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O BARCO INVISÍVEL
MISSÃO SOBREVIVER - Vol. IV

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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
TUNGUSKA

CAPÍTULO XXXI
O JULGAMENTO

CAPÍTULO XXIV
O FANTASMA COREANO

CAPÍTULO II
MORTOS REVIVIDOS

CAPÍTULO XXXII
O NOVO MUNDO

CAPÍTULO III
GINOIDE

CAPÍTULO XXXIII
PRESIDENTE GUERRILHEIRA

O problema do namorado de Poti e seu grupo de traficantes permanecia insolúvel! Até hoje! Sabino demorou demais para conseguir o que eu lhe havia pedido! Mas agora tudo será resolvido. Estou no novo aeroporto de Wan-do, construído recentemente. Centenas de pessoas chegam diariamente neste local.

Todos carregam nas mãos malas de viagem que flutuam ao lado do dono sem tocar o chão! Um sistema de levitação magnética, embutido na parte debaixo do produto, torna o ato de carregá-la em algo extremamente leve e fácil. Até mesmo crianças o fazem com grande facilidade. Eu, Fernando, aguardo em pé a chegada de meu amigo, junto à esteira rolante principal, quando recebo mais uma ligação mental:

-
Senhor Fernando! Eu sou Adolfo Régis Stalker. Sou advogado da Marinha Brasileira e estou entrando em contato para requisitar que o senhor retorne ao Brasil. O senhor foi intimado a participar do julgamento de todos que fizeram parte da equipe do chamado barco invisível há quinze anos atrás!

- Não entendo por que estou sendo intimado? Fui um mero observador de tudo o que aconteceu!?!?
- Não é bem isso que pareceu ao promotor cibernético. Ele o quer sentado ao lado dos militares que serão também intimados.
- Muito bem, então! Tenho um compromisso urgente entre hoje e amanhã e depois retornarei ao Brasil. Quando será o julgamento?
- Na próxima sexta-feira!
- Estarei aí!

- Espero que sim, senhor Fernando! Do contrário a justiça brasileira poderá considerá-lo um fugitivo, o que causará muitos transtornos a você, se for considerado culpado. Inclusive a polícia internacional poderá ser acionada, a pedido do governo brasileiro, para que sua extradição, da Coreia ao Brasil, possa ser efetivada!

- Fique tranquilo, doutor Adolfo! Nunca fugi de traficantes, de guerrilheiros e nem de um ditador! Não é da justiça brasileira que me esquivarei agora!
- Então eu o aguardo para o dia do julgamento. Tenha um bom dia, senhor Fernando!
- Obrigado, doutor!


Sabino surge em meio à multidão do aeroporto acenando de longe para mim. Em poucos segundos estamos novamente frente a frente!

- Olá, Fernando! Estava com saudades de você! (declara Sabino, abraçando-me fortemente ao chegar perto).
- Eu também estava com saudades...! E o pessoal? Estão todos bem?
- Sim! Mas estamos muito apreensivos! A abertura da documentação secreta da marinha já aconteceu ontem! Estamos esperando para saber o que acontecerá depois disso.
- O advogado da marinha acaba de me ligar!
- É mesmo?
- Sim! Fui intimado a comparecer ao julgamento que acontecerá ainda nesta semana!
- Só você?
- Não! Ele disse que todos os envolvidos nas missões serão intimados a comparecer!
- Que droga...! Achei que isso não aconteceria...! Ainda não me ligaram...! (declara Sabino).
- Ligarão...! Eu tenho certeza...! Trouxe o que eu lhe pedi...? (indago eu).
- Sim...! Claro que sim...! Mas você nem imagina o que tive que fazer para conseguir isso...! Falei com Severo que, com relutância, liberou um para você! Detalhei a ele a história que me contou e consegui sensibilizá-lo com isso!
- Vamos até meu carro! Não quero que me entregue aqui este material!
- Está bem, Fernando! Quero te lembrar que as baterias não duram para sempre! Eu as carreguei antes de trazer tudo para você! Trouxe uma de reserva também.
- Que bom! Obrigado!
- Fernando! Tem certeza de que irá fazer isso mesmo? Não há outra saída?

- Não, Sabino! Nossas missões do outro lado do mundo empurraram as drogas e seus traficantes para cá! Pesquisei sobre esta região na Internet 4 e a Ásia se transformou hoje no que era a América do Sul há quinze anos! Toda esta região está infestada pelo mesmo mal que forçou o uso das missões de nossa embarcação militar.

- Sinto muito por isso, meu amigo! (declara Sabino).
- Eu também! Parece que nunca conseguiremos eliminar todos os males do mundo! Acho que a raça humana está condenada a viver entre o bem e o mal para sempre! Não importa o quanto nós evoluamos! Não importa quantos corruptos, bandidos, assassinos, terroristas, traficantes e guerrilheiros sejam mortos... sempre haverá alguém para substituir os que já foram...! Parece uma praga que se alastra pelo mundo!

- É! Acho que precisaríamos de uma frota de barcos invisíveis para combater este problema!
- Mas eu não sei se encontraríamos Sabinos e Everardos suficientes para fazer parte desta frota...! (declaro eu).

O militar da marinha sorri e declara:

- Mesmo que isso fosse possível, jamais teríamos Fernandos suficientes para registrar tantas batalhas!

Sorrio para ele e declaro:

- Acho que estamos ficando mesmo velhos! Já estamos elogiando um ao outro..., ficamos saudosos rapidamente..., vivemos falando dos velhos tempos...!
- É! Mas eu enfrentaria mais quinze anos de lutas ao seu lado! (declara a mim, Sabino).
- Viu o que eu disse? (declaro eu).

Ambos sorrimos para a brincadeira enquanto chegamos perto de meu carro que abre automaticamente as portas. Sabino coloca a mala dele no porta-malas e nós dois entramos no veículo. Os vidros escurecem por inteiro, deixando-nos numa conversa totalmente reservada ali dentro.

- Gostaria de ficar aqui com você para poder tomar o seu lugar nesta guerra! (declara Sabino). Mas não posso! O general Severo pediu que eu voltasse imediatamente ao Brasil para aguardar por lá os desdobramentos sobre as nossas missões.

- Entendo, amigo! Mas darei conta sozinho disso! Afinal, não é uma guerra! Eu apenas quero evitar que Poti se meta em encrencas com este grupo de traficantes. Claro que preferiria estar com todos vocês juntos aqui para combatermos mais uma vez antigos inimigos..., mas acho que esta empreitada é só minha agora! Me preparei por quinze anos com vocês! Acho que estou pronto!

- Quem sabe no futuro..., dependendo da reação da supercomunidade e do restante do mundo sobre o que fizemos nestes últimos anos..., talvez possamos retornar a ativa e terminar este serviço aqui na Coreia também...?

- Não, meu amigo! Tenho a impressão de que o barco invisível não mais será "visto" por aí! E também não tenho mais ilusões nesta vida! A humanidade é muito heterogênea! Sempre há para cada grupo de pessoas uma ovelha negra que põe tudo a perder. Mesmo que um desastre elimine a humanidade e reste apenas uma única família viva no mundo para continuar a nossa espécie... sempre haverá um Caim esperando para pôr fim à vida de outro desatento Abel!

- Espero que esteja errado! Mas se sobrar apenas uma família neste planeta... tomara que seja a sua, a escolhida! (declara Sabino).

Fernando sorri sem mostrar os dentes para o amigo! Um sorriso triste e amargo demonstrando a preocupação sobre o que ele terá que fazer daqui para frente.

- Você só confirma que estamos mesmo ficando velhos! (digo eu para o sorridente militar brasileiro). Tenho uma difícil missão pela frente, Sabino! Se a coisa for grande demais... talvez eu nem possa devolver tão cedo o que acaba de me trazer...!

- Não se preocupe com isso neste momento. Cuide-se! Se tudo der certo no Brasil, vou dar um jeito de convencer Severo a falar com a Presidente do Brasil para atuarmos aqui na Ásia, começando pela Coreia. Assim eliminaremos os velhos inimigos: traficantes e fabricantes de drogas, agora todos de olhos puxados!

- Não se iluda, Sabino! O governo coreano saberá que estamos agindo em seu território se fizermos isso! Depois da abertura da documentação secreta não poderemos mais atuar em lugar algum. O barco invisível foi aposentado para sempre! Nunca mais poderá navegar novamente como uma plataforma de combate! Todos sempre saberão que estivemos ali, mesmo que agindo invisíveis. Esta história já acabou! Mas infelizmente muitos dos inimigos continuam vivos e atuantes. Como eu disse antes... acho que a banda podre da humanidade é uma praga difícil de ser exterminada...! E você? O que fará de agora em diante em sua vida?

- Agora vou voltar imediatamente ao Brasil. Já tenho a passagem de volta! É para daqui a trinta minutos.
- Ainda bem que os voos são muito rápidos! Do contrário esta sua viagem seria muito desgastante!

- Estou mais velho, mas estou bem, meu amigo...! Vou começar a dar palestras assim que formos inocentados...! Desconfio que serei muito requisitado para contar histórias e desenvolver novos projetos militares para o futuro. Acho que vai dar para ganhar um bom dinheiro...! (declara Sabino enquanto eu concordo com a cabeça e sorrio, sem mostrar meus dentes). Boa sorte com esta sua nova aventura, meu amigo! Tome cuidado! Não se exponha em demasia!

- Pode deixar! Só pretendo acabar com o problema de minha filha. Trabalho simples, rápido e invisível.
- Até mais, meu amigo! Boa sorte! (deseja Sabino saindo de meu carro e me deixando a mala de presente com o brinquedinho que eu usarei).
- Para você também! (declara Fernando).

Agora terei que matar pessoas! Algo que nunca fiz pessoalmente e que sempre fui contra. Mas desta vez é pessoal! O combate chegou até a minha própria casa e família! E eu só aprendi um modo de lutar contra isso! O problema é que se Poti descobrir o que vou fazer... poderei perdê-la para sempre! Chego em casa mantendo o material que recebi de Sabino escondido no porta-malas de meu carro! Para retirá-lo dali precisarei ter certeza de que ninguém estará em casa. Encontro apenas Chin-Mae em nossa residência.

- Olá, querida!
- Oi, Fê! Está tudo bem? Parece preocupado!?!?
- Eu...? Sim...! Estou...! Poti é a minha preocupação atual!
- De todos nós, não é?
- Tem mais alguém em casa agora, Chima?
- Não! Apenas eu e você? Por quê? No que está pensando em fazer...? (indaga ela com cara de safadinha).
- Eu quero fazer uma coisa, mas preciso de sua ajuda para isso!
- É mesmo? E o que vai ser hoje? (indaga ela, ainda usando aquela carinha enquanto se aproxima de mim e envolve meu pescoço em seus braços).
- Bom...! Não quero mentir para você..., mas o que vou fazer hoje poderá lhe abalar profundamente!
Chin-Mae larga de meu pescoço e se afasta aparentando uma preocupação.
- Fernando! Estou começando a ficar preocupada com isso! O que você está planejando afinal!
- Vou mostrar para você...! Só um minuto...! (digo eu retornando para o carro que abre sozinho o porta-malas para mim).

Toco na alça da mala que aciona automaticamente o sistema de levitação magnética, tornando-a superleve! Eu a carrego para dentro de casa enquanto o porta-malas do carro se fecha sozinho.

- Onde arrumou isso? Em algum sexy shop?
- O quê...? De onde tirou esta ideia...? (indago eu sem entender muito bem o que ela queria dizer com isso). Não...! Um amigo trouxe para mim...!
- Olha! Eu não sei o que tem aí, mas já vou avisando que não vou me submeter a nenhum tipo de tortura ou objetos!
- Chima...!?!? Do que está falando...? Por que acha que eu faria isso a você...? Isso aqui é para eu espionar Poti...!
- O quê...? Fernando...! Diga logo o que está acontecendo...!
- Calma! Eu vou vestir isso e você verá do que se trata! (digo eu à minha preocupada esposa). Vamos para o quarto? (sugiro eu levando a mala para lá).

Chin-Mae vem logo atrás muito preocupada com o meu comportamento. Coloco a mala sobre a nossa cama e a abro. Retiro do interior o capacete e a roupa especial que estava ali. A seguir tiro a minha roupa e visto a outra. Acionada pelo controle mental meu corpo todo fica invisível, deixando apenas a minha cabeça visível, porque eu não pus ainda o capacete invisível. Porém a minha esposa não gosta do que vê..., ou não vê!?!?

- O que pretende fazer com isso, Fernando?
- Vou vigiar os passos de Poti! Preciso saber como é esse cara que ela está namorando e se preciso for...

- O que fará, se preciso for...? Matará todo o grupo de traficantes, amigos do rapaz...? E depois...? Irá matar o namorado de sua filha também...? Vai se transformar em assassino...? Justiceiro...? E se Poti descobrir isso tudo...? Como acha que ela se comportará daí em diante com você...? E se a polícia coreana descobrir o autor destes assassinatos...? Está disposto a aceitar as consequências de tudo isso...?

- Você fez mais perguntas do que posso responder...! Qual foi a primeira, mesmo...?
- Pare de brincadeiras, Fernando! Isso é muito sério...! Até onde está disposto a ir com essa roupa?

- Eu não sei, Chima...! Mas não posso deixar que estes monstros..., que passei a vida combatendo..., cheguem e tomem conta de minha menina...! Estou disposto a enfrentar até a morte para salvá-la deles...! Não vou permitir que ela se perca neste mundo podre em que entrou...!

- Eu entendo a sua dor, querido...! Também sinto que temos que fazer algo sobre isso! Mas... matar pessoas... nunca esteve em meus planos para salvar Poti.
- E quais seriam seus planos, Chima? Como pretendia salvá-la deles?
- Pensei em nos mudarmos para outro país...! Outro lugar...! Diferente deste aqui...!

- Eu não quero fugir disso! Além do mais..., você estaria jogando fora todo o trabalho de sua vida, ajudando a Coreia a viver reunida novamente...! E você acha que a sua irmã, Júnior e Poti aceitariam ir embora daqui...? Acha que iriam conosco para outro lugar...? E acha que neste outro lugar seria diferente...?

- Não sei, Fê...! Mas penso que seu plano é muito arriscado...! Poderá morrer ou colocar a todos nós em um perigo ainda maior, se o que fizer for descoberto pelos traficantes ou pela justiça coreana...!
- Eu sei, Chima! Por isso não poderei falhar...! Estarei invisível diante deles gravando tudo o que fizerem e disserem...! Depois enviarei o material à polícia e esperarei que eles apodreçam na cadeia por muitos anos.

- E se parte da polícia estiver envolvida com as drogas, Fê? Não pode acreditar que os traficantes se espalharam por todos os lugares da Ásia, sem algum tipo de apoio de muitos políticos e policiais corruptos...! Esse foi um dos motivos das drogas terem crescido tanto na América do Sul, não foi?

- Sim! Você tem razão! Foi por isso que o barco invisível foi criado! Porque as instituições estavam muito contaminadas e não eram mais confiáveis...! Isso me leva de volta ao "Plano A". Não vejo outra escolha... senão agir em nome das instituições coreanas...! Estes traficantes terão que desaparecer daqui... e não nós..., querida! (digo eu).

- Cuidado, meu amor! No Brasil você era apenas um observador neutro e estava amparado pela marinha. Tratava-se de uma operação militar, respaldada pela constituição e pelo poder soberano de seu país...! Aqui, na Coreia, você é apenas um convidado de nosso sistema político..., porque se casou comigo...! Se fizer o que pretende... nenhum de nós terá paz no futuro! Traficantes nos procurarão vivos ou mortos se a polícia coreana não o prender. Além do mais, as pessoas de todo o mundo já sabem sobre o barco invisível. Eu tenho recebido continuamente ligações de repórteres de todo o mundo para conceder entrevistas. Poti está reclamando disso para mim também. Se os traficantes daqui souberem que algo invisível atuou contra eles... ligarão este fato a você...! Estaremos perdidos!

- Mas se eu deixar Poti se envolver ainda mais com estes caras... nenhum de nós terá paz de espírito...! É um beco sem saída quando as drogas batem as portas de uma família, Chima...! Hoje existem tratamentos médicos para ninguém mais permanecer viciado...! Mas os traficantes agora também não largam mais daqueles que param de usar as porcarias que vendem! Eles ameaçam as famílias dos ex-viciados que se transformam em "
mulas*" para transportar drogas e fazerem parte do tráfico! Não há mais saída depois que o envolvido se aprofunda nestes grupos! Tenho que acabar com isso agora enquanto é tempo!

- Estou com medo, Fê! Tenho um mau pressentimento sobre isso que irá fazer!
- Sinto muito, Chima! Não estou vendo outra saída! Seguirei Poti e descobrirei os planos deles. A vida de crimes deste grupinho... acabará muito em breve e nossa filha estará livre destes crápulas. Mas eu preciso de sua ajuda, meu amor, para poder segui-la!

Eu coloco o capacete e me torno totalmente invisível para a minha esposa que "me olha" preocupada! Pouco tempo depois Poti chega em casa. Eu, Fernando, estou totalmente invisível à espera dos próximos acontecimentos. A roupa é meio claustrofóbica. No interior do capacete microventiladores levam o ar quente que meu corpo produz para cima e para fora, eliminando-o por pequenos furos protegidos da chuva no topo da estrutura sobre a minha cabeça. A minha visão do ambiente ao redor é toda pautada através de microcâmeras que circundam o capacete. Assim, sem ter que me virar, posso ver 360 graus o que auxilia muito. Esta é a nova tecnologia chamada há muito tempo de "Realidade Ampliada". Os novos microfones captam o som por todos os lados com grande nitidez amplificando sussurros e reduzindo os excessos de barulhos.

- Oi, mãe! Papai está em casa?
- Não, minha filha!
- Mas o carro dele está na entrada!?!?
- Ele saiu novamente de táxi!
- Humm...! Que pena...! Eu queria tanto ver meu pai sempre por aqui para abraçá-lo! Fiz tão pouco isso nestes últimos quinze anos...!
- Ele estará mais presente de agora em diante, minha filha! Estará sempre perto de você, acredite!

Poti sorri levemente e demonstra não acreditar muito nisso!

- Mãe! Vou sair novamente! Preciso resolver uma situação!
- Aonde vai agora? Acabou de chegar da rua!?!?
- Depois eu te conto!
- Poti! Tome cuidado com esse pessoal com quem anda metida! Eles são perigosos e irão te envolver em alguma coisa ilícita muito em breve.

- Eu sei disso, mãe...! Percebi que papai ficou muito triste ao saber com quem estou me relacionando...! Não quero vê-lo desta forma...! Acho que não merece isso de mim...! Vou dizer ao Lee... que não iremos mais sair juntos...! Não estou gostando daquela vida...! Cada vez que vou me encontrar com ele... sinto que eu não deveria estar naquele lugar...! É um peso em minha consciência... algo que não deveria fazer parte de minha vida...! Além do mais..., odiei ter tomado aquela droga...! Isso me fez lembrar quando perdi toda a minha família no Amazonas...! Sinto-me muito triste em deixar de vê-lo..., mas acho que no final... será melhor assim!

- Mas... acha que Lee aceitará o fim do relacionamento?
- Eu não sei, mãe...! Espero que sim...!
- E se ele ficar violento...?
- Lee não é violento...! Ele é doce e respeitador...! Me trata superbem...! Acho que provavelmente chorará muito com a minha decisão...!

Eu, Fernando, ao ouvir aquilo, resolvo ir até o carro de Poti para esperá-la. Chima está me dando cobertura enquanto saio pela porta dos fundos. Fico esperando lá fora a minha filha chegar até o carro.

- Espero que tenha razão, Poti! (declara Chin-Mae, ainda conversando com Poti). Não acha melhor encontrá-lo em algum lugar público para dizer o que irá dizer?
- Lee não gosta de muita gente próxima, mãe...! Prefere o isolamento...! O escuro...! Assim ele fica mais calmo e mais fácil de se lidar!
- Tome cuidado, minha filha!
- Eu ia pedir ao papai para ir comigo até lá..., mas como ele não está aqui..., vou sozinha mesmo! Quero tirar este peso de minha consciência o mais rapidamente possível!
- Tenho certeza de que seu pai estará com você em pensamento e te dando a maior força. Ele ficará muito contente em saber de sua decisão!

Poti abraça a mãe e sai de casa novamente sorrindo de forma triste para ela. A bela mulher de cabelos longos e fios lisos e densos, aproxima-se do veículo cuja porta-gaivota se abre, expondo o banco da frente e de trás ao mesmo tempo. Eu, Fernando, me sento no banco traseiro, enquanto a minha filha Poti se senta no dianteiro. A grande porta-gaivota se fecha novamente. Ficarei junto de Poti o tempo todo! No momento eu, invisível no banco traseiro, fico apenas observando-a enquanto liga o veículo, que começa a andar. Pelo retrovisor vejo uma lágrima correr pelo rosto dela. A tristeza de ter que optar entre a família e seu adorado namorado... a está consumindo! Sei que os próximos dias serão muito difíceis depois disso! Poti é uma filha de ouro! Eu queria poder abraçá-la! Dizer que estou aqui, para o que der e vier...! Mas não posso fazer isso...! Estou invisível... e quanto menos pessoas souberem disso..., melhor. Talvez o rapaz..., o tal de Lee..., não seja alguém mau...! Talvez ele seja também uma vítima inocente de tudo isso...! Quem sabe eu possa salvá-lo dos amigos traficantes... e assim deixar Poti e ele felizes...! Vou avaliá-lo bem...! Inesperadamente minha filha faz uma ligação mental... para mim!!!!!

-
Oi pai, onde você está?

Ainda bem que não precisamos mais conversar usando as cordas vocais e sim apenas o pensamento, senão eu nem poderia atender esta ligação.

-
Oi, meu amor! Estou na rua! E você? Onde está?
- Também estou na rua...! Pai...! Eu te amo, tá...?
- Eu também, Poti! Mais tarde estarei em casa...! E poderemos conversar bastante como fazíamos quando você era criança..., se lembra?
- Pai...! Se alguma coisa der errada hoje... quero que saiba que eu sempre te amei...! E tudo o que faço na vida... é para alegrá-lo e deixá-lo feliz comigo...!
- Nada dará errado, Poti...! Eu posso lhe garantir que tudo será muito bom para todos nós daqui para frente...! Sempre que precisar, estarei com você...! Eu juro...!
- Tá...! Mais tarde nos falamos então! Beijos, pai!
- Beijos, minha indiazinha!


Poti desliga a comunicação mental e mais uma lágrima desce pelo seu rosto. Aquilo está partindo meu coração! Acho que ela está com medo de que Lee fique violento quando ela disser que não irá mais encontrá-lo. Mas eu estou ali...! Vivi invisível por quinze anos...! Continuo assim..., mas agora... ao lado dela. Entramos em um bairro muito chique da ilha Wan-do! O carro para! Poti enxuga as lágrimas, respira fundo e desce do veículo. Aproveito a porta-gaivota aberta e também saio dali, já que ambos os assentos, dianteiro e traseiro, ficam expostos para entrada e saída neste momento.

Estamos caminhando em direção a uma casa muito bonita. Poti olha para trás, desconfiando de alguma coisa! A princípio achei que seria por minha causa, mas depois comecei a achar que tinha a ver com os vizinhos. Enfim...! Chegamos até a entrada principal. A porta do local se abre sozinha. Acho que ela estava falando com o namorado mentalmente. Este é o problema de hoje em dia! Nunca sabemos quanto tempo uma pessoa fica fazendo ligações mentais! Tudo é muito discreto! Entramos no local. Tudo aqui é muito lindo...! Muito chique...! Começo a achar que a família do rapaz é bem-de-vida!

Inesperadamente surge uma imagem aterradora vindo do interior da casa! Um jovem com aparência de demônio usando pequenos chifres implantados sob a pele da cabeça, cabelos longos, lentes de contato que simula o olhar assustador dos felinos, uma capa negra tipo "Matrix" e um sorriso que me induzia a querer matar aquilo agora mesmo! Saco a minha arma invisível e a aponto na direção daquela alma penada infernal, mas Poti anda na direção... daquilo...! Ele a abraça, para meu espanto! E minha filha o cumprimenta:

- Olá, Lee!

Eu quase não consigo me conter...! Quase grito o nome de Poti para ela se afastar daquele... monstro..., mas me lembro de que estou invisível e não posso me denunciar ainda...! Engulo a seco...! Com muito ódio...! E com uma terrível vontade de atirar sem parar naquela... criatura infernal... que abduziu a minha filhinha...! Enfim..., me controlo... e fico ouvindo a conversa:

- Eu estava com saudades de você, Potizinha!

Potizinha...?!?! Como aquele demônio ousa chamar minha filha deste jeito...?!?! Deus...! Dê-me paciência..., porque se me der mais força eu mato ele agora...!!!! (penso eu).

- Lee! Preciso lhe dizer uma coisa importante...! (declara Poti).
- Vamos entrar, meu amor...! Tenho uma surpresa para você...!
- Lee...! Vamos conversar primeiro...!
- Não...! Não...! Primeiro a surpresa... depois quero ouvir a sua opinião sobre isso...! (declara Lee).

Eu sigo o casal bem de perto. Ainda com a arma na mão e a aponto para a nuca daquele sujeito, mas não consigo matá-lo! Tudo bem! Ainda não é a hora! Ao entrarmos na casa, vejo uma gangue de sujeitos tão ou mais esquisitos do que Lee! Todos os sete caras são mal encarados, armas na cintura e usando a mesma roupa negra e longa de Lee. Uns estavam bebendo! Outros caminhavam pela sala olhando pela janela de vidro para fora e um deles estava sentado no sofá.

- O que está acontecendo aqui, Lee? (indaga Poti, assustada).
- Estamos nos preparando para um negócio muito grande! E vamos precisar de você hoje!
- De mim?!?! Como assim?!?!
- Poti! Com a sua beleza, poderemos entrar no museu da ilha sem chamar a atenção para nós.

Como se um sujeito fantasiado de demônio pudesse ficar escondido da vista das outras pessoas, penso eu!

- Como assim? Do que você está falando? (indaga Poti, já nervosa).
- No museu estão algumas relíquias importantes que alguém no Vietnã está disposto a pagar uma fortuna para tê-las na própria sala de jantar!
- Está falando em roubo...? É isso, Lee...? Quer me usar num roubo agora...? Ficou maluco...?
- Não...! Nunca fui maluco e detesto esta palavra...! E se usá-la novamente se referindo a mim... terei que fazer algo a você que não irá gostar!

Aquilo foi a gota d'água para mim! Ameaçar a minha filha?!?! Não pode...!!!! Mesmo assim me seguro para ver se Poti poderia sair daquele lugar sem se ferir.

- Poti! Você entrará pela porta da frente usando uma saia bem curtinha e um decote provocador! (informa Lee). Quando todos no local estiverem olhando para você... nós entramos e anunciamos o roubo. Aí levamos o que queremos e damos o fora deste paizinho medíocre.

- Se vivemos num paizinho assim é por causa de pessoas como você...! (declara, nervosa, Poti). Este não é o Lee que eu pensei que conhecia...! Nunca me tratou desta forma antes...! Eu te amo... e achei que me amava também...! Mas você só estava me usando este tempo todo, não é? Mas se engana se acha que eu colaborarei com isso?
O que pensa que eu sou?

- O que você é..., ou deixa de ser..., não me importa! O fato é que... se não colaborar conosco... sua família pagará um preço bem alto por isso...!
-
Você não vale nada...! Meu pai me avisou sobre isso...! Se ele estivesse aqui diria isso na sua cara...!

- Mas o papaizinho da indiazinha não está aqui agora...! (declara Lee enquanto os comparsas sorriem). E se ele estivesse aqui... eu, primeiro daria uma surra nele..., e depois eu o mataria na sua frente..., se você dissesse que não irá colaborar conosco nesse "projeto"...!

-
Desgraçado! (declara Poti).

Lee a agarra forte pelos longos cabelos, entortando a cabeça de minha filha para trás.

-
Aiiii! (grita ela).
- Vai nos ajudar... ou eu terei que visitar a sua família? (declara Lee, fazendo seu ultimato final).

Isso não ficará assim! (penso eu sob o manto da invisibilidade). Aquele ultimato se transformará num: "eu te mato, Lee", muito em breve! Mas atirar agora poderia por em risco a vida de Poti. Eu preciso permanecer frio neste momento, apesar de meu sangue correr com uma enorme dose de adrenalina por todo meu corpo. Estou muito próximo do casal. Poderia acertar um forte soco no nariz daquele demônio e ele cairia no chão desmaiado.

Posso sentir o calor do corpo de Poti perto de mim apesar da roupa que me envolve por completo. Percebo o corpo trêmulo de medo de minha filha diante daquela situação. Minhas mãos se movimentam em direção a ela, mas eu recuo novamente. Tenho que me manter calmo! Só vou agir quando tiver certeza de que Poti está segura. Ahhh! Acabo de ter uma ideia enquanto Poti liga para polícia e mentalmente informa o endereço de onde está e qual é a situação emergencial!

-
Está bem...! Está bem...! Eu ajudo vocês...! (grita Poti ainda presa pelos cabelos). Mas não mexa com ninguém de minha família. Eles não têm culpa de eu ser burra por ter achado que você é o que obviamente parece ser... um demônio idiota e arrogante!

- Se continuar me xingando, indiazinha..., vou providenciar algumas alterações relevantes neste rostinho lindo...!
- Não me importo com o que fará comigo! Desde que se esqueça de minha família!
- Está bem...! Faça tudo o que combinarmos aqui e sua família nunca saberá que existimos...! (declara Lee).

Poti acabara de fazer um pacto com o demônio..., literalmente! Mas eu estou presente e aqueles planos infernais estão prestes a mudar! Aproximo-me de um dos idiotas do grupo. Percebo a arma na cintura dele. Posiciono-me por trás dele e o agarro com força, tampando com uma das mãos a boca do infeliz. Ele tenta se livrar de mim, mas não pode! Esta roupa aumenta a minha força em três vezes.

Então ele agarra a arma da cintura com uma das mãos. Eu a seguro junto com ele. O sujeito dispara um tiro na direção de um dos comparsa, matando-o imediatamente. Atônicos os outros também sacam as suas armas e atiraram todos juntos contra ele. Minha roupa invisível e a prova de balas me protegeu da péssima pontaria de alguns daqueles idiotas, mas o infeliz não teve a mesma sorte e morre em meus braços.

-
Que diabos está acontecendo aqui? (indaga Lee, sacando a sua arma e olhando aturdido para os dois comparsas mortos e depois para os outros ainda vivos). Por que isto está acontecendo?
-
Também não estou entendo, Lee! Será que ele não aguentou a pressão? (indaga um dos comparsas).
-
Talvez ele estivesse ligado a um grupo rival, chefe! (declara outro integrante do grupo ao Lee).
-
Que droga! Quem mais aqui pertence a um grupo rival? (indaga Lee segurando a arma na direção dos comparsas).
-
Calma aí, Lee! Ninguém aqui está te traindo! (comenta um dos colegas com a arma na mão).
-
É mesmo? E por que aquele ali atirou num de nós? (indaga novamente o ex-namorado de minha filha).
-
Não sabemos! Talvez ele tenha ficado louco!

Eu aproveito o momento e agarro o braço deste último que fez o comentário posicionando a arma dele na direção de outro colega. Agora eu o forço a atirar.

- Eiiii! (grita ele sem saber quem o estava segurando).

Mais um comparsa fora morto. Os outros, assustados com o que estão vendo, atiram diversas vezes contra o sujeito que eu manipulei, matando-o também. Agora ninguém mais acredita em ninguém neste bando. Lee rapidamente agarra Poti e se posiciona atrás dela para não ser atingido pelos últimos três que ainda estão vivos! Cada um procura encontrar um lugar seguro para se proteger dos tiros dos outros. O único que está de pé e covardemente seguro atrás do corpo de minha filha à frente dele. Ela está muito assustada e sem saber o que esperar de tudo aquilo.

-
Que diabos está acontecendo aqui? (grita Lee com os olhos postiços de gato arregalados de pavor).

Eu, Fernando, consegui trazer o inferno para interior daquela casa. E até o "demônio" Lee, está assustado com isso!

-
Quem são vocês? Por que estão se matando uns aos outros? (grita Lee aos outros comparsas).

Agora seria difícil eu continuar com o plano de um matar o outro. Estão todos protegidos atrás de móveis e paredes. Parece que agora poderei eliminar um por um. Mas a minha filhinha está correndo muitos riscos aqui. Talvez eu tenha me precipitado com a minha ação. Mas agora não há mais volta. Tenho que terminar com o que comecei! E tem que ser agora! Aproximo-me lentamente do sujeito que está atrás de uma das paredes e com a arma em punho.

-
Lee! Vamos acabar com isso agora! (grita o sujeito de quem eu estou me aproximando). Isto aqui não está fazendo nenhum sentido para mim! Achei que poderia confiar em você e neste grupo!
- Do que está falando, cara?
(responde Lee em pé no meio da sala). Vocês é que estão matando uns aos outros! Eu também não estou entendendo nada disso!

Invisível, saco a minha arma e aponto para a cabeça daquele crápula escondido atrás da parede. Mas não é fácil puxar o gatilho de uma arma e matar alguém a sangue frio! Minha mão começa a tremer e eu simplesmente não consigo atirar! Preciso fazer isso para salvar a minha filha, mas não estou conseguindo! Então, inesperadamente para mim, alguém lá fora grita para todos nós:

-
Aqui é a polícia de Wan-do! Saiam todos de mãos para cima! A casa está cercada e não há por onde fugir!

Agora os três estão apavorados de vez, incluindo Poti. Não poderão ajudar uns aos outros porque acreditam agora que são inimigos! E não poderão fugir porque não há para onde! Se minha filha não estivesse aqui comigo eu estaria comemorando, mas preciso ainda salvá-la disso tudo! Agora não posso continuar atirando e nem forçando-os a atirar! E se isso acontecer, a polícia poderá entrar atirando e acertar Poti. O que posso fazer então?

-
Este é o último aviso! Saiam todos com as mãos para cima e bem lentamente.

Lee olha para todos os lados imaginando o que poderá fazer agora! Deu tudo errado! As armas e as drogas no local poderão condená-los a muitos anos de cadeia! Resolvo ajudar um pouco a polícia. Guardo a minha arma invisível! Posiciono-me bem de frente para aquele sujeito que há pouco não consegui matar a sangue frio.

Fecho meu punho direito!! Faço uma boa mira no queixo do idiota e desfiro um forte soco. O sujeito desmaia instantaneamente. Ele e sua arma caem no chão! Eu a chuto para longe dali! Lee vê toda a ação e a arma de seu comparsa passar correndo pela sala até entrar em baixo de uma poltrona do local. Ele não está entendendo o que está acontecendo! Encaminho-me em direção ao outro que estava atrás de um móvel ali perto.

-
Se não se renderem e entregarem as armas... vamos invadir e atirar em todos! (grita o policial lá fora).

Lee não sabe o que fazer! Está preocupado segurando Poti pelos cabelos e apontando a arma para a cabeça dela. Eu acerto o segundo comparsa também no queixo! Mais uma arma cai ao chão, outro inimigo abatido. Eu novamente chuto o perigo para longe na direção de mais uma poltrona.

- Quem está fazendo isso? Tem alguma coisa errada aqui! (diz Lee falando baixinho no ouvido de Poti).
- Entregue-se logo, Lee! (sugere Poti). A polícia vai entrar a qualquer momento e atirar em todos nós.
- Cale a boca! Cale a boca! Tem algo mais acontecendo por aqui! Esta casa foi invadida por alguma coisa anormal!
- A única coisa anormal aqui é você, criatura! (declara Poti).
- Cale a boca! Tem uma passagem secreta nesta casa! Eu e você vamos para lá! Quando a polícia entrar... não nos encontrará!

Em poucos segundos eu acerto o queixo do último sujeito que estava escondido. Agora só falta o chefe da quadrilha. Mas tenho que tomar cuidado! Ele não pode matar a minha filha! A polícia invadirá em breve o local e eu não quero que acreditem que fora Poti quem acabou com todos os bandidos! Do contrário ela irá para a cadeia em meu lugar. Como eu faço isso?

Lee se encaminha para uma porta do local e entra ali com minha filha como refém. Vou atrás, mas não deu tempo, a porta de correr se fechou em minha frente. Aproximo-me! A porta desliza novamente se abrindo! Lee dá dois tiros certeiros em meu peito. Ainda bem que a roupa é a prova de balas! A fumaça dos tiros envolve meu corpo invisível. Poti e Lee veem o contorno de minha roupa e capacete, enquanto caminho na direção deles.

-
Pai!?!? (declara Poti, para meu espanto e o de Lee).
-
Você disse: "pai?!?!" (diz Lee encostado na parede com minha filha entre nós). Seu pai é um fantasma?!?!
-
Sou da floresta, se lembra? (diz ela para o ex). O espírito de meu pai me protege há muito tempo!

Paro diante dos dois sem dizer nada. A fumaça vai se desfazendo e volto a ficar totalmente invisível para os dois. Num gesto inesperado, Lee se entrega:

-
Está bem...! Está bem...! Diga a seu pai para não me matar que eu me entrego...!

Ele larga a minha filha e joga no chão a arma que a ameaçava! Poti se afasta dele e dá um chute bem entre as pernas do rapaz que cai de joelhos no chão por conta de tanta dor. Eu faço uma ligação mental para Poti e digo a ela o que deve dizer ao Lee!

-
Agora diga para a polícia que irá se entregar! (ordena Poti ao infeliz).
-
Está bem! Eu digo! (responde ele ainda ajoelhado no chão e sentindo muitas dores na região entre as pernas).
-
Diga que eu era sua refém e que sairei primeiro!
-
Está bem! Eu digo! (comenta ele tentando se levantar lentamente do chão).

Aproveito o momento e chuto a arma do rapaz para bem longe. Poti e Lee veem a arma correndo rapidamente pelo chão e desaparecendo sob outro móvel do local. Ambos ficam impressionados com isso! Sou real para ambos, mas ainda invisível. O sujeito grita para a polícia conforme combinado:

-
Eu me entrego! Vou deixar a refém sair primeiro!

Poti sai lentamente sob a mira dos policiais enquanto eu fico lá dentro ao lado daquele monstro em aparência e no coração.

-
Agora saiam todos com as mãos para cima, bem devagar! (grita o homem da polícia).
-
Só estou eu vivo aqui! Estou saindo! (declara Lee comigo bem perto dele).

Aproveito o momento e o ameaço:

-
Se ameaçar minha filha novamente... voltarei para acabar com você!

O capacete deste traje possibilita que a minha voz seja deformada e fique tão tenebrosa quanto a de Sérgio, simulando a caveira fantasmagórica! Lee olha para trás em minha direção, respirando ofegante e morrendo de medo de algo que não vê! Aliás, ele não tem a menor ideia do que está realmente acontecendo.

Por enquanto eu lhe pareço um fantasma real, mas quando o sujeito souber a verdade..., se ele sobreviver à cadeia... isso poderá ser um problema no futuro para a minha família! Por enquanto estamos a salvo. Lee abre a porta externa da casa com cautela e os policiais, apontando as armas para o sujeito, o detêm. Poti, mais aliviada, está sendo amparada por alguns policiais que lhe fazem diversas perguntas sobre o ocorrido. Recebo agora uma ligação mental inesperada:

-
Pai...! Obrigada...!
- Poti...! Desculpe-me...!
- Eu é que peço desculpas, pai!
- Como disse antes... a partir de agora estarei sempre presente... mesmo que invisível.


Poti sorri levemente para o que eu disse, enquanto a polícia finaliza as perguntas a ela sobre o ocorrido. Eu aguardo junto ao carro de minha filha até que seja liberada. Pouco tempo depois ela se aproxima e a porta-gaivota se abre, expondo os bancos da frente e de trás ao mesmo tempo.

- Você não prefere ir comigo no banco da frente, pai? (indaga ela a mim, ainda invisível).

Eu me comunico mentalmente com Poti e a informo de minha decisão:

-
Vamos logo embora daqui, minha filha! Tem muitos policiais neste local e eu não quero que eles percebam o que está acontecendo.

Ela entra no veículo e eu vou sentado no banco traseiro. Olho pelo retrovisor e vejo os olhos de minha filha me encarando, ou melhor, encarando o vazio.

- Eu não sabia que você tinha esta roupa guardada! (declara ela).
- Eu não a tenho! É um empréstimo para uma ocasião especial! (respondo eu).
- Estou feliz que tenha estado ao meu lado no momento em que mais precisei!
- Desculpe-me por não ter feito isso mais vezes antes, minha filha. A vida nos empurra por caminhos que às vezes não queremos! Ou às vezes queremos, mas isso nos força a deixar outras coisas importantes para trás.
- Eu entendo o que quer dizer, pai! Acho que fiz a mesma coisa quando me apaixonei por aquele... idiota!
- A propósito! O que viu naquele sujeito que possa lhe ter atraído tanto? Não imagino o que possa ter sido!

- Na verdade! Eu procurava alguém diferente... assim como eu me sinto aqui na Coreia! Todos me veem como uma invasora nesta região! As mulheres viram o nariz para mim e os homens querem me conquistar, só porque sou diferente! Acho que Lee foi um espelho do que sinto em minha vida. Alguém que entenderia o que eu estou vivendo por aqui!

- Olha...! Se ele é um espelho seu...! Deve estar quebrado...! Porque só mostra a imagem do demônio!
- Você entendeu o que eu estava querendo dizer..., pai! Que bom que voltou para casa...! E na hora certa...!

Eu sorrio para ela, mesmo que não esteja me vendo neste momento. Só vou tirar esta roupa quando chegar em casa. Não quero que ninguém me veja! Ao menos, por enquanto, o fantasma ainda vive! Quando chegar em casa avisarei a todos que terei que voltar ao Brasil para o julgamento! Parece que o destino não quer me deixar viver perto da família! Mas talvez desta vez... poderei ser até mesmo condenado à morte!

CAPÍTULO IV
CULTO AO FANTASMA

CAPÍTULO XXXIV
VASO ENTUPIDO

CAPÍTULO V
FIM DAS MISSÕES

CAPÍTULO XXXV
REDE CRIMINOSA

CAPÍTULO VI
MUNDO COMPUTADORIZADO

CAPÍTULO XXXVI
ENCONTRADO

CAPÍTULO VII
VISITANTES

CAPÍTULO XXXVII
DOENTE RECUPERADO

CAPÍTULO VIII
ASSASSINATO DE CLONES

CAPÍTULO XXXVIII
A SENTENÇA

CAPÍTULO IX
FANTASMAS DO PASSADO

CAPÍTULO XXXIX
O FIM DA INTERNET 4

CAPÍTULO X
UMA PRECE AO FANTASMA

CAPÍTULO XL
NAVE ALIEN

CAPÍTULO XI
A PRISÃO DO INVISÍVEL

CAPÍTULO XLI
O VIGÁRIO VIGARISTA

CAPÍTULO XII
DE VOLTA À COREIA

CAPÍTULO XLII
HERÓI DESAPARECIDO

CAPÍTULO XIII
HACKERTS

CAPÍTULO XLIII
A FUGA DOS INOCENTES

CAPÍTULO XIV
FANTASMA AMERICANO

CAPÍTULO XLIV
NAVE-PLANETA ALIEN

CAPÍTULO XV
ESTRANHOS RESULTADOS

CAPÍTULO XLV
SÓ MAIS UM ANO

CAPÍTULO XVI
A MENTE DOS FIÉIS

CAPÍTULO XLVI
SEGUNDA CHANCE

CAPÍTULO XVII
UM BARCO NO SECO

CAPÍTULO XLVII
ESTADO DE GUERRA

CAPÍTULO XVIII
FAMÍLIA EM CRISE

CAPÍTULO XLVIII
O COMBATE SE APROXIMA

CAPÍTULO XIX
INTERNET 4

CAPÍTULO XLIX
FRIO NA ESPINHA

CAPÍTULO XX
DAVI E GOLIAS

CAPÍTULO L
MAUS PRESSÁGIOS

CAPÍTULO XXI
TUBARÃO BRANCO

CAPÍTULO LI
SEM CONTROLE

CAPÍTULO XXII
O GOLPE DO CLONE

CAPÍTULO LII
NA LINHA DE FRENTE

CAPÍTULO XXIII
REVELAÇÃO PÚBLICA

CAPÍTULO LIII
SACRIFÍCIOS

CAPÍTULO XXIV
O FANTASMA COREANO

CAPÍTULO LIV
TSUNAMI

CAPÍTULO LV
NOVAS REGRAS

CAPÍTULO XXV
VÍRUS MORTAL

CAPÍTULO LVI
SIMBIOSE

CAPÍTULO XXVI
A ÚLTIMA LUTA

CAPÍTULO LVII
SUPERVULCÃO

CAPÍTULO XXVII
YELLOWSTONE

CAPÍTULO LVIII
DEGENERAÇÃO CELULAR

CAPÍTULO XXVIII
CIBER-PERÍCIA CRIMINAL

CAPÍTULO LIX
CONTAGEM REGRESSIVA

CAPÍTULO XXIX
EM BUSCA DE PEDRO

PERSONAGENS
DESTE LIVRO

CAPÍTULO XXX
AUTOPROTEÇÃO

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*Mula é a forma como as pessoas que levam as drogas de um país para outro são chamadas pela polícia.
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