infelizmente para você isso não acontecerá! Nenhum humano de lá poderá ser atacado nem por vampiros e nem por demônios.
- Então por que diabos está levando a guerra para aquele lugar? (indaga Vladimir).

- Tenho meus motivos! (declara Eliseu). E vocês entenderão o porquê muito em breve! O que posso lhes dizer agora... é que se o exército de Lúcifer atacar a humanidade..., os vampiros terão muito alimento disponível espalhado por todo o mundo...! Os anjos não os impedirão...! Mas se um de vocês atacar alguma pessoa de Tranquilópolis... pagarão muito caro por isso! Vamos embora agora! Temos muito que fazer nas próximas horas.
Eliseu e Barrattiel retornam em direção ao carro, juntamente com o vampiro-líder. No caminho Barrattiel fala com seu colega celestial:

- Sabe que não pode levar a guerra para Tranquilópolis! Por que está fazendo isso?
- Preciso de ajuda e aquele lugar nos será muito útil.
- Os outros anjos nos expulsarão de lá! Aquele lugar é proibido para vampiros, demônios e bruxas.
- Eu sei, meu amigo! Estou contando que os outros anjos tentem nos impedir de fazer isso! (declara Eliseu para espanto de Barrattiel).

- Deixe-me ver se entendi! (declara o vampiro-líder). Você quer levar a guerra contra Lúcifer e os demônios para um lugar proibido para mim? Está tentando criar uma guerra contra os outros anjos também? O que acha que ganhará com isso? Dois inimigos poderosos contra um pequeno grupo de lunáticos? Só pode estar maluco! Já está tempo demais aqui entre os humanos! Não está raciocinando bem!

- Sei que é difícil de explicar agora! Peço apenas que confie em meu julgamento!
- Quer que eu confie em mais um anjo caído e outro que está ficando lelé? (declara o vampiro-líder enquanto entra em seu carro).

Barrattiel faz o mesmo, sentando-se no banco do passageiro ao lado do motorista.

- Conhece mais algum outro lugar que tenha outro vampiro-líder, antes de irmos para o abrigo de seu grupo de sugadores de sangue? (indaga Eliseu abaixando-se ao lado do motorista do veículo).
- Conheço mais um! Mas desta vez você se apresenta para ele, e não eu! (responde o vampiro).

Eliseu sorri levemente e desaparece dali. O vampiro liga o carro, olha na direção do outro vampiro que ainda está por ali e acelera em direção à estrada.

- Ele irá ajudar? (indaga Elisabeth, sentada no banco traseiro, a Barrattiel).
- Não sei! Acho que estamos agindo errado neste assunto!
- Por que diz isso? Não confia nos planos de Eliseu?
- Deveríamos usar você como isca para atrair Lúcifer e matá-lo quando aparecesse para te pegar.

Elisabeth olha espantada para ele!

- Achei que os anjos deveriam proteger as pessoas e não usá-las para atrair o perigo! (relembra Elisabeth).

- Não me leve a mal, Curandeira! Acho que entrar numa guerra contra os demônios e lutando ao lado de bruxas e vampiros é um plano tão bom ou ruim quanto usar você como isca! A diferença é que depois de enfrentar milhares de demônios estaremos todos exaustos para enfrentar Lúcifer.

- Achei que os anjos não ficassem cansados! Ou está falando apenas de você? (indaga o vampiro-líder a Barrattiel).

O anjo caído olha sério para o sugador de sangue e agarra-lhe com uma das mãos pelo pescoço enquanto ele guia em alta velocidade. O veículo começa a balançar para esquerda e para direita. Lá do alto, Eliseu percebe que algo está errado e aproxima-se do teto do bólido vermelho abaixo.

- Escute aqui! (declara Barrattiel olhando feio para o vampiro).
-
Larga ele! (grita Elisabeth).

O carro dá mais uma forte balançada de um lado para outro na estrada.

-
Vamos morrer! (grita agora Sanguinário agarrando-se firmemente ao banco da frente).
- O que está acontecendo aí em baixo? (grita Eliseu ainda invisível, enquanto tenta se agarrar ao teto do veículo que não para de se mexer de um lado para outro).

Alheio às consequências de seus atos, Barrattiel olha sério e firme na direção do vampiro que está com dificuldades de manter seu carro em linha reta.

-
Não estou interessado em sua opinião! (declara o anjo caído). Lúcifer tem que morrer! E eu o atacarei e vencerei!
- Pois é..., mas você agora é mortal e se quiser continuar vivo até encontrar seu inimigo... precisa me largar agora! (declara o vampiro-líder).

Lá de cima, Eliseu agora consegue segurar o teto do veículo e o agarra forte, jogando seu corpo contra a superfície lisa.

-
O que está acontecendo aí? (grita Eliseu já colocando a cabeça de lado pela janela do vampiro). Barrattiel...! Larga ele, agora...! Larga...!

Com tantas reclamações, o anjo caído resolve soltar o vampiro, que consegue agora controlar melhor o carro. Eliseu se movimenta no teto e coloca a cabeça agora ao lado do ex-anjo.

- Meu amigo! Você não está em condições de nos acompanhar nesta batalha! Sua instabilidade o está fazendo perder o sentido de quem são seus parceiros e de quem são seus inimigos!
- Não diga besteira, Eliseu! Sou o único anjo que o está apoiando neste momento! Precisa de mim!
- Desculpe-me lhe dizer isso! Mas você não é mais um anjo! E seus ataques de fúria estão começando a comprometer a nossa missão! Como espera que eu possa confiar em você?
- Não importa isso agora! Estamos a poucas horas do combate e você não tem quase ninguém ao seu lado. Como espera vencer esta batalha? Precisa de mim!
- Se você atacar aqueles que estão nos ajudando, teremos cada vez menos combatentes! Então me responda: você confiaria em alguém que não sabe quem atacar?

Barrattiel demora um pouco para responder, mas ao final declara:
- Não! Não confiaria!

- Quem bom que concordamos! (declara Eliseu ainda invisível e deitado sobre o teto do carro em alta velocidade). E que bom que você ainda sabe definir a diferença entre o que é certo e o que é errado! Enquanto eu vir isso em você, continuará conosco. Mas quando esta condição se modificar, você estará fora de nossa equipe. Agora, por favor, relaxe e tente dormir um pouco. Isso o acalmará e tornará a viagem mais tranquila e segura. Qual é a próxima parada? (indaga ele ao vampiro, que procura se localizar quando dá uma forte brecada).

-
É aqui! (grita o sugador de sangue, fazendo com que Eliseu seja arremessado longe).

O anjo abre as suas asas e se equilibra em pleno ar, para não cair. Mas Barrattiel, sentado ao lado do vampiro motorista, é arremessado para frente, batendo a cabeça no painel dianteiro. O nariz dele começa a sangrar!

-
Mas que droga foi essa? (grita o anjo caído, levando uma das mãos à cabeça que também dói).
- Desculpe-me! (comenta o vampiro). Toda esta conversa e confusão me distraíram! A entrada da vila é ali atrás!

Elisabeth estica seu braço e coloca a mão sobre o ombro de Barrattiel, que sente algo diferente em seu corpo. O sangue do nariz para de correr, a dor vai embora e também seu enorme cansaço anterior. Mas parece que algo mais também melhorou!

- Nossa! O que você fez? (indaga o anjo caído virando a cabeça na direção de Elisabeth).
- Apenas o curei de suas dores!
- Não! Você fez mais do que isso! Minha mente estava uma confusão. Eu sentia uma raiva muito grande e via cada um de vocês como um transtorno para mim e para atingir meus objetivos de acertar as contas com Lúcifer!
- Então não está mais louco? (indaga o vampiro).
- Eu não estava louco! Estava confuso!
- É um sinônimo para loucura!
- Obrigado! (declara Barrattiel à cega Elisabeth, que sorri para ele).

O vampiro agora faz uma manobra, retorna uns poucos metros e entra na estrada vicinal paralela que vai até um entroncamento, quando então viram à esquerda. Depois de uns poucos minutos chegam a uma casa velha e suja.

- Como vocês vampiros encontram tantas casas abandonadas? (indaga Sanguinário).
- Não as encontramos abandonadas! Apenas nos alimentamos de seus donos e as casas são automaticamente doadas para nós! (responde o vampiro, sorrindo macabramente na direção do humano).
- E os parentes destas pessoas não descobrem o que fizeram? (indaga Elisabeth).
- Claro que sim. Ficamos sempre contando que eles venham nos visitar e depois nos alimentamos deles também (declara o vampiro).

Eliseu pousa ali perto, fecha as suas asas e volta a ficar visível. Ele está ao lado da janela do vampiro-líder, olhando sério para ele, quando comenta:

- Não faça isso novamente! (referindo-se a forte brecada de agora a pouco). A sua sorte é que eu preciso de você!

O vampiro sorri ironicamente para o anjo, que se vira de costas e caminha com cuidado na direção da residência velha e abandonada.

- Eu se fosse você olharia na direção das árvores neste lugar (sugere o vampiro-líder). O vampiro daqui é diferente dos outros...

O vampiro responsável pela casa velha salta de uma árvore sobre o corpo do anjo. Os dois caem no chão! Barrattiel percebe o perigo que o amigo está correndo e sai rápido do carro para ajudá-lo. O vampiro tenta morder o pescoço de Eliseu, achando que ele se tratava de um humano. Eliseu desvia seu rosto para se afastar daqueles dentes fortes, mas que, por ser ainda de dia, não estão apropriados para sugar o sangue. Eliseu desfere um soco forte contra o rosto do sugador que cai de lado. Barrattiel saca a sua espada brilhante e a aponta para o rosto do vampiro que está meio tonto e deitado de barriga para cima no chão de terra.

- Um anjo? (declara o vampiro ao ver Barrattiel). Eu não sabia que este sujeito era um protegido dos anjos! Desculpe-me!
Eliseu se levanta, bate as mãos sobre a sua roupa negra longa para retirar a poeira e declara:

- Eu preciso de sua ajuda, vampiro!

A criatura olha para ele, sem entender do que se trata. E agora os três começam a conversar rapidamente sobre Lúcifer e a Curandeira. Dentro do carro Elisabeth confronta o vampiro-líder:

- Você sabia que aquele vampiro lá fora estaria nas árvores e por isso não quis sair, não é?

O sugador de sangue olha para trás e sorri para ela.

- Não confio em você! Acho que irá nos trair na última hora! (declara a Curandeira).
- Não sabe nada sobre vampiros, moça!
- Mas o que já descobri, não gostei!
- Você deveria ir diretamente a Lúcifer e acabar com tudo isso!
- O quê? Eliseu está se arriscando para me proteger e você sugere que eu entregue a minha vida e a da humanidade diretamente nas mãos daquele... "coisa ruim"?
- Não! Estou sugerindo que acabe com a guerra! Entregue-se a Lúcifer e peça que não ataque a humanidade. Talvez ele te atenda e ataque apenas os anjos!
- Só pode ser uma brincadeira sem-graça isso! Lúcifer traiu a confiança de Deus, enganou os vampiros e as bruxas e você ainda sugere que eu tente fazer um acordo com ele?

- Pense bem! Lúcifer conseguiu tudo o que quis aqui na Terra! Está se arriscando numa batalha cruel só para chegar até você. Ele tem certeza de que conseguirá te pegar. Dê logo isso a ele! Acabe com esta guerra, que é exclusiva dos anjos. Lúcifer ficará feliz, atacará o mundo dos anjos e provará a Deus o que ele queria. Simples assim! Sem guerra contra a humanidade, contra vampiros, contra bruxos, contra demônios...

- Não acredita mesmo nisso, não é?
- Acredito sim! Se quiser tentar este caminho, dou-lhe o meu apoio! (declara o vampiro olhando na direção de Elisabeth).

Agora Eliseu e Barrattiel retornam para o carro e percebem um clima ruim ali dentro.

- O que está acontecendo aqui? (indaga Eliseu).
- Nada! (informa o vampiro-líder). Estávamos apenas discutindo possibilidades adicionais para este confronto com Lúcifer.

Eliseu olha na direção de Elisabeth e percebe que ela está abatida.

- Você está bem?
- Não! Depois que fui envolvida nisso tudo, não poderia estar bem!
- Calma! Eu estou aqui para te proteger! Pense positivo! Tudo irá dar certo!
- Não tenho tanta certeza! (declara Elisabeth olhando para o vampiro, através do retrovisor interno do carro).
- Bom! O vampiro das árvores irá nos ajudar! Mas ele é meio doido! (declara Barrattiel).
- Olha quem fala! (declara o vampiro-líder que liga novamente seu carro para ir ao encontro de seu grupo que está escondido mais à frente na estrada).

O grupo, depois de rodar mais alguns minutos pela longa estrada, chega agora à outra casa abandonada perto de mais uma cidadezinha. Este lugar agora é onde estão escondidos os outros vampiros, subordinados ao dono do carro em que estão viajando.

- Chegamos! (declara o sanguessuga-líder).
- Como sabe que é aqui? (indaga Barrattiel).
- Temos residências alternativas espalhadas por todo o país. Um vampiro esperto não depende só de uma fonte alimentar de humanos para viver!

Ele sorri, sai do carro e se dirige para a porta de entrada. Eliseu pousa próximo e fica visível novamente aproximando-se do veículo para conversar:

- Muito bem, pessoal! Esta é a nossa última parada antes de chegarmos a Tranquilópolis! Estou preocupado com você, Elisabeth! Você parece estar muito preocupada!
- Preciso pensar em diversas coisas. Tentar imaginar como seria se tivéssemos outra opção.
- Temos outra opção: fugir de Lúcifer o resto de sua vida. Você acha isso melhor do que uma guerra? Além do mais, você também teria que fugir junto conosco (comenta Eliseu, olhando na direção de Sanguinário), do contrário, Lúcifer nos encontraria.
- Tem razão, Eliseu! Esta opção não é nada boa! Talvez haja uma terceira possibilidade que ainda não avaliamos muito bem! (sugere Elisabeth).
- E qual seria?
- Assim que eu tiver certeza, te aviso! (declara a Curandeira).

O anjo protetor olha para ela, desconfiado do que está acontecendo na cabeça daquela jovem. Em poucos minutos o vampiro-líder sai da casa abandonada comentando:

- Tudo certo! Podemos ir embora. Meus servos voarão para Tranquilópolis hoje à noite. Vamos lá, então? Todos animados para morrer nas mãos do diabo?

Ao dizer isso ele entra no carro sob protesto de Elisabeth:

- Quando eu acho que você não conseguirá ser mais desagradável, você acaba me surpreendendo!
- Sua surpresa será maior ainda se eu cravar meus dentes em seu pescoço.

Ao dizer isso, Eliseu, ao lado do carro, o agarra pelo pescoço através da janela lateral e o ameaça:

- Olha aqui! Se pensar em tentar algo desse tipo... eu não me preocuparei em cair sobre você com a minha espada atravessando todo seu corpo.
- Você precisa parar de ameaçar seus companheiros de luta! Eles podem decidir ir embora, ao invés de te ajudar.
- Então pare de ameaçar Elisabeth! Senão eu posso desistir de você como parceiro!
- Seria uma ótima ideia! Eu lhe agradeceria muito por isso! (declara ironicamente o vampiro-líder).

Agora o sanguessuga acelera e pega a estrada em direção à próxima cidade, sob o olhar repreendedor de Eliseu, que fica novamente invisível, abre suas asas e voa atrás do veículo.

IV - A VIAGEM
XX - A FILA DA PROCURA
V - MAL ASSOMBRADA
XXI - BOA NOITE, CINDERELA
VI - BATALHA NOTURNA
XXII - FACÇÕES DA GUERRA
XXIII - NOVOS COMBATENTES
VII - PRIMEIRO ACORDO
VIII - A FUGA
XXIV - TRANQUILÓPOLIS
IX - VISITA INDESEJADA
XXV - A VIRADA
X - LANCHONETE
XXVI - A FROTA DO MAL
XXVII - SERES DA GUERRA
XI - A NOVA VIAGEM
XII - TÁBATA
XXVIII - A BATALHA FINAL
XXIX - A PAZ ETERNA
XIII - IMPASSE
PERSONAGENS
XIV - VERÔNICA
ANJOS, FADAS E BRUXAS
XV - SANGUINÁRIO
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* Drone é um pequeno veículo aéreo não tripulado ou controlado à distância. Ele normalmente possui câmeras o que ajuda o usuário a determinar o que está acontecendo por toda a região por onde ele está voando.
Henri Versiani
como Eliseu

Majorie Gerardi
como Elisabeth

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