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O BARCO INVISÍVEL
MISSÃO SOBREVIVER - Vol. IV
CAPÍTULO XXIX
EM BUSCA DE PEDRO
Diante da residência da comandante Samantha, da marinha brasileira, chega um veículo do tipo van com o logotipo na lateral do "Jornal do Horário Nobre". Ele estaciona na entrada e fica parado ali. Não há ninguém lá dentro, nem mesmo o motorista. Um computador leva o carro da empresa até onde for necessário.
No interior dele, na parte traseira da van, o avatar número sete está sentado num dos assentos e totalmente desligado. Em seu peito está o logotipo do Jornal do Horário Nobre. Em seus ombros o número sete confirma ser aquele que Ângela alugara. A cabeça do avatar é totalmente escura, negra e tem um formato ovalizado lembrando um rosto humano.
Agora o corpo artificial é ligado via satélite e o rosto de Ângela é projetado internamente nesta cabeça plástica, que é na verdade uma tela especial, dando à imagem uma forma 3D, como se fosse uma holografia tátil! A porta lateral da van desliza para fora e o avatar, meio metálico, meio plástico, desce para o gramado da residência milionária!
O corpo artificial caminha firme em direção à entrada da casa, quando o portão frontal se abre sozinho. O avatar continua caminhando a passos firmes em direção agora à porta principal. Ao chegar lá esta também se abre, quando o portão da entrada já está quase fechado.
No interior da casa surge a bela comandante Samantha, ainda vestida com o uniforme branco da marinha, sorrindo em direção ao avatar e cumprimentando-o:
- Olá, Ângela! Seja bem-vinda à minha casa!
- Olá, comandante Samantha! Agradeço poder me receber! Hummm! Que delicioso este perfume que está usando...! (responde Ângela, percebendo o odor através dos sensores olfativos do traje artificial).
- Ahhh! Obrigada! É o novo perfume recém-lançado: o "Genetics"! Ele se combina com as bactérias naturais da pele de cada pessoa, dando um odor exclusivo para quem o utiliza!
- Que legal! Eu não sabia que já tinha sido lançado!
- Foi ontem à noite o evento de lançamento! Fui convidada e ganhei um! A partir da semana que vem estará disponível para a venda via Internet 4.
- Ahhh! Já vou encomendar o meu! Já valeu termos nos encontrado!
- Rsrsrs! Ângela,vamos conversar lá no fundo de minha propriedade, onde tem uma linda visão para o Lago Norte de Brasília!
- Que bom! Vamos até lá!
O avatar caminha firme e seguro controlado diretamente do Rio Janeiro na sede do Jornal onde Ângela trabalha e o controla apenas com o movimento de um joystick. A repórter usa também um capacete especial de realidade ampliada 3D. As diversas câmeras internas do capacete mostram o rosto de Ângela por todos os lados. As imagens são mixadas e transmitidas para a cabeça do avatar, dando a impressão de ser a própria pessoa que está ali. Sentada em uma mesa a repórter consegue observar, diante de seus olhos, tudo ao redor do corpo artificial - todos os trezentos e sessenta graus.
A tecnologia do cinema trezentos e sessenta graus está aqui disponível neste capacete, porém ela não necessita girar a cabeça para ver tudo o que acontece aqui. No caminho pelo interior da casa, Ângela vê um porta-retratos com a foto de Samantha abraçada ao tenente Pedro.
Alguns troféus e medalhas penduradas em quadros nas paredes, um robô de limpeza, equipamentos de segurança residencial instalados no teto e nas paredes e finalmente o avatar de Ângela e a militar da marinha chegam até os fundos do imóvel. Diversos barcos navegam tranquilamente ao longe. O odor de mato da floresta e da umidade do lago chegam até os sensores olfativos de traje artificial, misturados ao perfume exclusivo de Samantha.
- Hummm! Faz tempo que não sinto o cheiro de uma floresta! (declara a repórter). Minha vida é tão presa aos acontecimentos urbanos que às vezes me esqueço de aproveitar o que restou da vida natural!
- Eu sempre venho para cá quando estou em casa! Adoro este lugar! É bom para relaxar e descansar!
- Eu concordo com você! Se eu morasse perto deste Lago, também faria o mesmo! (concorda Ângela).
- Então você deseja fazer uma entrevista com o tenente Pedro? (indaga Samantha).
- Sim! Exatamente! Recebemos hoje na filial do jornal no Rio de Janeiro a informação de que haverá um julgamento contra todos aqueles que participaram, direta e indiretamente, das missões do barco invisível! Preciso fazer uma entrevista com o tenente Pedro sobre tudo o que aconteceu junto às fronteiras. É uma oportunidade dele poder apresentar o ponto de vista único que teve durante aquele período. Acredito também sirva como forma de sensibilizar o poder público sobre a importância de tais missões.
Samantha ergue rapidamente as sobrancelhas e torce os lábios como se não concordasse com a entrevista.
- O tenente Pedro não gosta de publicidade pessoal! Ele ainda sofre muito com a perda do filho! A marinha fez o que pode para ajudá-lo! Até mesmo uma psicóloga o avaliou! A opção seria uma intervenção genética em sua mente e alteração da memória para eliminar a profunda depressão que não quer deixá-lo em paz! Mas infelizmente Pedro não aceitou isso!
- Ainda assim eu gostaria de conversar com ele! Mesmo que o tenente não deseje dar a entrevista, eu gostaria apenas de conversar pessoalmente com alguém tão importante para todo o funcionamento dos planos do barco invisível. Pelo que li na documentação, o tenente foi considerado um herói nacional entre todos aqueles que conheceram suas ações na região das fronteiras.
- Sim! Mas isso não o deixou mais feliz! Pedro sofre de um raro distúrbio neurológico que o mantém em depressão continuamente!
- Ohhh! Sinto muito por isso!
- Ele precisa se afastar do mundo civilizado! Não se adaptou à agitada vida urbana!
- Compreendo! Você sabe onde ele está exatamente, não é?
- Por que diz isso?
- Você fala dele com carinho..., compaixão... e..., desculpe-me dizer..., amor...!
Samantha sorri na direção do avatar.
- É tão visível assim o que sinto por ele?
- Sim! Mesmo a mil quilômetros de distância está visível isso para mim!
Samantha sorri levemente e fala mais sobre Pedro:
- Nós nos apaixonamos! Pedro tentou resistir a mim porque achava que não poderia trair a memória do filho que morrera e da esposa que o deixara. Mas eu o convenci de que encontrar outra pessoa não significava que ele estava sendo um mau pai! Além disso, a ex-esposa não quer mais nem sequer revê-lo!
- Que estranho isso tudo...! As pessoas precisam se unir mais quando alguém da família morre!
- Eu concordo! Mas Pedro tem sérios problemas de relacionamento, que parecem se agravar mais com a idade! Ele não conseguiu se adaptar à vida social e não conseguiu superar a perda de seu filho e esposa! Faço o que posso para fazê-lo feliz, mesmo que longe de mim!
- Por que não está vivendo com ele?
- Ainda estou na ativa na marinha! Não posso jogar fora tudo o que venho conquistando! Num casal alguém tem ser responsável pelos dois. Esta função coube a mim!
- Mas... ele está bem...? Quero dizer... Pedro está melhor, vivendo como está agora...? (indaga Ângela).
- Sim...! Parece que sim...! Sinto uma alegria maior nele...! Acho que viver no seio da floresta está fazendo bem àquela cabeça complicada!
- Entendo...! Acha que ele ficaria muito chateado se eu aparecesse por lá para entrevistá-lo...?
- Não sei dizer! Mas se eu perguntar, ele com certeza dirá que não irá querer te ver!
- Não preciso dizer que não sou repórter! Que quero apenas conhecer a versão dele sobre o que viveu naquela época!
- Acho melhor dizer a verdade a ele! Pedro não gosta de mentiras e mentirosos! Já conviveu com gente assim por tempo demais! Ele tem um "faro" especial para detectar pessoas que querem enganá-lo. Parece que viver na floresta está melhorando ainda mais os cinco sentidos dele!
- Você pode me levar até lá ou ao menos marcar um encontro meu com ele?
- Olha... Ele não vai gostar nada..., nada... do que vou fazer...! Mas... quer mesmo falar com ele...?
- Claro que sim! Onde o tenente se encontra?
- No meio do nada...! Perto de lugar algum...! Aonde Judas perdeu a pele da sola do pé, de tanto andar...!
- Rsrsrsrs! Parece que vamos andar muito para encontrá-lo!
- Tenho alguns dias de folga para tirar na marinha...! Quer ir amanhã comigo para a floresta...?
- Sim, claro...! Ele vive sozinho ou com a tribo antiga?
- Um pouco de cada coisa! Ele sempre visita a aldeia onde nasceu. Mas a maior parte do tempo vive afastado de todos. Pedro passa muitos dias embrenhado na mata, caçando, pescando e vivendo como um andarilho florestal.
- Andarilho florestal?!?! Essa eu nunca tinha ouvido antes!
- Ele curte e se concentra nas mínimas coisas da mata: sons, vibrações, odores, ventos, chuva...! Enfim! Tudo isso o absorve diariamente! Pedro cansou de pessoas e suas falcatruas! Conviveu com os piores tipos da humanidade e acabou perdendo diversos amigos e conhecidos durante a vida.
- Tomarei cuidado ao conversar com o tenente!
- Fique tranquila quanto a isso! Pedro não se melindra com facilidade e nem se aborrece com as pessoas. O que ele detesta é perceber que está sendo enganado ou encontrar alguém que esteja tramando algo contra outras pessoas!
- A qual tribo o tenente Pedro pertence?
- Ele está no Acre perto de uma cidade chamada Santa Rosa do Purus às margens do Rio Purus. Ali próximo existem tribos de índios ameríndios sem muito contato com a civilização. Pedro é da etnia Caxinauá e vive próximo às margens do rio, num ponto mais distante dali.
- Ok! Vou informar a nossa filial do "Jornal do Horário Nobre" em Rio Branco, capital do Acre. Alugo um avatar que irá de lá com você até Santa Rosa do Purus e depois vamos encontrar Pedro. Ok?
- Está bem!
CAPÍTULO XXIX
EM BUSCA DE PEDRO