O BARCO INVISÍVEL - MISSÃO-FANTASMA - VOLUME I
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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO VII
A ÉTICA ASSASSINA


No dia seguinte lá estava eu, Fernando, acompanhando na cabine de comando a embarcação invisível, já a poucos quilômetros da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. Agora todos os integrantes da equipe estão mais tensos, porque ali já era um local de conflitos de terra e patrulhamento constante dos traficantes.

- Comandante! Lancha com homens armados vindo em nossa direção! (comenta o soldado Ricardo, responsável pelas imagens de satélite).
- Antes de abatê-lo precisamos ter certeza de que são guerrilheiros ou traficantes de drogas (afirma o comandante). Soldado João! Assim que possível tente confirmar a identidade de todos os que estão a bordo. Use o software da Interpol americana de identificação facial!

CAPÍTULO I
A MISSÃO-FANTASMA

CAPÍTULO II
A BASE DE OPERAÇÕES

CAPÍTULO III
A VISÃO DO INVISÍVEL

- Sim, senhor! Já estou conectado e checando! (responde João, responsável pelas câmeras externas, internas e térmicas do barco invisível).

O soldado João dá um zoom num dos rostos dos homens armados. O programa congela a imagem da câmera e fica comparando a informação visual com os milhares de rostos disponíveis no sistema. Agora o soldado faz o mesmo com um segundo tripulante da lancha. Ao dar zoom no terceiro sujeito o programa já confirma a identidade do primeiro como sendo um procurado pela Intepol. João faz o mesmo para cada um dos cinco sujeitos armados e logo depois responde ao comandante:

- Confirmei as identidades, comandante! (declara João). São traficantes de drogas, de armas, procurados por assassinatos, sequestros e roubos diversos em países da América do Sul!
- A corja está reunida! (declara o comandante). Tenente Júlio, preparar armas! Vamos acabar com eles agora!
- Um minuto, senhor...! (requisita o soldado Ricardo). Estou detectando diversos outros barcos, vindo em nossa direção, logo atrás deste que vamos abater...! E agora vejo também uma lancha aproximando-se pela popa de nossa embarcação... Confirmado! É da polícia de fronteira, senhor!
- Droga! (declara nervoso o comandante). Major! Vamos passar por cima de todos aqueles barcos à frente!
- Como é que é, comandante? (questiona a major, sem entender o que era para fazer exatamente com esta ordem).
- Vamos jogar boliche, major! Navegue o barco para acertar cada uma das lanchas que estão à nossa frente. Vamos jogá-los todos dentro d’água.
- Por que, senhor? (questionou a major).
- Não teremos tempo de identificar todos eles antes da chegada da polícia. E se conseguirmos não teremos tempo de matá-los sem que nossa presença seja detectada. Vamos pelo menos arrancar-lhes as armas das mãos ou fazê-los fugirem e então os perseguiremos até onde forem. Desta forma protegeremos os policiais e salvaguardaremos nosso sigilo aqui. Tenente Júlio atire em todos os identificados da primeira lancha. Use nossa arma de proa com silenciador. Quero um morto para cada tiro e rápido. Não erre.

A major Margarida, que é a piloto do barco invisível, começa a desviar a embarcação para que cada uma das lanchas seguintes sejam abalroadas pelo barco invisível. Ela reduz a velocidade para poder girar ou mudar o curso do barco invisível. Enquanto isso o Tenente Júlio, responsável pelo armamento, faz mira e marca, com um ponto luminoso laser, o peito de cada um dos ocupantes da primeira lancha. Logo depois os tiros são disparados em sequência, matando um a um dos ocupantes. A tal lancha desgovernada perde velocidade e o barco invisível acerta-os de lado, forçando a embarcação inimiga a emborcar, jogando na água todos os corpos. As outras lanchas que vêm atrás percebem que a primeira virou e aceleram para ajudar os colegas. A piloto do barco invisível se esforça para manter a embarcação em rota de colisão e começa a navegar de lado, graças ao motor central que pode girar a embarcação para qualquer lado, tornando viável tal manobra. Desta forma ela acerta a lateral da segunda lancha com a proa na embarcação militar.

Os homens armados caem na água e o veículo deles vira-se de cabeça para baixo. A terceira, que vinha quase paralelamente à segunda, também é acertada pela parte traseira do barco invisível, emborcando idem às anteriores. Agora as outras três que vêm na sequência percebem que algo está errado e param de navegar na mesma direção. O barco invisível acelera a velocidade e ainda de lado atropela as três ao mesmo tempo, arrastando-as diversos metros até que todas emborquem e os homens armados caiam na água.

- Muito bem, major! Soldado João! Identifique cada um dos homens que estão dentro d’água. Se forem malfeitores informe ao tenente Júlio que eliminará um por um.

- Sim, senhor! (responde o soldado João).
- Fernando! Note que estou preocupado em não matar gente inocente! Se algumas destas pessoas não tiver ficha na polícia internacional não o mataremos. Pediremos para a marinha levantar a vida deste sujeito inocente e lhe daremos uma nova embarcação tão boa ou melhor do que ele tinha antes de a destruirmos. Não somos assassinos e nem cruéis! Estamos apenas tornando o mundo um lugar melhor para as pessoas de bem.

Eu, Fernando, ouço a voz do comandante, que vem dos alto-falantes do barco, e fico pensando em quão tênue é a linha entre o bem e o mal! Estamos matando a sangue frio pessoas que talvez pudessem ser recuperadas para a sociedade. Mas jamais saberemos agora. Quero acreditar que isso será bom para o futuro do continente, mas não sabemos como o mundo nos julgará daqui a quinze anos, quando tudo isso for revelado à sociedade. Talvez sejamos tratados como carniceiros cruéis e totalmente equivocados quanto ao que deveríamos ter feito quanto ao problema das drogas.

Enquanto isso, tenente e soldado vão eliminando um a um dos alvos identificados que nadavam para não se afogarem no maior rio do mundo. As piranhas começam a aparecer em enormes cardumes e atacam os alvejados pelas nossas armas. A lancha da polícia de fronteira se aproxima rapidamente, porque perceberam ao longe o acidente envolvendo as seis embarcações dos traficantes. Muitos dos náufragos, ainda vivos, erguiam as mãos para cima porque acreditavam que eram os policiais que tinham criado aquela armadilha mortal para eles.

Percebendo a estranha reação dos traficantes dentro d’água, os policiais se aproximam com cuidado e com as armas apontadas, receosos para não serem surpreendidos. Não havia lugar dentro da embarcação policial para todos os náufragos, que poderiam inclusive criar um motim e dominar os policiais se subissem a bordo. Então os capturados ficaram dentro d’água segurando apenas nas laterais do barco sob a mira das armas militares. O tenente Júlio continua atirando até que restam apenas os cinco homens dentro d’água, agarrados à embarcação policial.

Lentamente os militares se dirigem para uma das margens do rio para lá sim, poder desembarcar e algemar cada um dos suspeitos. Mas o comandante do barco invisível não quer que os sobreviventes façam parte da lista de prisioneiros. Estávamos lá para acabar com todos que fossem traficantes ou guerrilheiros.

- Soldado João! Aqueles cinco sujeitos dentro d’água, sob custódia da polícia, também são fichados na Interpol?

- Só um minuto, senhor...! (responde João que estava acabando de avaliar cada um deles). Hã... sim, senhor! Confirmado! Todos eles são procurados também.

- Muito bem, então! Não podemos atirar nos traficantes para não atingir nenhum policial ou afundar o barco brasileiro. Cabo Sabino e Everardo!

- Sim, senhor! Estamos na escuta!
- Levem seus soldados-aranhas até as laterais do barco policial e afoguem cada um daqueles homens que estão na água (ordena o comandante).

Eu, Fernando, fico horrorizado com isso! Era uma forma covarde de matar alguém. Do meu ponto de vista, naquele momento, estávamos começando a nos tornar a imagem e semelhança das atitudes de nossos inimigos. Tão cruéis quanto! Tão insensíveis quanto! Tão traiçoeiros quanto eles!

- Está se sentindo bem, Fernando? (me questiona o comandante). Esta missão é muito pesada para você?

- Acho que esta missão será pesada demais para todos nós, senhor! (declaro eu). A história poderá nos condenar por assassinatos contra a humanidade, formação de quadrilha e execução sem dar direito de defesa às vítimas!

- Somos militares com uma missão, Fernando. Estamos devolvendo a estes crápulas os mesmos direitos que deram àqueles que mataram, estupraram, roubaram e condenaram a uma vida de drogas e roubos. Se dermos a estes monstros, que estamos eliminando agora, os mesmos direitos humanos que todos devem ter, o que daremos então a um pai de família e cumpridor de seus deveres sociais? Qual o sentido dos direitos humanos a vermes como estes que matam nossos filhos, esposas, pais e amigos...? Não, Fernando...! Mesmo que a história nos crucifique, eles terão que admitir que esta limpeza precisava ser feita...! Mesmo que tenhamos nossos nomes marcados como assassinos, teremos mudado o futuro de nossa região. Todos precisam saber que plantar e traficar drogas terá um preço alto daqui para frente. Eles hoje estão pagando com a própria vida por escolherem viver desta forma! Somos agora o fantasma que assombrará a todos estes desgraçados, que como nós, vivemos com medo em nossas casas, sem saber se nossos filhos retornarão de um cinema ou de um passeio. Vivemos sob grades para que estes assassinos possam andar livres pelas ruas fazendo o que querem. Vivemos com receio enquanto dirigimos, por causa destes monstros que você, com sua consciência, está tentando salvar.

- Não os quero salvar, apenas lembrar que Hitler também achava que a vida de todos os outros povos era desnecessária. Ele acreditava que estava fazendo o bem ao mundo ao eliminar judeus, negros, gays e todos que não fossem arianos.

- Está nos comparando aos nazistas, Fernando?
- Não, senhor! Estou dizendo que nossas certezas poderão não estarem corretas! Aos olhos de outras pessoas podemos estar fazendo um julgamento errado.
- Mas você não está aqui para julgar, não é mesmo, Fernando?

- Desta vez o senhor está certo, comandante. Estou aqui apenas para narrar, da forma mais imparcial possível, os eventos que, eu concorde ou não, estão acontecendo diante de meus olhos e com a minha conivência. Apesar de concordar que estes homens merecem morrer por tudo o que fizeram de mal, estou aqui apenas alertando-o de que nossas atitudes louváveis podem não ser assim consideradas pelas gerações futuras.

- Muito bem, Fernando! (declarou o comandante). Então continue anotando todos os detalhes e deixe a história nos julgar no futuro. O Brasil espera que cada um de nós cumpra o seu dever... hoje!

Lá fora os soldados-aranhas invisíveis navegam e se aproximam, um de cada lado do barco policial. Eles agarram dois traficantes de um lado, puxando-os para baixo e logo depois outros dois também são puxados para baixo d’água também. Quatro dos cinco homens desaparecem dali rapidamente e reaparecem logo depois, boiando, mortos mais à frente e rio abaixo. O último dos cinco traficantes sobe rápida e imediatamente no interior do barco policial, que acelerou para fugir daquele lugar perigoso. Nem um deles sabia o que estava acontecendo e não esperaram para descobrir.

- Droga! Um deles fugiu! (declara o comandante do barco invisível).
- Podemos perseguir o barco policial e alvejar de longe o traficante, senhor! (sugeriu o tenente Júlio).

- Não, tenente! Correr atrás de uma lancha militar poderá nos expor e também atrasará a nossa missão. Vamos entrar no “covil dos lobos” e tornar extinto o animal conhecido como “traficante” nesta região. Podemos lucrar com este que fugiu de nós! Ele transmitirá o medo que presenciou aos seus amigos na cadeia. Aos poucos todos eles também viveram com medo de morrer! E isso também faz parte de nossa missão! Os bandidos devem acreditar que alguém muito poderoso os está perseguindo. Sabino e Everardo retornem à embarcação com seus soldados-aranhas. Esta operação acabou!

- Sim, senhor! (respondeu Sabino via rádio, meio constrangido por matar pessoas de forma tão cruel).

Ao ouvir aquelas palavras finais do comandante, eu, Fernando, opto por me ausentar dali. Retorno à minha mesa de trabalho na cozinha naval. Preciso continuar meu relatório sem ser influenciado por minhas opiniões. Ser jornalista não é tarefa fácil. Até onde o que presencio é a verdade dos fatos? Não tenho como entrevistar um dos traficantes para que ele conte sua história! Até onde posso comentar o que vejo sem influenciar quem for ler meus textos? É preciso tomar cuidado com os adjetivos, que podem passar a impressão de meu apoio ou minha discordância com os fatos. A verdade é que ser imparcial, quando se está tão próximo dos acontecimentos, é algo muito difícil! Meus próprios sentimentos me envolvem. Minha simpatia ou não pela causa, que pretende ser nobre, não pode se sobrepor ao que devo narrar com frieza e sem emoção. Como alguém conseguiria fazer isso, vendo dezenas de pessoas sendo mortas a sangue frio? Por outro lado, imagino como um pai, que perdeu o filho para as drogas, poderia estar se sentindo ao saber de nossa missão?

Acho que quando tudo isso terminar, precisarei entrevistar muitas pessoas. Tenho que mostrar a opinião da sociedade para este fato histórico atual e oculto das massas. As gerações futuras devem ter acesso ao que a sociedade de hoje pensa sobre uma limpeza mortal e fria dos traficantes e produtores de drogas em toda a América do Sul. Pedirei ao Almirante Figueiredo que me autorize a fazer uma pesquisa de campo sobre este tema para anexar ao meu relatório final. Talvez eu devesse também entrevistar traficantes presos e outros ainda em liberdade! Quem sabe eles pudessem dar também sua opinião de como combater as drogas nas sociedades. Será interessante saber de um traficante como ele combateria a si mesmo!

Parece que meu trabalho ainda irá muito longe antes de ser entregue ao Almirante. Ao passar pelo corredor à frente da sala dos dois cabos a bordo, eles me chamam! Paro de andar e entro no ambiente. Posso agora presenciar as ações deles diretamente em seus postos. Mas eles retiram os óculos de realidade virtual dos rostos. Eu os questiono por isso:

- Vocês já retornaram com os soldados-aranhas para o interior do barco?
- Não precisamos fazer isso manualmente, Fernando! (responde Sabino). Existe uma programação automática que faz isso por nós.
- Ahh! Entendo! (respondo eu).
- Fernando! O que foi aquilo que ouvimos? Você está contra a nossa missão? (questiona Everardo).
- Não, meu amigo! Não estou aqui para concordar ou discordar! Só vou narrar o que vejo! (respondo eu).
- Mas você deu a nítida impressão de estar contra o que estamos fazendo! (comenta Sabino).

- Se quer saber a minha opinião... estou dividido! Não sei dizer neste momento se o que estamos fazendo aqui é certo ou errado! O que enxergo é que é algo cruel e desumano! Não digo que eles não mereçam o fim que estão tendo! Mas minha formação de caráter e social tem dificuldade em aceitar o assassinato de outras pessoas. É mais fácil ler as noticias num jornal do que produzir as matérias pessoalmente. Nossa opinião é emitida de uma forma diferente nessas horas. Mas o que vejo aqui é tão cruel quanto o que acontece nas ruas!

Neste momento ouvimos pelos alto-falantes do barco a informação do comandante:

- Atenção tripulação a bordo! Estaremos na tríplice fronteira e entrando em território peruano dentro de duas horas! Este é o tempo que vocês têm para descansar. Voltem aos seus postos em uma hora e cinquenta minutos ou a qualquer momento em caso de emergência. Aproveitem o curto descanso.

Nem discutimos o fato. Fomos todos para o quarto tirar uma soneca. Sabino ao se deitar requisita ao computador da embarcação:

- Computador! Acorde-nos dez minutos antes do prazo final estipulado pelo comandante!
- Sim, Sabino! Durmam tranquilos! Eu os acordarei! (declara a voz macia e feminina do computador).

CAPÍTULO IV
NAUFRÁGIO NOTURNO

CAPÍTULO V
O ATAQUE DOS FANTASMAS

CAPÍTULO VI
UMA AMEAÇA INVISÍVEL

CAPÍTULO VII
A ÉTICA ASSASSINA

CAPÍTULO VIII
MOTIM

CAPÍTULO IX
NA LINHA DE FRENTE

CAPÍTULO X
A INVASÃO DO PERU

PERSONAGENS DESTE LIVRO/
CONCEITO DE INVISIBILIDADE

Marcelo Henrique
como Jornalista Fernando

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