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Introdução
XVI - O CONGRESSO DAS VASSOURAS
I - O CÉU
XVII - EXÉRCITO DE VIVENTES
II - O ANJO
XVIII - REENCONTRO
O Anjo-Vampiro
CAPÍTULO XXV - A VIRADA
III - O DOM
XIX - MAIS UMA NOITE
Na estrada o vampiro-líder está dirigindo de volta e reclamando do que aconteceu:

- Quem ele pensa que é...? Um anjinho minado que uma hora quer a minha ajuda, outra hora não quer mais... Eu devia ter dado uns sopapos naquele filhinho de papai do céu...! Tá pensando o quê...? E daria um sopapo também em Lúcifer se tivesse aparecido em minha frente...! Bando de anjos malucos...! Pensam que são donos do mundo...! Só porque Deus mora ao lado, pensam que são os maiorais...! Tá legal...! Ainda arranhou e amassou o teto do meu carro, e pra quê...? Que diabo!

Enquanto ele reclama, seu carro para sozinho de andar na estrada. O vampiro olha revoltado para o painel que indica que não tem mais combustível.

- Isso só pode ser brincadeira...! Não é possível...! Aquele bando de malucos até me fizeram esquecer de colocar combustível... Mas que droga!

Agora a noite cai e o relógio marca seis horas da tarde. Então ele começa a se transformar em vampiro. Seus músculos se avolumam, o rosto se alarga, braços e pernas se tornam poderosos. Suas unhas se transformam em garras afiadas. Os olhos ficam vermelhos! As asas negras se expandem e se espremem entre o banco e seu corpo até chegarem próximas aos joelhos. Os dentes caninos crescem até quase sair da boca. E como um tigre nervoso, o enorme vampiro abre a porta do carro e caminha até uma árvore próxima, onde desconta toda a sua raiva acumulada dos últimos dias. Ele arranca enormes lascas de madeira, cortando galhos grossos com golpes rápidos de suas mãos.

- Ele vai se ferrar lutando sozinho contra milhares de demônios... Lúcifer cortará Eliseu em pedaços e acabará com todos naquela cidade... Que desperdício de alimento...! É um anjo muito burro...! Sem mim e os outros vampiros..., eles morrerão depois do primeiro ataque.

Cansado e ofegante o vampiro-líder agora para e ouve um som familiar vindo do céu. Asas batendo ao longe, centenas delas. É o som característico das criaturas da noite. Ele olha para cima e uma grande quantidade de vampiros voam todos juntos em direção à cidade de Tranquilópolis.

- Desgraçados! Os outros vampiros-líderes conseguiram trazer diversos clãs adicionais para esta guerra! Vai ser duro explicar a eles que aquele anjo burro não quer mais a nossa ajuda!
O vampiro-líder para um pouco para pensar como falará isso aos outros de sua espécie, olha novamente para o céu e grita aos colegas:

- Esperem um pouco! Ouve uma mudança de planos!

Logo a seguir ele bate asas e voa em direção ao enorme grupo de sugadores de sangue... De volta à Tranquilópolis, Eliseu continua a gritar pelas ruas tranquilas do lugar, atrás do anjo Mickael:

- Onde está você? Apareça e fale comigo!

Por trás dele, uma mão segura-lhe o ombro. Eliseu gira rapidamente seu corpo, agarrando o braço daquele que o impede de continuar andando. É Mickael que parece não estar muito feliz em voltar a falar com seu rebelde funcionário celestial:

- O que pensa que está fazendo agora, Eliseu? Já não basta estragar o dia desta cidade, criar tumulto, trazer uma guerra para cá e ainda fica gritando meu nome por todo o povoado? O que quer agora? Derrubar-me?

- Acabo de conversar com três anjos protetores que queriam expulsar a mim e os que vieram comigo. Eles me disseram que existe algo sobre este lugar que eu não deveria saber.
- Aqueles três precisam de uma correção! Não deveriam ter ido até você.
- O que está acontecendo Mickael! Por que eu deveria ficar longe desta cidade. Dê-me uma boa razão para eu ir embora! Conte-me o que está acontecendo!
- Você não faz parte do conselho...
- ...Conselho de anjos! Eu já entendi esta parte! Mas se me der um bom motivo, posso até sair daqui agora. O que está acontecendo?
- Se eu te disser... você poderá por em risco o Firmamento.
- Como assim...? Por que eu faria isso...? Lúcifer não tem como subir ao céu depois que caiu! O caminho se fechou para ele e para Barrattiel...! A não ser... que esta cidade seja o caminho alternativo para o céu...

Mickael coloca rápido a mão na boca de Eliseu.

- Não diga isso...! Não pronuncie tal coisa jamais...! Estou a um passo de te destituir como anjo protetor de Elisabeth e mandar que volte ao Firmamento.
- É mesmo? E quem colocará em meu lugar? Até onde sei, não tem outro anjo disponível para protegê-la.
- Aqueles três te disseram isso também, não é?
- É! Eles disseram! Então... a guerra não pode acontecer em Tranquilópolis..., porque se perdemos... a porta se abrirá bem aqui... e Lúcifer poderá subir ao céu novamente?
-
Já disse para não repetir isso...! Qual é seu problema, Eliseu?
- Meu problema é que não fui informado sobre tantos perigos e problemas que existiam nesta missão.

- Se tivesse se limitado a cumprir a missão que lhe incumbi, escondendo Elisabeth cada noite num lugar diferente e não fazendo tanto alarde ao ir atrás dos inimigos da humanidade..., talvez estivesse tudo bem agora...! Mas não...! Você tinha que ter ideias diferentes sobre como agir neste caso, não é...? A missão de um anjo deve ser cumprida à risca...! Do contrário acontece isso: uma tragédia atrás da outra...! E agora estamos a poucas horas do fim do mundo e do Firmamento..., por sua culpa.

- O que quer que eu faça agora, Mickael...? Dentro de poucas horas Lúcifer saberá onde estamos.... Ele será avisado amanhã de manhã e terá que esperar até a noite para trazer seus demônios para cá! Mas desconfio que ele não esperará por isso! Virá sozinho e então poderemos juntos vencê-lo.

- Se eu lutar aqui contra Lúcifer, também cairei e não poderei mais vencê-lo!
- Então vamos atraí-lo para longe da vista dos humanos e assim nenhum de nós cairá em meio à luta.

- Lúcifer não é burro! Ele não cairia nessa armadilha! Jamais lutaria contra anjos longe dos humanos. Não percebe? A guerra nunca foi o caminho correto para os celestiais! A fuga era a sua missão, Eliseu, e com ela a certeza da paz eterna. Era a forma de driblarmos a profecia da Curandeira, até a morte de Elisabeth. Agora você pôs tudo a perder.

- Se tivesse me avisado antes..., talvez tudo fosse diferente.
- Caramba...! Você é um anjo protetor... Sabia de sua função junto à Elisabeth. Só não cumpriu seu dever. Preferiu ter novas ideias, mesmo depois de saber da profecia da Curandeira. Julguei você mal! Achei que estava à altura desta missão.

- E quanto à outra parte da profecia? (relembra Eliseu). Aquela em que os anjos desapareceriam junto com todo o mal sobre a terra, e os humanos viveriam em paz? Não vale a pena o risco de melhorarmos a vida da humanidade?

- Não sabe nada sobre a profecia. Ela não fala ao pé da letra o que acontecerá. Você nem imagina o que a profecia quer mesmo dizer. Agora todos nós pagaremos por sua ignorância!

- Não! Ninguém pagará por isso. Vamos vencer Lúcifer e tornar real a parte boa da profecia.
- Mesmo que consigamos a vitória, boa parte da humanidade pagará o preço mais alto, morrendo nas garras dos demônios. E depois disso os anjos cairão sob a ira de Deus! Você sabe o que terei que fazer agora? Tem alguma noção?

- Só consigo imaginar que resolveu me ajudar a lutar contra Lúcifer.
- Não! Errado de novo! Quando o momento chegar, você verá o que terei que fazer aqui. Será o início do fim das pessoas com dons na Terra!

O chefe dos anjos protetores vira-se de costas e começa a andar de forma acelerada, indo embora.

-
Mickael...! Mickael...! Volte aqui...! Precisa ser mais claro comigo...! Talvez possamos juntos encontrar uma saída para tudo isso...! Mickael...!

O chefe desaparece e voa para longe dali, para desânimo de Eliseu que está cada vez mais perdido sobre o que deverá fazer. Ele começa a andar de volta para o centro da cidade, quando encontra Elisabeth, Barrattiel e Sanguinário indo na direção contrária a dele.

- Eliseu?! Você está bem? (indaga Elisabeth). Parece abatido!
- Tudo bem! Eu acho! Onde estão indo agora?
- Até a pousada. Vamos alugar quartos para passarmos a noite. Quero tomar um banho e descansar até amanhã!

Tábata, a bruxa, agora aparece, caminhando na direção deles.

- Olá! Não sabia que já estava por aqui! (exclama Elisabeth ao "vê-la").
- Olá, Elisabeth! Eliseu, preciso falar com você! É urgente!
- Eu já vou até a pousada para ficar com vocês (declara o anjo protetor). Vou conversar primeiro com Tábata! Até já.

Os três se afastam e Eliseu aproxima-se de Tábata para que ela não precise falar alto.

- O que houve?
- Bruxos e bruxas já estão por aqui!
- Onde?
- Invisíveis! Não podemos chamar a atenção da população local.
- E onde passarão a noite?
- É apenas uma visita rápida! Eu já disse a eles que os vampiros não participarão mais da batalha. Ficaram mais aliviados.
- Mas...
- Não tem mas...! Quer dizer... só um...!
- E qual é?
- Eles querem o fim da perseguição dos anjos a nós e a liberdade de se mostrarem à humanidade. Querem que você garanta a nossa segurança entre os humanos.

- Acho que não estou entendendo! Depois dessa guerra só existem dois caminhos possíveis: a morte da humanidade ou o fim dos anjos e de Lúcifer. Não vejo como um futuro alternativo poderá acontecer da forma como vocês bruxos desejam.

- Aí é que você se engana! A profecia dos anjos não fala nada sobre uma intervenção mágica nesta guerra. Podemos mudar tudo!
- Como assim: tudo?
- Venha. Vou lhe apresentar um novo lugar mágico.

Ao dizer isso, Tábata coloca a sua mão no ombro de Eliseu e os dois desaparecem dali, reaparecendo num mundo alternativo, onde tudo aparece de forma holográfica: pessoas, casas, carros e objetos. As pessoas caminham calmamente pelas ruas, num lugar muito parecido com Tranquilópolis, mas sem as montanhas ao redor.

- O que é isso? Onde estamos? (indaga o anjo protetor).
- Bem vindo a um mundo alternativo. Bruxas de alto poder mágico, como eu, podem acessar níveis superiores de realidade. Mas nunca consegui ir tão longe como aqui! Em minha mente sempre apareciam fragmentos deste lugar, mas eu nunca consegui acessá-lo de forma tão plena como agora!

- Mas... onde fica isso...?
- Aqui é Tranquilópolis, mas uma que está acima destas montanhas!
- O quê? Como assim? (indaga Eliseu a Tábata).

- Deixe-me tentar te explicar, Eliseu! Fadas e Anjos podem viver num mundo espiritual que não é acessível pelos humanos. Mas um feitiço especial pode quebrar este regra e me transportar para cá! Este parece ser um lugar intermediário entre o Firmamento e a Terra.

- Mas... e estas pessoas? Quem são?
- São pessoas de todo mundo! Pessoas com dons! Acho que elas nem sabem que parte de seu espírito habita este lugar. Parece que o lado inconsciente humano, não avisou ao outro lado consciente que existe este mundo! Estas pessoas têm um pé no céu e outro na terra.

- Isso é incrível! Por que será que este lugar alternativo existe?
- Se este lugar é para apenas os que têm um dom, o que me parece, Eliseu, é que estas pessoas tem uma função muito específica para o futuro da humanidade.
- Você tem razão! Todos os anjos foram pessoas que tinham dons! (relembra Eliseu). Então este lugar... foi onde fiquei... antes de ser o que sou hoje! Mas eu não me lembro daqui!
- Parece que Deus está preocupado apenas com as pessoas especiais, enviando anjos para protegê-las e deixando o restante da humanidade como comida de vampiros! (declara a bruxa).
- Mas..., então Tábata..., o que a profecia da Curandeira quer dizer quando fala no fim da existência dos anjos? Significa o início... de uma nova raça humana?
- Não sei...! Talvez...! Vivendo neste lugar... as pessoas estarão livres de demônios, vampiros, fadas e bruxas! Todos aqui são iguais..., sem ódio..., só esta paz eterna...!
- Ainda estou tentando entender como isso funciona! Será que posso esconder Elisabeth neste lugar e acabar com a guerra que nem começou?
- Vai com calma, anjinho...! Acabei de descobrir tudo isso... Ainda sei pouco sobre este lugar...
- Mas como você acha que pode mudar tudo e ainda dar aos bruxos o que me pedem? Não entendo.

- Estou estudando um meio de nós bruxos vivermos todos aqui... junto com as pessoas que tem outros dons. Se eu puder manter você conosco, para nos proteger dos humanos com dons, então teremos um novo lugar para vivermos todos longe de Lúcifer, dos demônios e dos vampiros.

- Tábata... Já tenho coisas demais para pensar..., problemas demais para resolver..., uma guerra quase impossível de vencer a poucas horas de distância de todos nós, e parceiros limitados para me ajudar... Não terei tempo e nem espaço para pensar sobre este lugar...!

- Fique tranquilo! Vou resolver tudo isso aqui em cima! Depois te aviso se conseguir alguma coisa viável! Mas precisa me prometer que você fará a ponte de mediação igualitária entre bruxas e humanos com dons neste novo mundo.

- Não sei como tudo terminará, Tábata! Não posso prometer algo que nem é ainda possível. Se eu vencer e sobreviver àquele anjo-vampiro... voltaremos a conversar.
- Tudo bem! Já é um bom começo de negociação.

Agora três anjos holográficos caminham na direção do casal intruso e sacam as suas espadas para atacá-los. Tábata rapidamente coloca uma das mãos no ombro de Eliseu e ambos desaparecem dali, reaparecendo na cidade real de Tranquilópolis novamente.

- Os anjos já estão lá em cima! Que droga! (declara Tábata).

Agora os mesmos três anjos surgem da invisibilidade e aparecem caminhando na direção da bruxa e de Eliseu, mas desta vez sem as espadas.

- Acho que estamos encrencados! (declara Tábata, que se esconde atrás de Eliseu e desaparece a seguir).
- O que vocês pensam que estão fazendo, agora? (indaga um dos três anjos).

Eliseu olha para trás e não vê mais a bruxa, quando comenta consigo mesmo:

- Que beleza! Agora virou um assunto só de anjos!
- Onde está a mulher que estava com você? (indaga um dos três anjos).
- Acho que ela se assustou com as espadas brilhantes e ameaçadoras que nos apontaram!
- Eliseu! Você só criou problemas, desde o momento em que chegou até aqui. O que pensa que está fazendo invadindo locais que não te pertencem?

- Olha! Eu não sei o que vocês estão fazendo aqui em baixo e lá em cima..., mas se todos estes segredos estivessem mais bem guardados... eu não descobriria tantas coisas num único dia. E se eu posso fazer isso..., Lúcifer também poderá.

- Se tivesse ficado longe daqui, Lúcifer estaria tão preocupado em caçar você e sua protegida que jamais descobriria o estamos tentando esconder (declara um dos anjos).
- Tá legal (concorda Eliseu). Acho que todos temos a nossa parcela de culpa...! Deveríamos nos retratar uns aos outros antes de recomeçar tudo do zero.
- Não vamos começar nada do zero! Esta confusão foi você quem criou! (declara um dos anjos).

- Não! Não é bem assim...! (relembra Eliseu). Mas isso agora não importa mais... O destino nos trouxe até aqui e nos uniu de uma forma inesperada..., diante de um dilema e muitos segredos... Precisamos de uma estratégia conjunta para vencer nosso inimigo comum.

- Não sabe do que está falando. Você é mais cego do que a sua protegida.

Eliseu coloca a mão no interior de seu casaco, pronto para sacar a sua espada e atacar aqueles três, quando uma voz suave e feminina fala com ele dentro de sua mente:

- Não faça isso, Eliseu! O futuro é mais importante do que o presente. Não lute agora!

O anjo protetor reconhece aquela voz. É a fada-rainha Verônica falando com ele. O Eliseu atende ao pedido, retirando a sua mão do interior do casaco, sem trazer junto sua espada brilhante, para alívio dos outros três anjos, que também estavam prontos para sacar as suas armas.

- Não invada novamente aquele lugar, Eliseu! (ameaça um dos três). Aquilo não te pertence, nem está disponível para anjos fora do conselho celestial. Lá podemos lutar sem perdermos o nosso status de anjo, então, não vacilaremos em acabar com você se insistir em invadir o local.

Os três desaparecem, deixando Eliseu sozinho momentaneamente Agora a bruxa Tábata reaparece atrás dele, comentando:

- Acho que os bruxos também não serão bem vindos ao mundo novo! Parece que teremos que lutar aqui e lá também para sobrevivermos.
- Uma guerra de cada vez, Tábata! Vamos montar a nossa estratégia para enfrentar Lúcifer.
- Está bem! Venha comigo (convida a bruxa, que coloca novamente a mão no ombro do anjo e os dois desaparecem).

Os dois ressurgem na entrada da cidade. Ali Eliseu enxerga ao menos uma dúzia de bruxos e bruxas. Ele olha ao redor e vê a população saindo às ruas para se abraçarem e se cumprimentarem todos felizes e alegres.

- Aquelas pessoas não estão nos vendo aqui? (indaga o anjo).
- Não! Estamos todos invisíveis para eles (informa Tábata).
- E onde estão os outros bruxos e bruxas?
- Somos só nós! (informa Vilma, uma das bruxas).

Eliseu olha para eles com a nítida decepção de alguém que esperava mais do que vê.

- Não se engane, anjo! (avisa Silvestre, outro bruxo). Somos a nata de nossa espécie. Juntos poderemos colocar de joelhos até mesmo o mais cruel dos anjos.

- Vocês são apenas humanos e não uma espécie diferente... E eu não quero colocar Lúcifer de joelhos..., precisamos destruí-lo e ao seu exército... Até porque..., mesmo ajoelhado..., aquele anjo-vampiro pode matar qualquer um de nós com facilidade... Qual é o plano de vocês...? Como irão ajudar nesta guerra...?

- Ficaremos na retaguarda, aqui mesmo, em frente à entrada da cidade (declara Suelen, outra bruxa). Criaremos uma magia que dificultará a entrada dos demônios. Se algum conseguir passar... será apenas um de cada vez. E você o destruirá.

- Mas e Lúcifer? (indaga Eliseu). Ele não precisa passar por este túnel. Assim como vocês bruxos, ele pode simplesmente aparecer atrás de mim e acabar comigo.

- Eu criei uma poção de proteção para você! (declara Tábata). É um campo de força! Caso a espada do "coisa ruim" tente lhe ferir. Isso lhe dará uma sobrevida temporária ao lutar contra ele. Mas tem um problema!

- Sempre tem...! E qual é...?
- A poção só suporta três ataques diretos contra seu corpo. E como numa luta olímpica de esgrima..., você precisará se desviar para não perder pontos, que lhe custarão a vida no quarto golpe.
- Entendi! Mas quando eu estiver lutando contra Lúcifer, quem impedirá o avanço dos outros demônios pela entrada do túnel? (relembra Eliseu).
- Esperamos que seu amigo Barrattiel cumpra esta função (informa Elvira, outra bruxa).
- Não sei por quanto tempo ele poderá suportar uma luta atrás da outra. Barrattiel não é mais um anjo!

- Esse é o nosso plano! E e só o que podemos fazer (encerra o assunto Rosa, outra bruxa). Estaremos todos ocupados, usando a nossa magia para bloquear a entrada do túnel. Mas você prometeu a Tábata que traria mais anjos para o combate. Onde estão eles?

Eliseu pensa um pouco e responde à questão:

- Eles estão por aqui e nos ajudarão na hora certa.
- Não é o que vi agora pouco, Eliseu! (declara Tábata).

Eliseu olha na direção de Tábata e apresenta seu ponto de vista:

- Quando a batalha começar, os outros anjos protetores ficarão em posição para impedir que Lúcifer e seus demônios ataquem os moradores de Tranquilópolis.

- Só isso? (indaga Vilma). E assim que eles irão ajudar? Defendendo apenas seus protegidos?
Eliseu olha ao redor para as altas montanhas que os cercam e responde à Vilma:

- Considerando que estamos no interior de uma panela de pressão..., acho que a ajuda deles será suficiente, no caso de Lúcifer ou algum demônio tentar destruir a cidade.
- Então, até você ser morto e nós falharmos em segurar a entrada do túnel, os outros anjos ficarão só olhando? (indaga Silvestre).

- São anjos protetores e espero que isso fale mais alto. Afinal... se falharmos aqui..., a guerra chegará até eles e seus protegidos... Espero que o bom senso celestial impere no momento mais crítico de nossa luta.

- O problema é que talvez nenhum de nós esteja vivo para ter certeza disso! (declara Tábata).

- Ao menos teremos enfraquecido o inimigo, dando mais chance aos outros anjos de vencerem a guerra (relembra Eliseu o motivo pelo qual estão lutando: a derrota de Lúcifer).

Agora um som forte, de uma enorme pedra se arrastando pelo asfalto, vibra por toda a cidade. Eliseu olha para trás e percebe que uma porta gigantesca está fechando a passagem de saída da cidade. Ele arregala os olhos e não entende como isso pode estar acontecendo.

- São vocês que estão fazendo isso? (indaga o anjo a Tábata).
- Não!? Claro que não!!
- Então quem... (interrompe a frase Eliseu, olhando para trás e vendo Mickael aparecer voando com sua espada nas mãos e bem diante da população humana local). Mas o que é que ele está fazendo?

-
Povo de Tranquilópolis! (grita Mickael olhando na direção da população assustada com o túnel sendo fechado e com a presença de um homem voando com uma espada luminosa). Peço que se acalmem! Está tudo bem! Eu sou um anjo e estou aqui para protegê-los. De fato, eu e outros anjos já estamos acompanhando-os há muito tempo.

- Ele está se expondo! Vai perder o acesso ao Firmamento (declara, Tábata).

-
Vocês todos estão aqui por um motivo! (continua gritando ao povo, Mickael). Deus os escolheu ao lhes presentear com dons especiais. Vocês são as pessoas mais importantes da humanidade atual! E esta cidade foi construída especialmente para abrigá-los e protegê-los de todo mal. Mas hoje ainda... o mal virá com toda a força para cá! E nós, anjos, vamos ajudá-los a sobreviver. Antes do perigo chegar lá fora, vamos mostrar a vocês um lugar especial onde ficarão seguros até que tudo passe.

Eliseu olha na direção de Tábata e percebe que a cidade espiritual, que os dois visitaram a pouco, será o refúgio para que Lúcifer não encontre nem os anjos e nem os moradores locais.

- Mickael e os outros anjos usarão o mundo paralelo, que vistamos a pouco, como acesso para voltar ao Firmamento e assim poderão recuperar seus status de anjos novamente (percebe Eliseu). É uma trapaça! Eles podem cair e se reerguer.

- Então... se Lúcifer descobrir isso... (declara, assustada, Tábata).
- O inferno ampliará seus domínios até junto de Deus... (complemente Eliseu).
- Os outros anjos não irão nos ajudar! Irão se esconder! (observa Silvestre, o bruxo). Covardes.

Enquanto isso Mickael continua seu monólogo com a população local:

-
Quero que vocês caminhem até a pousada e lá outros anjos lhes ajudarão a fazer a travessia.

Atônitos, os humanos com dons caminham sem entender muito bem o que está realmente acontecendo.

- Droga! (declara Eliseu). Vamos precisar dos vampiros para ter uma chance de sobreviver!

-
Vampiros?! Não lutarei junto com aquelas coisas! (declara Vilma, a bruxa).
-
Eu também não lutarei junto com eles! (confirma Rosa, a outra bruxa).
-
Não é hora para isso! Estamos em desvantagem numérica e precisamos de mais ajuda (declara Eliseu).

- Calma! Podemos ir todos nós para o mesmo lugar que os anjos estão indo agora.

- Não, Tábata! Se deixarmos a cidade abandonada, Lúcifer poderá descobrir o acesso para lá também. Só estaríamos levando esta guerra para um nível diferente... Mas tudo bem...! Vocês bruxos podem ir embora! Eu enfrentarei Lúcifer e seus demônios. Se eu perder ele irá embora daqui.

- Está brincando! Sozinho não terá nenhuma chance!
- Eu criei esta guerra... e vou acabar com ela...!
- Não! Não deixarei que lute sozinho. Ficarei com você! (declara Tábata, para espanto dos outros bruxos).
-
Não pode, Tábata! (grita Vilma). Isso é suicídio!
- Vou usar tudo o que tenho para destruir os demônios, se eles entrarem aqui.
- Está pensando em usar o poder mágico total? (indaga Silvestre).
- Sim! Milhares de demônios morrerão de uma só vez (relembra Tábata).
- Mas você ficará sem poderes mágicos depois disso e bastará um único demônio vivo para acabar com a sua vida logo depois! (relembra Suelen, outra bruxa).
- É a única forma de dar uma chance a Eliseu! (informa Tábata).
- Por que está fazendo isso, Tábata? (indaga Vilma). A sua vida não vale uma guerra, onde nem os outros anjos têm a coragem de lutar.
- A minha consciência está me ordenando fazer isso! Não posso abandonar o que considero ser o certo, mesmo que eu morra depois.

Alguns segundos de silêncio e a consciência começa a pesar entre os bruxos.

- Eu ficarei com vocês! (declara Vilma). Não posso deixar que se sacrifique desse jeito. Você é minha amiga.
- Eu também ficarei (declara Elvira).
- Nós também (concordam outras duas).

Um após o outro, bruxos e bruxas vão concordando em ficar e lutar, até restarem apenas Suelen, Rosa e Silvestre sem confirmarem nada.

- E então? Juntem-se a nós! (pede Tábata). Sem vocês será muito difícil vencermos esta luta.
- Mesmo que todos nós apoiássemos este... "suicídio coletivo"... não teremos a menor chance nesta guerra (declara Silvestre).

- A situação mudou, Silvestre (relembra Tábata). Vamos reforçar com magia a entrada deste túnel. Assim protegeremos ainda mais esta rocha que selou a passagem dos demônios. Eles não conseguirão passar por aqui. Estaremos seguros. Somente Lúcifer poderá entrar e assim juntos poderemos vencê-lo.

- Lúcifer não é bobo! (relembra Eliseu). Quando ele vir a entrada do túnel selada, desconfiará que isso aqui não foi obra da humanidade, mas sim dos anjos e perceberá que aqui dentro poderá ter uma armadilha para pegá-lo. Ele não nos enfrentará sozinho!

- Então... o que acha que ele fará? (indaga Tábata).
- Não tenho a menor ideia (declara Eliseu, suspirando preocupado).

Ao fundo Elisabeth, Sanguinário e Barrattiel descem a rua principal correndo, na direção contrária da população que mora em Tranquilópolis. Eliseu percebe o problema e Tábata toca em seu ombro para ele poder ir até sua protegida sem ficar invisível. Seu corpo reaparece na entrada da cidade e rapidamente o grupo se reencontra:

-
Eliseu! Eliseu! Os anjos nos expulsaram da pousada. O que está acontecendo agora? (grita Elisabeth).
- Expulsaram?! Por quê?
- Não nos disseram o motivo. Só declararam que aquele lugar pertencia aos cidadãos daqui.

Eliseu corre na direção de Mickael que comboia os moradores de Tranquilópolis na direção da pousada.

-
Mickael! Mickael! Estou falando com você! Olhe para mim!

O chefe-anjo vira-se de frente para Eliseu com olhar de reprovação.

- Por favor, leve Elisabeth, Sanguinário e Barrattiel com você.
- Não vou com eles, Eliseu! (declara Barrattiel). Ficarei com você e enfrentarei Lúcifer!
- Eu também não vou! Quero ficar com você! (declara Elisabeth ao seu protetor).
- Sinto muito! Seus protegidos são problemas seu! (relembra Mickael).
- Leve ao menos Barrattiel, e lhe dê uma nova chance como anjo (declara Eliseu a Mickael). Eu precisarei de ajuda aqui.
- Como assim? (indaga o anjo de apoio, Barrattiel). Quando um anjo cai, acabou! Não é?!

- Não posso fazer isso, Eliseu! (afirma Mickael). Faça o que puder..., mas não deixe Lúcifer vencê-lo e nem levar Elisabeth. Esta é a sua missão. Apenas cumpra-a. E leve esta guerra para longe daqui.

- Mas como?! Você fechou o túnel! (relembra Eliseu).
- Os bruxos podem levar todos vocês embora (informa Mickael). Faça com que Lúcifer o siga e o despiste para o resto da vida de seus protegidos. Você ainda pode cumprir a sua missão de forma correta.

Agora Mickael, ainda em voo estático a uns dois metros do solo, se afasta com a espada em punho.

- O que está acontecendo, Eliseu? (indaga Barrattiel). Por que Mickael e os outros anjos se mostraram aos moradores daqui? Agora eles também caíram. E que história é essa de que um anjo caído pode se reerguer?

- Longa história, meu amigo! Longa história! (declara Eliseu, observando a partida da população local). Temos a noite de hoje para conversarmos sobre tudo isso.

IV - A VIAGEM
XX - A FILA DA PROCURA
V - MAL ASSOMBRADA
XXI - BOA NOITE, CINDERELA
VI - BATALHA NOTURNA
XXII - FACÇÕES DA GUERRA
XXIII - NOVOS COMBATENTES
VII - PRIMEIRO ACORDO
VIII - A FUGA
XXIV - TRANQUILÓPOLIS
IX - VISITA INDESEJADA
XXV - A VIRADA
X - LANCHONETE
XXVI - A FROTA DO MAL
XXVII - SERES DA GUERRA
XI - A NOVA VIAGEM
XII - TÁBATA
XXVIII - A BATALHA FINAL
XXIX - A PAZ ETERNA
XIII - IMPASSE
PERSONAGENS
XIV - VERÔNICA
ANJOS, FADAS E BRUXAS
XV - SANGUINÁRIO
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