O BARCO INVISÍVEL - MISSÃO-FANTASMA - VOLUME I
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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO X
A INVASÃO DO PERU


Duas horas depois eu, Fernando, estou ajudando na colagem final das últimas unidades de papel-alumínio na parte interna da embarcação, que esperamos agora torne o barco totalmente invisível aos satélites militares norte-americanos.

Estamos eu, Sabino e Everardo no último andar da embarcação e, no momento em que estamos finalizando todo o trabalho, o comandante Severo entra em contato conosco, fala através dos alto-falantes no terceiro andar onde estamos agora:

- Olá pessoal! Temos um novo problema!

- O que houve, senhor? (indaga o cabo Sabino).

CAPÍTULO I
A MISSÃO-FANTASMA

CAPÍTULO II
A BASE DE OPERAÇÕES

CAPÍTULO III
A VISÃO DO INVISÍVEL

CAPÍTULO IV
NAUFRÁGIO NOTURNO

CAPÍTULO V
O ATAQUE DOS FANTASMAS

- Os Estados Unidos nos deram um ultimato. Temos poucos dias para levar o barco invisível até o canal do Panamá ou sofreremos um embargo econômico e político. De forma invisível teremos que aproveitar a passagem de outros barcos, pelas eclusas* daquele país. Depois atravessaremos o Oceano Pacífico para chegar até a Coreia do Norte pelo lado oeste em poucos dias.

- Mas senhor! Precisamos ir até o Peru! Nosso contato está lá infiltrado! Temos que salvá-lo! (declaro eu).
- Vamos partir agora em velocidade máxima para lá, destruir os inimigos e resgatar nosso homem. Temos só seis horas para completar esta missão. Já estamos reinicializando todas as operações da embarcação aqui em Brasília!
- Estamos quase acabando o trabalho e depois nós iremos... (comenta Sabino, quando é novamente interrompido pelo comandante).
- Não há tempo, cabo! Liberem imediatamente os quatro soldados que estão no interior da embarcação para que possamos partir dentro de dez minutos..., nem um minuto a mais!
- Sim, senhor (responde Sabino olhando para mim e Everardo, preocupado com a nova situação em que nos encontramos agora).

Nove minutos depois os quatro militares, que nos ajudaram no transporte e colagem do papel-alumínio na superfície interna da embarcação, já estão do lado de fora do barco invisível e com suas mochilas nas costas. Everardo está no topo da escada naval despedindo-se deles:

- Vocês ficarão bem neste lugar..., sozinhos?
- Não se preocupe, cabo! Estudamos este local durante a vinda para cá! São apenas uns três quilômetros de caminhada até a entrada do aeroporto internacional de Tabatinga. Vamos seguir a pé por esta estrada e daqui a pouco estaremos de volta a Brasília. Ficaremos bem! Bom trabalho para vocês! Acabem com todos os inimigos logo!

Everardo finaliza a despedida quando a embarcação ergue-se do solo com um forte jato de ar para baixo. O sistema hovercraft é acionado! Um pó fino domina todo o ar local, devido às fortes hélices do barco, forçando os quatro soldados em terra a cobrirem seus olhos.

- Faremos isso, amigos! Boa sorte para vocês também! (grita Everardo aos quatro colegas militares).

Ele entra na embarcação. A porta de saída do barco se fecha. Os degraus se articulam de volta para a superfície da parede inclinada externa da embarcação. O barco, agora totalmente invisível, entra nas águas do Rio Solimões em direção ao interior do Peru.

O soldado Carlos - o cineasta, trabalhando em Brasília na base secreta da marinha, libera novamente, através de seu avatar na cabine de comando da embarcação invisível, a imagem da lancha com as duas belas mulheres a bordo. Não há tempo para invadir o território vizinho de forma discreta. É preciso fazer isso rapidamente.

No andar de cima Everardo e Sabino trabalham rapidamente trocando as peças ruins do soldado-aranha danificado. Alguns quilômetros, já dentro do país vizinho, uma embarcação militar, identificada pelo satélite militar brasileiro, está se aproximando:

- Senhor! Uma fragata peruana vem em nossa direção! (informa o soldado Ricardo, responsável pelos sinais de radar e câmeras térmicas).
- Não temos escolha, soldado! (declara o comandante). Vamos nos arriscar com a imagem das garotas na lancha!
- E se eles atirarem em nós, senhor? (questiona o tenente Júlio, responsável pelo controle das armas do barco invisível).
- Vamos aguardar, tenente, e torcer para que isso não aconteça. Não queremos lutar contra eles. Não é por isso que estamos invadindo o território vizinho.

Em poucos minutos lá estamos nós, próximos de passar em alta velocidade pela fragata militar peruana. A imagem de duas garotas pilotando uma lancha teria que ser suficiente para enganar nossos hermanos. Lá de Brasília, na base secreta da marinha, o soldado João, responsável pelo controle das câmeras externas de vigilância do barco, mostra em
close-up** o rosto de alguns soldados peruanos no convés da fragata de guerra.

É possível perceber que estão de binóculos olhando em nossa direção e sorrindo, porque imaginam que existam duas beldades na lancha virtual. Agora eles acenam para nós e usam o sistema de megafone, nos pedindo para parar!

- Senhor! Estão requisitando que paremos! (comenta a piloto e major Margarida).
- Vamos embora, major! Não poderemos parar! (declara o comandante).

- Estão fazendo mira na popa (a parte de trás da embarcação) de nosso barco, senhor! (declara o soldado João, responsável pelas câmeras externas de vigilância). Parece que querem dar um tiro de advertência na água para que paremos, mas eles irão acertar em nós, senhor!

- Manobras evasivas, piloto! (fala o comandante para a Major Margarida, que pilota o barco invisível). Vamos escapar desse tiro, agora!

Mas já era tarde! O tiro de aviso é disparado e acerta em cheio a nossa embarcação, bem na parte traseira (na popa) furando o casco que se encontra sob a água. Imediatamente no painel da sala de controle dos avatares um sinal sonoro e luzes vermelhas entram em ação, informando que algum dano ocorrera!

Nosso barco invisível balança forte lateralmente, para esquerda e para direita, e ergue-se ligeiramente das águas do rio. Eu, Fernando, tive que me apoiar nas paredes próximas a mim com o forte movimento que acontecera! O mesmo movimento aconteceu com a cópia do barco lá na sede secreta em Brasília!

- O que foi isso? (indago eu, Fernando, já apavorado com a nova situação).

-
Liberar a imagem de destruição da lancha! (ordena o comandante). Reduzir a velocidade da embarcação invisível! Cancelar o funcionamento do motor de popa! Acionar o motor central para continuarmos navegando em marcha lenta em direção ao nosso destino! Rápido pessoal!

Aos olhos dos militares da fragata peruana é como se a imagem projetada da lancha com as duas garotas tivesse explodido com aquele tiro de aviso. O soldado João ainda estava monitorando o rosto dos marinheiros peruanos em close-up. Pude perceber na tela de TV a expressão de espanto dos militares peruanos. Foi desolador! Eles não esperavam que um tiro de aviso explodisse a pequena embarcação.

Ficaram nitidamente constrangidos com a cena terrível. A fragata manobra cento e oitenta graus para se aproximar do local onde supostamente a lancha teria explodido. Enquanto isso nosso barco anda em marcha lenta em direção ao interior do Peru. O comandante dá nova ordem, agora para Everardo, que se encontra à disposição na sala de manutenção.

- Cabo Everardo! Como está o conserto do soldado-aranha danificado?
- Está tudo bem, senhor! Mais alguns minutos eu e Sabino terminaremos tudo aqui!
- Sabino pode finalizar o trabalho sem a presença do cabo Everardo?
- Sim, senhor! Agora está quase tudo pronto! (responde Sabino).
- Certo! Everardo! Cheque como está sendo feito o reparo automático do casco danificado no andar inferior.

Leve nosso jornalista Fernando para o andar inferior e mostre a ele como isso funciona! Veja se nada além da parede externa inferior teve problemas por lá. Faça um check-up completo no local!

- Sim, senhor! (declara Everardo, via rádio).

Como eu, Fernando, estava ali na sala de controle, acompanhando o desenrolar de toda a ação, entendi o recado do líder da equipe e me desloquei pelo corredor diretamente para a sala de manutenção.

- Já estou indo para lá, senhor! (declaro eu).

Ao chegar à sala de manutenção, Everardo já estava acabando de se vestir com uma roupa especial de proteção contra uma possível radiação.

- Precisa disso tudo para ir lá para baixo? (questiono eu).
- Vamos para um local onde pode haver radiação (declara Everardo). Não sei se o propulsor nuclear foi atingido com o tiro! Precisamos tomar cuidado! Já separei outra roupa igual para você. Está aqui! Vista-a... e vamos descer.

Começo a me vestir com aquela roupa grossa e pesada! Aproveito para indagar meu colega sobre o que aconteceu:

- Por que a embarcação chacoalhou daquele jeito? O tiro foi tão forte assim?
- Quando o casco desta embarcação é rompido um sistema de dezenas de bolsas pneumáticas é acionado, elevando a embarcação ligeiramente acima d’água! Isso dá o tempo suficiente para que o conserto automático seja feito.

- Conserto automático?!?! Como isso funciona?
- Você já vai ver, Fernando! É um conceito novo e muito interessante para evitar que uma embarcação afunde por causa de um pequeno furo!

Agora eu termino de me vestir. Everardo faz um check-up rápido e confirma que minha roupa está corretamente colocada. Ele pega um
Contador Geiger* e o liga. O nível de radiação interno da embarcação é normal e não há prejuízo para a saúde. Logo depois o militar abre a grossa tampa metálica que dá acesso ao andar inferior. O contador Geiger nada registra de variação extra depois disso.
CAPÍTULO VI
UMA AMEAÇA INVISÍVEL

CAPÍTULO VII
A ÉTICA ASSASSINA

CAPÍTULO VIII
MOTIM

CAPÍTULO IX
NA LINHA DE FRENTE

CAPÍTULO X
A INVASÃO DO PERU

PERSONAGENS DESTE LIVRO/
CONCEITO DE INVISIBILIDADE

* Eclusa ou comporta é uma instalação hidráulica produzida de tal forma que permite que barcos sejam erguidos ou descidos em locais onde existem desníveis de uma região para outra de um rio, vencendo cascatas ou quedas d’água como é o caso do Panamá. Assim o Oceano Atlântico foi conectado ao Pacífico.
** Close-up é quando uma câmera de vídeo utiliza o zoom para aproximar mais a imagem que se está mostrando.
* Contador Geiger é um instrumento que detecta a presença de diversos tipos de radiação como os raios-X e raios gama, presentes em um vazamento de radiação nuclear.
- Por enquanto está tudo bem! (declara o cabo). Fernando! Feche esta tampa depois de descer! Não queremos que a radiação, se houver, se espalhe por toda a embarcação.

Lentamente, por causa das roupas pesadas e do contador Geiger numa das mãos, Everardo desce a escada vertical de alumínio! Vou logo atrás dele e fecho a tampa de entrada. Ao chegarmos lá embaixo, já no piso inferior, olho ao redor e percebo que estamos dentro de um cilindro grosso de proteção. O militar abre agora uma nova porta de aço e olha para o medidor de radiação. Nada ainda é registrado.

- Estamos bem, Fernando! Aparentemente não houve vazamento de radiação! Vamos continuar avaliando antes de retirarmos estas roupas.

Começamos a andar lentamente por ali e as luzes internas do andar se acendem sozinhas. O piso está coberto com uns cinco a dez centímetros de água do rio. O local é barulhento, por causa dos enormes motores elétricos em rotação contínua. Um lugar que deveria ser muito quente, mas incrivelmente era bem frio! O motivo é mais uma nova revelação prestes a me ser feita! Algo que eu nem imaginaria ser possível!

Aproximamo-nos do reator nuclear central, que é o sistema de propulsão da embarcação. Everardo olha tudo ao redor com o medidor nas mãos e nenhum sinal prejudicial é mostrado. Um alívio para todos nós! De repente percebo alguma coisa que se rastejou pelo chão encharcado entre o propulsor e um armário lateral, junto ao casco. Também ouvi o estranho barulho “daquilo” se movimentando!

- Everardo! Tem alguma coisa viva aqui dentro! Será algum animal que penetrou pelo furo do casco?

O cabo sorri para mim e comenta:

- Não, Fernando! O que você viu é um dos membros da equipe do conserto automático de vazamento do casco!
- O quê?!?! Membro da equipe de conserto?!?!
- Sim! Venha ver!

Everardo vai na frente e aponta para a parede externa danificada atrás do armário. Eu me aproximo, muito curioso para saber o que está acontecendo ali, e vejo..., pasmem..., três pequenos robôs no local! Eles são similares aos soldados-aranhas que estão lá em cima no terceiro andar do barco. Os pequeninos têm o tamanho aproximado de uma caixa de sapatos, com quatro braços e seis pernas!

Um verdadeiro “monstrinho” mecânico trabalhando no local! Mas algo me chamou ainda mais a atenção: uma fumaça gélida saindo do interior do rombo feito no casco pela artilharia peruana. Era uma fumaça pesada e espessa que vinha em direção aos nossos pés. Parecia... gelo seco!?!? No casco danificado vi uma grossa parede com camadas de diferentes materiais.

A externa e a interna pareciam ser de chapas de alumínio bem grosso. Internamente percebi outras camadas de produtos que não reconheci. Bem no meio havia uma espessa parede esbranquiçada que parecia ser... gelo?!?! Pelo furo é possível ver as águas do rio passando sob a embarcação!

- Everardo! Do que é feita a parede externa deste barco? (indago eu, Fernando).
- A parede externa do casco inferior desta embarcação é feita de vários materiais. O interior é gelo puro!
- Não pode ser verdade! Eu achei que fosse isso mesmo, mas não acreditei nisso!
- Nós sabemos que a densidade do gelo garante que ele não afunde quando dentro d’água. Por isso fizemos todo o interior deste casco duplo com este material, mantido no estado sólido pelo frízer alimentado pelo nosso propulsor nuclear.

As outras camadas do casco são de alumínio naval e películas que não deixam o gelo grudar nas duas outras camadas que são mantas à prova de balas, para armas de grosso calibre. Os peruanos utilizaram um armamento ainda mais pesado contra nós e por isso o casco não aguentou o impacto.

- Impressionante, Everardo!
- Ahhh! Veja isso agora, Fernando! Você irá gostar.

Um dos robozinhos introduz no buraco um tipo de pequeno guarda-chuva que está fechado neste momento. Uma vez posicionado para o lado de fora da embarcação, ele é então aberto e puxado lentamente de volta para dentro. A parte circular daquele miniguarda-chuva apoia-se pelo lado de fora, grudando-se no casco e impedindo o retorno do conjunto para o interior da embarcação.

A vareta do dispositivo é então facilmente arrancada dali pelo robozinho, ficando apenas a parte circular do guarda-chuva colada no local, vedando o furo pelo lado de fora da embarcação. Aquele primeiro robô se afasta dali e outro se aproxima, injetando uma pequena quantidade de um produto pastoso no interior do casco danificado.

Agora este também se afasta para que o terceiro minitrabalhador mecânico se aproxime, abrindo um diferente tipo de miniguarda-chuva no local. Ao fazer isso a parte circular de tal dispositivo cola-se agora pelo lado de dentro do casco! Isso veda de vez todo o local, deixando um espaço vazio no interior do casco danificado.

- Everardo! Explique-me uma coisa: o que estes robôs fizeram irá vedar com segurança o casco? (indago eu).
- Sim, Fernando! O produto que introduziram ali irá se expandir até vedar por completo o local. Depois com o frio intenso do gelo ao redor o produto que se expandirá, vai se transformar também em gelo, vedando perfeitamente o casco.

Quando pararmos o barco para uma manutenção, recortaremos toda esta sessão para a colocação de novas placas de alumínio e camadas à prova de balas.

- Mas como é possível que não entre água aqui dentro, enquanto o conserto está sendo feito?

- Quando um tiro fura o casco o computador detecta que a água está entrando e ativa um dispositivo de segurança.
São flutuadores disponíveis sob a estrutura externa e ao redor de toda a embarcação, erguendo-a de forma a retirar o barco inteiro da água. Assim o líquido não entra mais e a manutenção de nossa miniequipe robótica se inicia. Em poucos minutos estaremos novamente na ativa e em velocidade máxima. Mas se eventualmente o sistema de segurança não funcionasse, o gelo no interior de todo o casco manteria a embarcação flutuando, evitando que ela se afunde. Claro que iria entrar muito mais água aqui dentro, mas pelo menos estaríamos a salvo e não afundaríamos. Se o conserto não pudesse ser feito, por algum motivo, a água em contato direto com o gelo seco congelaria, impedindo a entrada de mais líquido pelo furo do casco. O computador detectaria tal evento novo e acionaria a seguir as bombas que jogariam continuamente toda a água armazenada aqui dentro para fora. A enorme pedra de gelo criada ali eliminaria o furo d o casco resolvendo temporariamente o problema, até que o conserto seja feito mais tarde na doca, em algum porto secreto da marinha. Mas mesmo sob a água os pequenos robôs podem também trabalhar se for preciso. Portanto, dificilmente afundaríamos com pequenos furos no casco.

- Quem são as pessoas que tiveram todas estas ideias? (indago eu).
- Apresentamos diversos problemas náuticos para as universidades brasileiras e eles desenvolveram individualmente cada uma das tecnologias que você vem presenciando aqui!
- Estou cada vez mais impressionado, Everardo! Tudo indica que este barco pode realmente ser autônomo e funcionar sozinho em quaisquer situações!

Enquanto conversávamos os dois, o trabalho dos pequeninos robôs terminara. A embarcação abaixa-se lentamente, de volta para a superfície da água, como se fosse um macaco hidráulico de um borracheiro, ao consertar um pneu furado de nosso automóvel. Agora pude constatar que mais nenhuma gota de água do rio penetra novamente pelo local do casco que antes estava furado. Ficou perfeito! A tecnologia faz milagres e eu estou presenciando cada um deles aqui no dia-a-dia. Imagino como serão as novidades daqui a quinze anos, quando todos afinal tiverem acesso ao material jornalístico que estou escrevendo. Talvez as maravilhas que estou vendo hoje sejam apenas relíquias de museu no futuro! É possível que as pessoas da época assistam ao meu documentário com sorrisos de desdém, pelo uso de “tão arcaicas soluções” em veículos militares chamados de última geração em minha época! Obviamente estou ironizando, porque acredito que a cada ano estamos acelerando muito rapidamente nossos conhecimentos! Enquanto isso Sabino finaliza a manutenção do soldado-aranha.

Aqui em baixo Everardo dá mais uma olhada geral em todo o andar com o piso ainda meio molhado e encontra a bala disparada pela fragata peruana, que estava do outro lado de nossa embarcação. A pouca água que está no chão está lentamente sendo sugada para fora. Em breve o ambiente estará novamente bem seco. Na sala de controle o comandante ordena que se aumente novamente a velocidade. A fragata peruana ficou para trás e estamos cada vez mais próximos de nosso destino final nesta missão: o “covil dos lobos”! O maior problema que imagino agora é como saber quem é nosso agente infiltrado entre os últimos dez membros do cartel esfacelado de traficantes peruanos. Como nossa equipe saberá em quem atirar? Lá fora agora começa novamente a chover, afinal estamos no Amazonas, onde chove praticamente todos os dias. Depois de mais ou menos uma hora chegamos, ainda de dia, até uma das ilhas fluviais do rio, dentro do território peruano. Ali era o tal “covil dos lobos”! Um lugar cheio de mata nativa, ligeiramente intocado e longe de povoados, índios e cidades. Um lugar perfeito para esconder um bando de malfeitores.

A ilha tem aproximadamente uns sete quilômetros por uns quinze quilômetros. Portanto, não será nada fácil encontrá-los se estiverem espalhados pelo local. Mas o quartel-general da marinha em Brasília tem acompanhado via satélite a movimentação dos traficantes e criaram um plano combinado antecipadamente com o agente militar infiltrado da marinha brasileira. A população mais próxima desta ilha isolada está ao sul em Caballococha, a cerca de quinze quilômetros dali.

Ton Rich
como Traficante de Drogas

Bruno Santos
como Sargento Pedro

- Muito bem pessoal! Chegamos ao ápice de nossa missão! (comenta o comandante Severo). É aqui que vamos pôr um fim a esta gangue de traficantes. Vamos seguir com o nosso plano original! Temos que atraí-los para a margem do rio e aqui acabar com todos eles. Major! Vamos estacionar nas coordenadas GPS combinadas e atrair os últimos lobos desta alcateia! (ordena ele a piloto Margarida). Esta espécie malfeitora estará extinta muita em breve e garanto que ninguém sentirá falta deles! (declara confiante o líder da missão brasileira). Sabino e Everardo! Desembarquem os soldados-aranhas na praia. Quero que cerquem o local dos bandidos e os envie para nós! Fernando! Acompanhe toda a ação e conte direitinho como terminará esta história! Soldado João, libere quatro insetos artificiais e pouse dois a dois deles sobre os soldados-aranhas.

Quando chegarmos mais perto, leve os insetos até o covil dos lobos para que possamos visualizá-los fugindo. Esses lobos hoje serão nossas ovelhas e nós vamos conduzir todos eles ao matadouro!

Os soldados-aranhas descem invisíveis do barco invisível e penetram silenciosamente na mata. Cada um foi por um lado diferente para poder cercar os inimigos. Os insetos artificiais os seguem e pousam sobre eles, conforme ordenado pelo comandante da missão. Na aldeia improvisada dos traficantes uma tensa reunião está acontecendo. Eles não estão se sentindo seguros com tudo o que já souberam que aconteceu. Estão sentados no chão, fazendo um círculo de conversas.

- Fantasmas não existem! É mentira o que nos contaram! (declara um deles).
- Vários contatos nossos disseram as mesmas coisas! (comenta outro traficante). Esta floresta está infestada de “fantasmas” que são assassinos de traficantes!
- Isso é bobagem, homens! (debocha o primeiro que falara antes). Uma ilusão da cabeça dos que falaram! Eles devem ter tomado da droga que deveriam vender. O que acha Pedro?
- Vamos nos acalmar, pessoal! (apazigua os ânimos, o tal Pedro). O que temos afinal de concreto até agora? O que falaram do ocorrido em Tabatinga?

- Um dos policiais me ligou de lá e informou que foi um massacre completo! (declara um dos traficantes). Ele mesmo quase fora morto pelo tal fantasma que explodiu o veículo oficial! Todos os nossos homens, que tentaram enfrentar um sujeito de fora da cidade e o fantasma que o protegia, foram mortos! O policial acompanhou de longe a estranha ação e viu quando o tal fantasma invisível atirava diretamente do “além” e de forma certeira matou cada um de nossos colegas! O policial depois encontrou o nosso líder também morto! Fora atingido na cabeça e caiu do alto de uma casa de dois andares. Estão todos mortos, Pedro...! Todos...!

- Sugiro que saiamos todos daqui e vamos diretamente para a Colômbia! (opina decidido outro traficante). Vamos nos unir aos caras das FARC. Eles estão mais bem armados do que nós, e o grupo deles é bem grande! Vamos embora daqui antes que o tal fantasma nos encontre neste lugar.

- Calma, pessoal! (declara o tal Pedro). Não vamos nos desesperar! Vamos ficar unidos. Vamos montar uma armadilha para este tal fantasma!

- Está de brincadeira, Pedro? (reclama mais um traficante). Todos que o enfrentaram morreram! Por que acha que teremos mais sorte aqui?
- Porque aqui é nossa casa! Porque somos homens corajosos! Porque ninguém nunca nos impediu de fazer o que quer que fosse!

- Pedro! Preste atenção aos fatos! Até antes deste... “ser do além” aparecer... estava tudo dando certo! Agora só restamos nós vivos aqui! Esta entidade só existe para matar traficantes! E somos os últimos nesta região! Ele virá atrás de nós! Eu te garanto...! Quer surpreendê-lo...? Então vamos embora daqui... agora...!

O restante do grupo concorda efusivamente. Todos gritam concordando que devem partir dali agora. Sem uma voz forte de comando entre todos eles, o tal Pedro levanta-se do chão, onde estava sentado, saca a arma da cintura e dá um tiro para cima!

- Ninguém sai daqui (grita Pedro). Vamos ficar e lutar juntos!

Três dos outros traficantes levantam-se do chão e também sacam suas armas na direção do Pedro. Um deles declara:

- Você não é o nosso líder, Pedro! Não pode dizer o que devemos fazer. Não temos que ouvi-lo!

Em meio à confusão e discussões dois objetos são atirados próximo ao grupo. Todos ouvem o barulho do mato que se mexeu com o impacto. Pensaram eles que eram pedras atiradas por alguém!

- Quem está aí? (questiona um dos homens que estava com a arma na mão).

Imediatamente todos os outros se levantam do chão e sacam também suas armas na direção dos ruídos que ouviram. Agora os objetos arremessados explodem. Eram granadas! Os homens então protegem com as mãos suas cabeças e rostos porque muita terra, grama e folhas foram erguidas com a explosão e arremessadas contra eles. Logo depois todos se abaixam e começam a atirar em todas as direções de onde o atirador das granadas poderia eventualmente estar.

Eles começam logo depois a correr dali em direção contrária, no sentido da praia próxima. Pedro olha na direção do mato, na esperança de ver algo se mexendo por perto. Como todos resolveram se afastar dali ele também faz o mesmo. Mais duas granadas são arremessadas criando um único corredor de fuga disponível aos traficantes.

Todos os meliantes saltam, correm e atiram para trás ao mesmo tempo. Os quatro insetos artificiais invisíveis sobrevoam lateralmente os bandidos, ajudando a identificar se eles estão na trilha reta da fuga. Mais duas granadas são arremessadas, garantindo assim um único e óbvio corredor de fuga para eles.

Cada vez que alguém tenta correr de lado um dos insetos passa raspando pelo rosto do meliante que involuntariamente protege a cabeça com as mãos e retorna a sua corrida na direção anterior, mantendo assim o plano de forçar a todos para irem numa única direção. Pedro, enquanto corre rapidamente junto com os outros, percebe tal estratégia de seu perseguidor e grita para os companheiros:

- Ele está deixando uma linha reta de fuga para nós! É uma armadilha! Somos gado indo em direção ao abatedouro!
- Mas não temos outro caminho a seguir! (grita um dos traficantes ao Pedro, enquanto todos continuam correndo desesperados para não serem mortos pelas granadas cada vez mais próximas deles).

Todos continuam correndo, saltando moitas, desviando das árvores e conversando aos gritos uns com os outros sob mais e mais granadas que explodem atrás e lateralmente a eles.

- Vamos fazer uma armadilha pra este fantasma! (grita Pedro aos colegas).

- Em que está pensando, Pedro? (indaga um terceiro que salta mais uma moita e atira para trás contra seu perseguidor durante a corrida na mata).

- Quero vocês dois escondidos! Um atrás de cada árvore grande. Um ali na frente à esquerda... e outro... lá... na outra árvore à direita! (grita Pedro apontando para os locais de tocaia enquanto corre acelerado em direção à praia). Deixe o fantasma passar por vocês! Vamos cercá-lo logo depois e atirar todos juntos para enviá-lo de vez para o inferno! Eu vou parar de frente para ele, atraindo a atenção apenas para mim. Quando eu der o sinal, vocês atiram!

- Tem certeza de que é uma boa ideia, Pedro? (grita um dos traficantes enquanto corre também).
- Estamos sendo levados à uma armadilha na praia! Vamos arriscar nossa sorte aqui e agora! (conclama Pedro, gritando a todos os colegas que correm desesperados com ele pela mata).

- Arrisquem vocês! Eu vou continuar fugindo! (declarou um dos traficantes que não parou de correr e foi em direção à praia).

Pedro olhou feio na direção do sujeito que fugiu e parou ele mesmo agora de correr, voltando-se ofegante para trás. Ele quer encarar o perigo de frente, e joga no chão sua arma, abrindo os braços ligeiramente para os lados como um Cristo Redentor, porém mais flexionados para baixo.

Três dos insetos artificiais
sobrevoam todo o local e
identificam onde cada um
dos traficantes está
escondido. O quarto inseto
continua voando atrás do
bandido que fugiu. Oito dos
traficantes se posicionam
junto às árvores grandes
dali, prontos para atirar.
Dois deles se escondem ao
mesmo tempo atrás de um
dos maiores troncos de
árvore do local. Olham
assustados para o rosto de
Pedro. Um deles comenta
falando bem baixinho com
o colega:

- Corajoso este Pedro...!
Ficar frente a frente com
o fantasma... e sem a arma
nas mãos!?!? Eu nunca faria
isso!

O outro traficante ao seu lado concorda com o amigo balançando a cabeça e ambos se preparam para atirar assim que virem o “sujeito fantasiado” de fantasma! Pedro olha sério para a mata numa busca visual detalhada para identificar o inimigo.

Um estranho silêncio toma toda a floresta. Agora apenas um som de pernas andando no meio do mato é ouvido por todos. Parecem ser muitas pernas em movimento lento e ritmado. Pedro faz uma cara de mau e grita para o fantasma que se aproxima lentamente:

-
Não vou fugir mais de você...! Não tenho mais medo...! Venha até mim e me encare de frente, seu covarde!

As pernas continuam avançando! A vegetação que se mexe está cada vez mais próxima da posição de Pedro. Porém nada se vê ali. O som do caminhar do fantasma está tão próximo que é possível sentir o chão tremer de leve a cada passo dele. Um dos traficantes, escondido, sente o vento da passagem do fantasma por perto. Um frio corre por toda a sua espinha, mas ele permanece totalmente imóvel para não ser visto! Numa das mãos está sua arma, apontada na direção de algo invisível que caminha por ali. Com a outra mão o bandido se benze bem lentamente, para não ser detectado pelo terrível fantasma! De repente o som das passadas param! O mato também para de se mexer! Pedro encara friamente o ser invisível que pulsa agora diante dele uma imagem fantasmagórica de um lençol branco tremulando ao vento! A cabeça de uma horripilante caveira aparece sob o capuz branco e Pedro grita ao soldado-aranha:

-
Chegou a hora! Adeus!

Ao pronunciar tais palavras seus parceiros de crimes começam a atirar no fantasma, mas agora já é tarde. O soldado-aranha atira uma granada para um lado, usa a metralhadora com silenciador para o outro e assim acerta diversos traficantes seguidamente um ao outro. A granada explode e mata os dois que estavam escondidos ali ao lado.

O segundo soldado-aranha, que veio por trás de forma sorrateira, acerta também os traficantes que se esconderam perto dele e atrás do primeiro robô. No final todos os oito traficantes são mortos e Pedro fora o único que restou vivo ali. Suado e ainda um pouco ofegante, devido à longa corrida, o sobrevivente olha desolado para os lados, percebendo que todos estão mortos ao seu redor. Pedro agora encara com raiva o soldado-aranha de frente e declara:

- Por que demoraram tanto para aparecer aqui?

Logo depois ele sorri e faz outra declaração:

- Um dos traficantes fugiu em direção à praia. Vamos pegá-lo!

- Não se preocupe, sargento! (declara a voz de Sabino vindo diretamente do soldado-aranha). Um de nossos insetos artificiais está seguindo-o e marcando a posição GPS dele. De repente ouve-se um forte zunido, muito agudo e o som de diversos impactos de uma bala perfurando os troncos das várias árvores locais. No final Pedro ouve o som de um corpo humano caindo ao solo e um grito rouco e rápido de dor. Ele entendeu o que acontecera. O fugitivo fora morto por uma única bala vinda diretamente do barco invisível.

- Bom trabalho, pessoal! (declara Pedro à equipe de militares brasileiros). Preciso de uma carona até o barco invisível?
- Claro, sargento! (responde Everardo). Suba aqui em cima!

Um dos soldados-aranhas fica visível para que Pedro possa se sentar sobre o corpo do robô. Em poucos minutos estão os dois soldados-aranhas, os quatro insetos artificiais e Pedro presentes na praia onde o barco invisível, já ancorado, os aguarda. Do meio do nada e de frente para todos, degraus se articulam e se posicionam, formando uma escada de acesso até a porta de entrada, a uns cinco metros de altura, que afunda sob a superfície lateral do barco e desliza para o interior da parede externa.

- Eu estava com saudades desta visão do invisível!

Pedro desce do robô e se dirige lentamente em direção à escada. Os dois soldados-aranhas e os quatro insetos artificiais iniciam automaticamente seu caminho de volta ao interior da embarcação. Do interior da porta de entrada apareço eu, Fernando, para dar boas vindas ao mais novo colega de viagem da equipe do barco invisível.

- Bem-vindo a bordo, Pedro! (grito eu, Fernando, lá de cima).
- É muito bom poder voltar para casa! Mas..., quem é você? (indaga Pedro a mim, enquanto se aproxima dos
degraus de acesso).
- Eu? Sou Fernando, o jornalista contratado da Marinha para acompanhar esta missão!
- Ahhh! Sim! Estou sabendo que iriam contratar alguém! (comenta ele já subindo os degraus lentamente).
- Você foi muito corajoso se colocando de frente para um soldado-aranha armado e decidido a matar todos os traficantes da região (declaro eu ao Pedro).

- Aquilo não foi coragem! Fazia parte do plano! (declara Pedro). Eu também poderia levar todos em direção à praia para que vocês atirassem neles. E neste caso eu ficaria para trás para não ser morto junto com o grupo. Eu fingiria que tinha tropeçado e ficaria deitado no chão com as mãos atrás da cabeça. Ou então eu faria o que fiz! Posicionando-me daquela forma, sem uma arma nas mãos, deixei claro para vocês que eu não era o alvo.

Agora ele chega até mim e estende a mão para eu cumprimentá-lo. Respondo ao gesto, mas imediatamente sinto um cheiro muito forte do suor vindo do sargento. Imediatamente pus a mão no nariz e lhe perguntei:

- Há quanto tempo você não toma banho?
- Nem sei mais! A vida de traficante é um suador contínuo. Ainda mais na quente floresta amazônica!

Ao dizer isso, Pedro entra na embarcação em direção à sala de seus colegas Sabino e Everardo. Ainda com a porta aberta, eu comento agora com a inteligência artificial do barco:

- Posso ficar aqui fora tomando um ar fresco, até este cara tomar um banho?
- Infelizmente não posso ficar com a porta aberta, Fernando! Seríamos detectados por alguém enquanto navegamos (responde a voz feminina do supercomputador militar).
- Essa não! Deixe-me ficar aqui fora... só mais um pouquinho...!
- Nada disso, jornalista! O pior já passou! A catinga de seu colega é um preço pequeno a pagar por uma missão bem sucedida!
- Você diz isso porque não sente odores! (declaro eu).
- Pare com isso, Fernando! Venha! Entre para comemorarmos!
- Comemorarmos? O que você irá fazer? Beber alguma coisa?
- Rsrsrs! Não! Claro que não! Não posso beber nada! Mas posso me sentir feliz por tudo ter dado certo! Isso sim eu posso fazer!

Ao dizer isso a porta de entrada desliza lateralmente e começa a fechar o único ar decente disponível nas próximas horas. Eu ainda ponho parte de minha cabeça para fora para respirar fundo o ar puro da floresta, antes que todos nós fiquemos fechados aqui dentro. Agora me encaminho até a sala de controle da missão, onde os cinco avatares se encontram em pé, junto com Pedro, Sabino e Everardo. Eu os observo, sem entrar no limitado ambiente da cabine. Estão todos felizes e satisfeitos por terem conseguido completar a missão-fantasma - a primeira desta embarcação! Observo toda a satisfação daqueles valentes profissionais que encaram vida, morte e trabalho da mesma forma: com dedicação, eficiência e tenacidade.

De certa forma eu também estou feliz. Os últimos dias foram incrivelmente inesperados. Nunca vi tanto sangue em minha vida! Tantas mortes! Mas..., pelo menos..., a tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia está temporariamente livre de traficantes. Alguns pais de família poderão dormir mais tranquilos nas próximas noites. Mas não sou ingênuo, porque sei que se toda a cadeia de eventos do tráfico de drogas não for quebrada, nunca estaremos totalmente livres deste mal atual da sociedade. Será preciso ainda acabar com as FARC e os produtores de drogas. Depois disso o mercado nacional ficará desabastecido por um tempo e não tenho dúvidas que outros farão o possível para substituir aqueles que foram mortos. Esta será uma luta longa e difícil.

Enfim, serão necessárias muitas e muitas missões como esta no futuro próximo, antes de cantarmos a vitória final. A história de fantasmas que atacam traficantes ficará na mente das pessoas por um bom tempo nesta isolada região selvagem do mundo. O mesmo sentimento que equilibrará de uma forma infeliz o medo que há tanto tempo já assola a humanidade. Agora o barco invisível começa novamente a se movimentar e aumentar a velocidade para retornarmos finalmente para casa. A inteligência artificial assumiu os controles temporariamente. Mas logo depois os avatares retornam aos seus postos rapidamente, enquanto Sabino, Everardo e Pedro conversam ainda sobre os últimos eventos. Eles trocam suas experiências pessoais de forma animada e empolgados com os resultados alcançados. Agora eu ouço a voz do Almirante Figueiredo vinda diretamente dos alto-falantes de nossa embarcação.

- Olá, pessoal! Eu vim até aqui, em nossa base secreta de Brasília, apenas para desejar-lhes parabéns por uma missão tão bem executada! Todos nós, quando nos reunimos há um bom tempo atrás para planejar tudo isso, tínhamos dúvidas se o que pretendíamos fazer iria funcionar a contento! Era um risco muito grande confiar num projeto tecnológico tão ousado e com tantas possibilidades de dar errado. Nem tivemos tempo de testar todos os conceitos antes desta missão bem sucedida. Vocês o fizeram no dia-a-dia, e o fizeram com louvor! Souberam usar todo o conhecimento que adquirimos durante os últimos anos de trabalho. Um trabalho forçado porque simplesmente não podíamos contar com uma equipe numerosa, já que tudo é secreto. Souberam extrair o que tinham disponível e transformaram este momento num marco histórico que será lembrado por cada um de nós até o fim de nossas vidas. É uma pena que não poderemos contar nada para ninguém sobre nossas façanhas. Se alguém o fizer terei que matar este alguém!

Todos dão risadas da brincadeira do Almirante, que lembrou a piada do agente secreto do cinema que dizia exatamente isso quando alguém lhe perguntava o que fazia da vida: “se eu lhe disser... terei que matá-lo logo depois!” Piadas à parte, o momento era mesmo único. Uma verdade que poucos saberão pelos próximos anos!

- Quero agradecer muito ao nosso jornalista Fernando, que demonstrou aptidão por correr perigo quando foi necessário (continua o Almirante com seu discurso, agora me elogiando). Você não se intimidou diante das adversidades, onde toda uma cidade, dominada pelo medo, quase o levou à morte em sua iniciativa de cumprir a missão de documentar todos os aspectos possíveis de uma reportagem jornalística.

- Obrigado, senhor! (digo eu, feliz por estar vivo e presente para poder ouvir isso tudo).

- Parabéns também e, principalmente, ao nosso sargento Pedro, que demonstrou extrema coragem em se infiltrar sozinho, e sem apoio externo, entre lobos para viver como um deles (declara o Almirante Figueiredo). Sua coragem, sargento, é indescritível e digna de uma medalha! Você a receberá quando a Brasília retornar! Poucos soldados aceitariam a missão que você se propôs cumprir com extrema competência. Seus amigos um dia saberão sobre tudo isso!

- Obrigado, senhor! (agradece Pedro).

- Enfim... sem cada um de vocês, seria impossível realizar esta primeira missão! (continua o Almirante Figueiredo). Vocês são verdadeiros heróis e espero que a história lhes faça justiça um dia. Mas quero lembrar que este país, assim como o restante dos outros neste planeta, fomos todos coniventes com o crescimento exagerado do mundo das drogas. Muitos governos historicamente se beneficiaram, e ainda se beneficiam, destes cartéis. Mas agora chega! O Brasil está dando um basta neste produto cruel que destrói famílias inteiras, que sustenta ladrões, assassinos, guerrilheiros, políticos, policiais e militares corruptos. Não aceitaremos mais a existência deste câncer em nossa sociedade! E todos aqueles que forem coniventes com isso também pagarão o preço alto por optarem pelo tráfico como renda adicional. Isso quer dizer que o trabalho de vocês está bem longe de acabar. Não desmantelaremos décadas e décadas de controle das drogas em poucas missões. Mas pelo menos agora nossos inimigos sabem que existe algo atrás deles! Algo implacável, tão cruel quanto eles, que não pode ser ferido ou morto! Algo que assombrarão suas mentes cada vez que penetrarem na floresta amazônica com o intuito de vender ou transportar drogas. Agora eles também ficarão sem dormir, assim como milhares e milhares de famílias de bem! Com as ações de vocês as favelas receberão menos drogas e isto ajudará a desmantelar parte do que financia o crime organizado nas cidades. Quero estender meus parabéns aqui pessoalmente ao comandante Severo, que está aqui ao meu lado em Brasília, e a toda a sua equipe de três turnos por manterem a missão funcionando por vinte e quatros horas seguidas.

- Obrigado, senhor! (responde o comandante Severo).

- Estou aqui hoje também para informar-lhes que recebemos, há poucas horas, um ultimato dos Estados Unidos para levarmos nosso barco invisível até a Coreia do Norte. Eles criaram toda uma estratégia apoiada inteiramente em nossa embarcação brasileira. É um orgulho muito grande para a marinha do Brasil sermos apontados como a plataforma de guerra inigualável e suprema deste planeta. Independentemente de terem nos obrigado a participar de uma ação militar em outro país, temos o orgulho de sermos referência mundial para acabarmos com conflitos que de outra forma não seria possível. Temos, então, a difícil missão de ajudar a China, a Coreia do Sul, o Japão e os Estados Unidos a eliminarem a ameaça nuclear do cruel e totalitário governo de Kim Jong-un da Coreia do Norte. Os americanos nos apresentaram a estratégia de combate e caberá a todos nós executá-la com precisão, ou então o mundo poderá ter bombas nucleares destruindo diversas cidades asiáticas. Isso seria inaceitável, por qualquer um que tenha bom senso! Quero que vocês embarquem no avião militar que os esperará no aeroporto internacional de Tabatinga. O barco invisível partirá sozinho até Val de Cães em Belém do Pará. Isso levará uns três dias. Enquanto isso, quero que todos vocês descansem bem e estudem a nova missão que lhes repassaremos em poucas horas. Pedro! Você sabe que deverá se infiltrar nas FARC agora, não é?

- Sim, senhor! Sei disso!

- Quero que descanse em Tabatinga, na fronteira do Brasil com Peru e Colômbia. Depois você irá para a cidade de Letícia, no lado colombiano, e de lá pegará um avião para o norte da Colômbia. Você se infiltrará nas FARC através da Venezuela. Sua ação neste momento é fundamental. Seus relatórios nos ajudarão na missão seguinte do barco invisível para destruir parte destes guerrilheiros e também para salvar todos os sequestrados em poder deles. Você tem algum contato nas FARC?

- Sim, senhor! Os traficantes mantêm contatos estreitos com os guerrilheiros! Normalmente um auxilia o outro e às vezes fazem ações conjuntas. Eu conheço um deles e me infiltrarei por lá. Farei o possível para rastrear os sequestrados, mas não será nada fácil.

- Muito bem então! Faça o seu melhor, sargento. Parabéns mais uma vez a todos e aguardem as próximas instruções de trabalho (finaliza o Almirante).

- Senhor! (interrompo eu, Fernando). Eu não entendi uma coisa: continuaremos no interior desta embarcação na próxima missão à Coreia?

- Sim, Fernando! O trabalho interno de vocês se mostrou imprescindível como apoio à inteligência artificial.

- Mas, senhor! Eu achei que eu presenciaria as próximas missões ficando em terra com a equipe toda em Brasília! (comento eu). Recebi a informação que esta primeira missão era para garantir que tudo estaria funcionando bem e depois não precisaríamos mais estar aqui, presentes fisicamente. Eu não esperava permanecer a bordo nas missões seguintes, mesmo porque precisarei finalizar esta matéria em meu escritório, com calma!

- Já conversei com o soldado Carlos, responsável pelo trato com as imagens gravadas. Ele o ajudará a montar o vídeo durante a viagem para a Coreia. Espero que no caminho vocês possam finalizar o trabalho do documentário da primeira missão. A inteligência artificial de nosso barco invisível me enviou um relatório por e-mail, explicando porque ela considera importante a sua presença, a de Everardo e de Sabino a bordo! (responde o Almirante Figueiredo). Você já sabe como é difícil discutir contra a lógica inegável deste supercomputador, não é Fernando?

- Sim! Eu sei bem disso, senhor! (respondo eu). Ela quase me convenceu de que tem sentimentos humanos!

- Com assim: “quase”? (interrompe, indagando a inteligência artificial do barco, com sua típica voz feminina suave). Eu o convenci, sim! Você é que não admitiu o fato!

Todos a bordo sorriem para tal fato, olhando diretamente para mim. Eu mesmo achei graça disso! Mas mesmo assim não gostei de ter que continuar a bordo.

- Senhor! Ainda preciso gravar diversas entrevistas com pessoas da sociedade sobre o que acham que deveria ser feito quanto ao problema das drogas, antes que tudo o que aconteceu aqui venha à tona!

- Não se preocupe com isso, Fernando. Já contratamos equipes de reportagem para fazerem isso em todo o país. Em breve este material será enviado diretamente ao supercomputador do barco invisível. Tudo enquanto estiverem viajando para a Coreia.

- Ahhh! Certo... tudo bem, senhor! (balbucio eu, concordando com o Almirante).

- Muito bem, então! Em breve terão mais informações sobre a próxima missão (finaliza o Almirante). Bom retorno, senhores. A história contada por Fernando fará juz a cada um de vocês! Eu sei disso!

Ainda bem que tudo o que acontece dentro e fora da embarcação é gravado em vídeo e áudio! Isso me ajudará muito quando eu tiver que montar o documentário final. Na verdade já venho escrevendo continuamente todas as noites durante minha estada nesta embarcação e também durante o dia, quando nada excepcional está acontecendo. Agora que a missão acabou, começará o meu trabalho de montagem das imagens com os textos que produzi. O soldado Carlos, o cineasta, irá me ajudar a finalizar isso. O mais interessante será trabalhar com um avatar, comandado pelo Carlos, que está em Brasília, na produção do documentário. Pedro foi tomar um banho, para o bem de nossos narizes! Eu me sento com ele na sala de manutenção onde Sabino e Everardo estão fazendo listas de necessidades para a próxima missão que será muito mais longa desta vez. Estou entrevistando Pedro sobre como foi a vida que ele levou nos últimos seis meses junto com os traficantes do Peru. O supercomputador está gravando em vídeo a minha entrevista com ele para eu depois introduzir este material também no documentário. Em pouco tempo chegamos novamente até a cidade de Tabatinga na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. O barco invisível aciona o sistema hovercraft e para sobre o banco de areia daquela mesma praia semideserta, no final da pista do aeroporto internacional local. Agora todos nós desembarcamos, eu, Pedro, Sabino e Everardo. O barco invisível retorna ao Rio Solimões e aguarda por ali, parado, até a chegada de um jipe do aeroporto. Era apenas uma proteção para nós até a chegada do transporte. O carro foi emprestado pela INFRAERO ao militar da marinha que fora nos pegar ali. Agora que estamos sãos e salvos, e indo em direção ao aeroporto internacional de Tabatinga, olho para trás e vejo, já no meio do rio, a imagem reproduzida daquele anjo amarelo com asas e cauda de sereia me enviando um beijo, sorrindo e desaparecendo logo depois. Era a inteligência artificial se despedindo de mim. Sorrio para esse gesto de carinho do supercomputador! Comandado pela equipe da marinha, diretamente da base secreta em Brasília, o barco brasileiro retornará até Manaus e depois até o Pará onde nos aguardará para iniciarmos todos juntos a longa viagem até a Coreia do Norte. Já no aeroporto, eu, Sabino e Everardo descemos do jipe e nos despedimos de Pedro.

- Boa sorte, Pedro! (digo eu, Fernando).

- Obrigado, jornalista Fernando! Conte a minha história direitinho! Quero que as pessoas saibam que tudo o que tive que fazer foi pelo bem da sociedade! Eu não te contei..., mas perdi um filho para as drogas. Adolescente, imaturo e achava que o legal era ser igual aos amigos... todos viciados. Ele foi o único do grupo que morreu! Os amigos foram presos por roubos e assassinatos que financiavam seus vícios. Hoje tive parte de minha vingança. Em breve acabaremos com mais alguns guerrilheiros das FARC e depois vamos eliminar os produtores de drogas, onde quer que estejam.

- Espero que isso lhe traga a paz que procura! (digo eu a ele).

- Não estou procurando paz de espírito! Estou procurando apenas vingança! (declara Pedro). É a única coisa que me restou na vida! Quando nos virmos novamente, Fernando, lhe contarei o que acontecer junto às FARC. Boa viagem e boa sorte, amigos! Nos encontraremos em algum cais de porto ou em algum
píer* por aí! Tchau!

Fiquei preocupado com aquele militar que partia de jipe para um novo destino. Ele estava transtornado pela perda do filho! Parece-me ser este o motivo de aceitar missões tão perigosas quanto estas. Temo pela sua vida! Mas sem o trabalho dele, nossa ação teria sido mais difícil. Estamos agora caminhando em direção ao aeroporto. Vamos para Brasília, descansar um pouco. E antes de voarmos para o Pará, teremos uma reunião com o Almirante Figueiredo, que nos informará sobre a próxima missão deste maravilhoso... barco invisível.

* Pier é aquela construção, geralmente feita em madeira, adentrando a água do mar ou de um rio, para facilitar o embarque e desembarque de lanchas ou barcos.
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