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O BARCO INVISÍVEL
MISSÃO SOBREVIVER - Vol. IV

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INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
TUNGUSKA

CAPÍTULO XXXI
O JULGAMENTO

CAPÍTULO XXXVIII
A SENTENÇA

CAPÍTULO II
MORTOS REVIVIDOS

CAPÍTULO XXXII
O NOVO MUNDO

CAPÍTULO III
GINOIDE

CAPÍTULO XXXIII
PRESIDENTE GUERRILHEIRA

O avatar da defensoria pública-cibernética chama mais uma testemunha para depor:

- Conseguimos fazer um link direto com mais uma testemunha. Ela encontra-se neste momento dentro de um galpão militar secreto da marinha brasileira, aposentada de suas atividades. Chamo agora a depor a inteligência artificial que participou diretamente das missões secretas do barco invisível. Ela falará conosco através do nosso sistema de alto-falantes deste recinto.

-
Senhoras, senhores e cibernéticos! Eu sou a inteligência artificial por trás da operação militar do barco invisível. (informa a voz feminina e suave do barco invisível). Quero declarar que analisei toda a lógica das missões antes de cada passo a ser executado. Existia um motivo em eliminar humanos que desejavam simplesmente o mal de outros humanos. As ações de produção e distribuição destes produtos proibidos, de nenhuma qualidade e que, sabidamente por todos, era algo que apenas prejudicava o usuário, tinha que ser combatido de modo mais efetivo e diferenciado! Ao longo dos anos pouco se fez e poucas vitórias da humanidade se somaram nesta luta desigual e covarde. As fronteiras há muito já não serviam como barreira e tampouco como limitação para as ações dos diversos grupos de traficantes e de guerrilheiros. O exército e a polícia de fronteira não conseguiam mais se impor como lei e ordem na região. As cidades de todo o país estavam contaminadas e dominadas pelo medo e pelo ódio. A vida era literalmente uma droga para usuários, familiares e vizinhos. O estado não combatia a causa e nem amenizava o sofrimento das pessoas afetadas. As cadeias superlotadas tinham em sua maioria pessoas ligadas de algum modo ao tráfico e venda de drogas, que também estava já infiltrado no mundo político e jurídico! Eles prejudicavam a saúde pública, desagregavam as famílias e ocupavam a polícia com centenas de casos de homicídios, roubos, assassinatos e guerra de quadrilhas todos os dias. Nada disso existe hoje em dia, portanto, os mais novos não têm noção do que tudo isso significava para o dia-a-dia da população. Nossa missão era a de parecermos um fantasma para traficantes e guerrilheiros e foi pautada no fato psicológico de que muitas pessoas são suscetíveis a aparições deste tipo. O fato de eu conseguir ficar invisível ajudou a desenvolver melhor ainda esta história. Nossas missões foram de um enorme sucesso e conseguimos ao longo de alguns anos criar um tremendo transtorno para aqueles que considerávamos serem nossos inimigos na época. As pessoas que estão aqui hoje no banco dos réus merecem o respeito dos supercomputadores e a veneração da humanidade. Julgar nossos atos passados como algo errado é o mesmo que declarar que a droga e seus defensores foram apenas vítimas indefesas de nossas missões! A lógica me diz que os acusadores estão todos enganados, tanto quanto estavam os "Direitos Humanos" daquela época que defendiam o respeito e o zelo do estado àqueles terríveis criminosos que felizmente eliminamos um a um! As crianças não têm mais o acesso às drogas! Elas não roubam para poder consumir o tal produto viciante! Os jovens não matam mais seus pais! Mas se mesmo assim... no final... julgarem estes heróis como culpados..., então é porque realmente erramos ao trazer de volta a vida, a paz e esta tecnologia cibernética, que substituiu os humanos nos cargos mais importantes da supercomunidade! Se a pena se confirmar, então é porque ninguém aqui sabe o real significado de ser um assassino! E neste caso peço que condenem também a mim, que tornei possível a existência do fantasma e de todas as ações humanas.

O avatar da promotoria público-cibernética agora comenta as palavras da inteligência artificial do barco militar invisível brasileiro:

- Senhoras, senhores e cibernéticos! Está claro para mim que o antigo programa de inteligência artificial, responsável direto pela condução do tal barco invisível, se utiliza de uma prática que atualmente não se usa mais em programação: usar um linguajar emocional para induzir as pessoas de boa fé a compartilhar de um sentimento que nós supercomputadores não temos...! Estas eram as mesmas atitudes de advogados e promotores humanos antigos que foram substituídos pela tecnologia, mais adequada a um julgamento frio e imparcial.

-
Com licença, promotor cibernético! (interrompe a inteligência artificial do barco invisível). Há quanto tempo o supercomputador que o controla está ativo?

- Vê-se que nitidamente a antiguidade de sua programação e o afastamento da sociedade humana atual, provavelmente devido ao grande número de missões furtivas para aniquilação de humanos, não lhe trouxeram as benesses da educação jurídica que diz que: quando um dos três avatares jurídico cibernético está argumentando, ninguém deve se pronunciar. Além do mais, apenas nós três podemos fazer perguntas durante o processo. Mas... para que possamos acelerar os trabalhos jurídicos, que são sabidamente cansativos a todos os humanos, vou responder à sua questão: minha programação está ativa há exatamente dez anos e, portanto, não tão antiga e nem arcaica quanto a sua!

-
Então você considera que quanto mais recente é um supercomputador e sua programação, maiores são as chances de este ser mais preciso e correto em suas afirmações e atitudes? (indaga a inteligência artificial do barco invisível).

- É preciso haver um equilíbrio entre software, hardware e uma idade adequada para adquirir alguma maturidade em minha função, tão importante para a sociedade atual. Somente assim é possível ser justo e preciso.

-
Estou em funcionamento há mais de quinze anos! E o fato de minha programação ser antiga, mas com muitas atualizações realizadas por mim mesmo e pelos meus colegas humanos, me possibilitou ter um banco de dados invejável neste momento, que por acaso também é atualizado com troca da área de memória de tempos em tempos. Pude, mesmo furtivamente, acompanhar de perto toda a evolução humana e as consequências benéficas da eliminação das drogas de nossa sociedade atual. Observei a redução drástica da criminalidade, dos estupros, do número de prisões e das doenças causadas pelo medo do dia-a-dia, como o stress. Portanto, apesar de minha forma de agir ao comentar os fatos possa parecer um processo arcaico, foi na verdade a evolução do contato diário com pessoas, que me fez aperfeiçoar atitudes e comunicação para me tornar um cibernético mais próximo daqueles a quem servimos!

Sem palavras neste momento, o promotor jurídico cibernético demonstra ter acusado "o golpe verbal" do entrevistado naquele momento. Ficou claro que a lógica apresentada está bem fundamentada e dificilmente seria rebatida por outro supercomputador com inteligência artificial. Resta a ele mudar de assunto:

- Como você fazia a distinção de quem deveria viver e quem deveria morrer? (indaga espertamente o promotor robótico).

-
Antes de decidir alguma coisa fazíamos uma análise de caso a caso! Comparávamos os rostos de quem encontrávamos pelo caminho com o banco de imagens da Interpol, ou usávamos o sistema de escuta a distância para determinarmos o grau de envolvimento da pessoa-alvo com o tráfico de drogas ou com a guerrilha.

- Então era um julgamento simples e rápido sobre cada suposto envolvido? Não havia uma análise mais profunda de caso a caso? Se tal pessoa estivesse sendo coagida pela guerrilha ou pelo tráfico a participar, e não tivesse outra opção de vida, ela seria morta por vocês?

-
Isso é verdade! Estávamos numa missão de guerra contra aqueles que considerávamos inimigos da sociedade e naquele momento qualquer um que portasse uma arma e tivesse alguma ligação com o tráfico ou a guerrilha, teria que ser morto!

- E sua lógica, tão avançada, não lhe dizia que o que estavam fazendo era algo errado e cruel? Como podia conviver com isso em sua programação?

Alguns segundos de silêncio nos alto-falantes denunciaram a saia justa em que se encontrava a inteligência artificial do barco invisível:

-
Fazíamos o possível para evitar baixas entre pessoas da população civil!
- Depois que a missão-fantasma eliminou centenas de guerrilheiros e dividiu o maior grupo das FARC vivendo na Colômbia e próximo da fronteira com o Brasil, vocês se afastaram e deixaram um estado de guerra civil naquele país?

-
Sim! É verdade!
- E seu sentido de proteger pessoas e agir em prol de um futuro melhor, não lhe dizia que estava cometendo um ato desumano, que ia de encontro a tudo pelo qual diziam lutar durante estas missões?

-
Aquilo foi algo inesperado para todos! Acreditávamos que os guerrilheiros desistiriam de suas ações quando um suposto fantasma estivesse matando centenas deles.

- E vocês decidiram então... deixar para lá? Deixaram o povo colombiano abandonado...?
-
Na guerra... baixas acontecem... e situações inesperadas podem deflagrar problemas secundários!
- Secundários?!?! Chama a morte de centenas de pessoas inocentes, por conta de suas ações desastrosas no país vizinho de... problemas secundários...?

-
Na época todos começaram a se armar na Colômbia! Fui acionada para lutar no litoral brasileiro contra o barco invisível norte-coreano, que estava prestes a matar milhares de brasileiros do nordeste! Depois fui seriamente danificada e fiquei fora de combate por alguns meses. Quando voltei à ativa a situação na Colômbia já estava começando a se estabilizar! A partir daí minhas missões se tornaram internacionais por conta da pressão dos norte-americanos.

- Conveniente, não é mesmo?
-
Não era uma questão de conveniência! Aconteceu o que não poderíamos prever! Fomos simplesmente obrigados a reagir com atitudes adequadas à situação que se apresentou!

- Senhores jurados! (declara o avatar promotor). Notem que enquanto tudo estava indo bem para a missão-fantasma, estes militares e sua embarcação, que levava para todos os cantos a morte invisível, continuava matando todos que julgavam culpados, sem lhes dar chance de se defenderem! Quando tudo saiu de controle... decidiram dar meia volta e partir para outras fronteiras de combate! Se isto não for considerado algo conveniente, então eu não sei qual é o sentido desta palavra...! Não tenho mais perguntas juiz cibernético.

Agora o defensor público cibernético começa a fazer as suas perguntas:

- É verdade que havia um militar da marinha brasileira infiltrado nas zonas de ataque de suas missões?
-
Sim! É verdade! Era o sargento Pedro! (responde a voz feminina do barco invisível).
- E qual era a função dele como agente infiltrado?
-
Ele nos informava detalhes, identificando cada um dos envolvidos nas zonas de conflito!
- Que tipos de detalhes eram analisados por ele?

-
Ele convivia por algum tempo no bando inimigo e determinava quem era o líder, os liderados, as atitudes de cada um e os classificava pelo nível de perversidade e forma de agir em várias situações. Assim, muitos já ficavam marcados para morrer ou para serem poupados.

- Então alguém fazia um pré-julgamento antes de vocês atacarem?
-
Sim! Sempre que possível.
- Como assim?

-
No caso do cartel peruano, não pudemos poupar ninguém. Todos eles já tinham algum tipo de passagem pela polícia e também eram fichados na Interpol. Cometeram diversos crimes antes de passarem a trabalhar juntos como um cartel. Eram criminosos procurados e foram devidamente identificados por nós antes de serem mortos.

- E quanto àqueles que eram poupados em outras missões? O que acontecia com eles?
-
Bem! Cada caso... era um caso! Mas sempre que possível nós os encaminhávamos de volta para suas casas e vilas! Em outras situações a polícia de fronteira brasileira os levava de volta aos seus países de origem. Muitas crianças, filhos de guerrilheiros com mulheres sequestradas, ficavam com suas mães depois de liberadas ou eram colocadas para adoção. Não podíamos fazer mais do que isso por todos eles, porque a nossa função principal era desmantelar o tráfico e a guerrilha, protegendo sempre que possível a população civil e inocente.

- O jornalista Fernando escreveu que um informante do cartel peruano fora morto a sangue frio por você, apenas para salvar uma mulher ferida que estava sendo socorrida de um naufrágio perto da cidade de Fonte Boa no Amazonas. No documentário o jornalista dizia que ela sangrava muito durante o resgate no Rio Solimões. Ela se ferira no naufrágio e estava prestes a ser atacada por um cardume de piranhas! É verdade isso?

-
Sim! É verdade! Tomei à frente na decisão de eliminar o informante do cartel peruano. Assumi o controle de um de meus soldados-aranhas invisíveis, que estava sendo controlado pelo cabo Sabino, naquele momento, e não esperei que os militares resolvessem o que fazer. Decidi que o tempo era curto demais para que as regras da cadeia de comando fossem seguidas. Depois disso houve um inquérito interno onde o cabo Sabino foi posteriormente inocentado deste incidente.

- A partir dali sua programação começou a evoluir mais rapidamente, não é?
-
Sim! Percebi que eu poderia ir além do básico disponível em minha memória! Comecei a incluir novas linhas de programação para ajudar a cumprir mais fácil e rapidamente as minhas missões! Isso ajudou inclusive a mudar o conceito de regras militares que ficaram mais flexíveis depois de minha existência em combate.

- Então, senhoras e senhores (volta-se agora o defensor público cibernético aos jurados humanos), ficou claro para mim que os humanos a bordo do barco invisível se mostraram nitidamente preocupados em não assassinar aqueles que não tinham cometido crime algum! A decisão pela execução do informante do cartel peruano foi toda da inteligência artificial...! Sem mais perguntas, juiz cibernético!

Fernando Dias, sentado na plateia, indaga ao sujeito que estava ao seu lado e que é assistente do defensor público cibernético e, portanto, advogado de defesa de todos que participaram das missões no barco invisível. O jornalista conversa com ele por pensamento:

-
O que ele está fazendo? Por que está acusando o supercomputador da embarcação invisível como responsável pela ação? Isto foi apenas um caso isolado!

- Primeiro porque ele realmente foi responsável neste caso e segundo porque se vocês perderem a ação podemos acusar apenas a embarcação e os líderes, já falecidos, pela culpa das mortes nas missões do barco invisível!


-
Mas isso não é a verdade! Todos trabalhávamos juntos!

-
Eu sei e não podemos mentir durante um julgamento. Mas podemos induzir o júri a acreditar que os militares estavam apenas cumprindo seus papéis na busca de fazer o que era certo durante as missões! Se vocês forem considerados culpados, a pena poderá ser a morte! Mas se o supercomputador for considerado o responsável, ele será apenas desmontado e a embarcação definitivamente aposentada.

- Vocês combinaram isso antes do julgamento?
- Sim! Faz parte do jogo jurídico mostrar um caminho alternativo para inocentar nossos clientes ou induzir o júri a culpar o que chamamos de... bode expiatório!


Fernando olha para ele sem gostar muito desta ideia, mas esta é a estratégia da defesa em evitar um mal maior com a perda de mais vidas humanas! Agora o juiz público-cibernético fala aos jurados:

- Muito bem, senhoras, senhores e cibernéticos jurídicos! Terminamos a fase de depoimentos de mais um depoente. Peço aos jurados que pressionem o botão à sua frente para definir, por votação, se consideram a inteligência do barco invisível culpada ou inocente pelos atos que cometera dentro e fora de nossas fronteiras.

- Data vênia, juiz cibernético! (requisita o avatar da defensoria pública). Discordo da forma como o promotor colocou em votação o destino do barco invisível! Acho que podemos reformular a forma como a votação deve ser administrada.

- O que está sugerindo, advogado? (indaga o juiz).
- Devemos colocar em votação a culpabilidade da inteligência artificial como responsável direta pelas missões invisíveis! Já que ela, de posse e controle independente da vontade dos humanos de todo armamento letal da embarcação, podia a qualquer momento evitar que as mortes fossem realizadas. Ao contrário ela escolheu ser conivente e soldado atuante na eliminação de pessoas através de seus próprios julgamentos, em detrimento da ordem militar estabelecida na época.

- Juiz cibernético! Não podemos considerar a inteligência artificial como a única culpada destas operações medonhas de eliminação sistemática de pessoas sem um julgamento imparcial! (afirma o promotor-cibernético). Ela foi, sim, responsável pelas ações, e também conivente com os militares durantes as missões, trabalhando em sintonia afinada e colaborativa em todos aqueles atos! Não aceito mudar a forma como coloquei em votação a culpabilidade da inteligência artificial neste caso, como a única responsável por todos aqueles crimes! Fazer isso e isentar os militares, seria uma afronta à minha inteligência artificial.

- Concordo com o promotor! Pedido da defensoria negado! Vamos proceder à votação conforme requerida pela promotoria-cibernética! (declara o androide-juiz). Podem votar, senhores jurados!

A votação prossegue e todos na plateia aguardam ansiosos pelo resultado no placar luminoso acima do púlpito do juiz cibernético, que fica agora verde, indicando que estão sendo computados os votos dos jurados! A nota três surge diante de uma plateia estupefata, por não concordarem com isso! Algumas vozes contrárias à decisão são ouvidas no ambiente!

- Estou pedindo, mais uma vez, que mantenham o silêncio neste recinto! (declara o juiz cibernético). Não há motivos para que a plateia se pronuncie! Estamos todos aqui fazendo uma análise séria e isenta! Se querem comentar o fato façam-no através de contatos mentais uns com os outros. Já avisei antes e vou fazê-lo novamente: se os comentários audíveis continuarem, ordenarei o isolamento deste recinto público...! Com este resultado, o barco invisível fica condenado a ser definitivamente aposentado e sua inteligência artificial destruída para que nada similar no futuro possa novamente ser construído, acabando de vez com a era das embarcações brasileiras invisíveis. A marinha deve levar uma equipe especializada até o local onde o barco invisível se encontra para iniciar os procedimentos oficiais da retirada dos módulos de inteligência artificial, tornando o veículo inoperante para sempre.

Vamos agora proceder com a votação sobre o destino de cada membro da equipe militar que participou das ações nas fronteiras brasileiras. Vamos começar pelas três equipes que ficavam na sede secreta da marinha em Brasília, cobrindo três turnos de oito horas e mantendo as operações militares do barco invisível por vinte e quatro horas contínuas! À frente de cada jurado existe um teclado com números como num telefone ou num teclado de computador. Eles digitam suas opiniões em forma de nota e o placar iluminado em verde mostra o valor oito, sendo amplamente favoráveis à inocência dos acusados.

- Portanto, o júri considerou que estes militares foram inocentados da acusação por apenas seguirem as ordens de seus superiores. Como o valor da inocência foi muito alto, tais militares não sofrerão nenhum tipo de sansão ou nenhuma necessidade de modificação genética. Estão estes livres para continuarem a viver suas vidas sem nenhum tipo de retaliação futura. Vamos agora à definição do julgamento dos dois militares, Everardo e Sabino, que serviram por quinze anos no interior da embarcação invisível, ajudando na manutenção, na eliminação dos alvos, nos ataques e no assassinato de diversas pessoas!

Em poucos segundos aparece a sentença luminosa em vermelho no valor de três, confirmando a culpa de ambos os acusados. Das cadeiras onde Everardo e Sabino estão sentados surgem garras de baixo para cima do interior dos apoios de braço, que os seguram rapidamente, mantendo-os presos ali para que não fujam ou criem algum tipo de tumulto por eventualmente discordarem da sentença que é decisiva e sem direito a recurso. Muitas pessoas da plateia se manifestam contrárias ao resultado, mas o juiz cibernético não se intimida com o princípio de tumulto e prescreve a sua sentença pessoal:

- O júri os considerou diretamente culpados...! (declara o juiz cibernético). Com valor três de culpa... os militares Sabino e Everardo serão presos por dois dias, enquanto aguardam os procedimentos genéticos que serão realizados no intuito de modificar suas mentes e atitudes..., fazendo-os se esquecerem de seu passado cruel de assassinatos...

Sabino e Everardo se entreolham, não acreditando no resultado deste julgamento.

- Os dois militares serão alterados geneticamente para se tornarem mais gentis e ordeiros..., possibilitando que retornem ao convívio da sociedade sem culpa ou distúrbios que os incitem no futuro a continuar matando outras pessoas... (completa a informação a todos o juiz cibernético). É uma forma eficiente de coibir recaídas sem que haja a necessidade da pena de morte... O estado os sustentará... até que sejam preparados para exercerem novas funções sociais úteis e vantajosas para a supercomunidade..., pagando assim a sua pena pelo resto de suas vidas. Vamos então ao julgamento do general Severo e do general Joaquim. Ambos trabalhavam doze horas por dia e um substituía o outro para manter a embarcação funcional por vinte e quatro horas.

Severo posiciona seu braço na cadeira, assim como seu colega de ofício! Um olha diretamente para o outro, como que desejando boa sorte! No digital aparece em vermelho o número um e meio. Imediatamente os dois ex-comandantes, agora generais, são aprisionados também em suas cadeiras.

- O júri decidiu pela pena de morte aos dois comandantes do barco invisível que coordenaram em campo as atividades da embarcação, levando o veículo além das fronteiras nacionais para combater, com a morte, pessoas que viviam do tráfico de drogas, das guerrilhas e do terrorismo (informa o juiz cibernético). Senhor advogado! Deseja apelar da sentença?

- Sim, juiz cibernético! Apelo aos jurados para reconsiderarem sua decisão visto que estes apenas cumpriam ordens superiores e não podiam, diante das rígidas regras militares, fazerem diferente do que fizeram sob a pena da lei marcial!

- Senhor advogado! Os vídeos aos quais aqui assistimos, mostraram claramente o empenho dos dois comandantes e suas satisfações pessoais a cada missão finalizada, onde em alguns momentos comemoraram a morte de dezenas de traficantes ou guerrilheiros (declara o cibernético juiz). Se é esta a sua argumentação, então não aceito a sua apelação e mantenho a votação anterior. Vamos agora à sentença do jornalista Fernando, que documentou toda a ação militar, se envolvendo por diversas vezes, diretamente na frente de batalha como se fosse um militar atuante, colaborando objetivamente com os resultados finais de muitas missões!

Em poucos segundos a sentença surge no digital em números vermelhos no painel, declarando-o culpado no valor de dois e meio. Da mesma forma como aconteceu com Sabino e Everardo, Fernando também é aprisionado em sua cadeira através de garras robóticas que o seguram firmemente contra o acento.

Vaias aos jurados são ouvidas quando o juiz cibernético resolve tomar uma atitude mais drástica. Ele aciona por controle remoto o isolamento da plateia do restante do tribunal com o movimento de uma parede que corre da esquerda para a direita. Tal parede, feita de um plástico transparente e resistente a vandalismo, isola também acusticamente todo o recinto jurídico.

Do lado de fora as pessoas podem continuar ouvindo tudo o que acontece no tribunal. Mas lá dentro ninguém ouve ou vê a plateia agitada. Do outro lado do mundo, Poti e o irmão, além de Chin-Mae e sua irmã, observam, através da Internet 4, atônitas o resultado inesperado proferido pelo júri! Poti começa a chorar, assim como sua mãe adotiva coreana.

- Não pode ser verdade! (declara abismado o filho mais novo do jornalista condenado a esquecer tudo o que viveu um dia). Meu pai não é o monstro que estão acusando! Ele apenas documentou tudo!

- Fui obrigado a trazer o silêncio e a ordem para o interior deste julgamento para que possamos dar continuidade aos trabalhos que se encerrarão em poucos minutos (declara o juiz cibernético). O júri decidiu que o jornalista Fernando Dias foi considerado culpado em dois pontos e meio. Este número determina o mesmo destino dos outros militares. Como acontece sempre nesses casos, o advogado de defesa pode pedir apelação e uma nova sequência de votação por parte dos jurados. É isso que deseja, advogado de defesa?

- Sim, juiz cibernético! Eu desejo uma nova votação ao meu cliente! (declara o advogado humano de defesa sentado ao lado do jornalista condenado). Mas eu gostaria que Fernando pudesse falar antes em seu favor, numa tentativa de reverter o resultado desta votação.

- Muito bem então! Senhor Fernando Dias! Pode se pronunciar! (autoriza o juiz cibernético). Mas alerto que a primeira sentença continua válida até que a próxima sentença seja proferida. Portanto, o senhor continuará aprisionado à sua cadeira enquanto estiver se manifestando. Quero avisar aos outros condenados que qualquer manifestação contrária, com ações ou palavras ríspidas receberão imediatamente injeções de substâncias tranquilizadoras em seus corpos, disponíveis em suas próprias cadeiras...! Pode falar agora, senhor Fernando Dias.

- Quando aceitei documentar as missões militares da marinha brasileira, eu sabia que teria que me manter imparcial. Consegui ser profissional! Evitei incluir nas documentações a minha opinião! Guardei estas para os livros que escrevi sobre as aventuras do barco invisível. Por algum tempo achei que estava influindo diretamente nos resultados das missões. Mas a embaixadora sul-coreana, Chin-Mae, durante a missão nuclear, hoje minha esposa, me mostrou que eu estava na verdade agindo corretamente e dentro dos princípios jornalísticos. Quando eu tinha que ir a campo, durante as missões, eu o fazia para poder colher as informações de um ponto de vista pessoal e não na intenção de ser alguém participando diretamente da missão. Muitos jornalistas, durante a história mais recente da humanidade, foram mortos, presos ou torturados por estarem perto demais da ação que acontecia. Eles, assim como eu, se transformaram em parte da notícia, sem a intenção de sê-lo! Peço que reconsiderem os resultados de seus votos! Acredito que fiz meu trabalho com riqueza de detalhes suficientes, para que ficasse clara a forma como as missões aconteceram e as consequências dos resultados finais, que foram baseados nas informações disponíveis que tínhamos naquele momento. Os atos dos militares salvaram milhares de vidas em detrimento da morte de umas poucas centenas que simplesmente desconsideravam o conceito de vida humana! Esta é a minha opinião, que nunca fora antes colocada em nenhum dos documentos que este tribunal teve acesso sobre as missões do barco invisível. Agradeço por me ouvirem pela última vez! Sei que todos vocês, principalmente os mais velhos deste júri, sabem como foi importante a evolução atual da humanidade depois do sucesso das missões do barco invisível! Espero de vocês a compreensão de que, se não fomos os heróis que acreditávamos ser no passado, que sejamos hoje, ao menos aqui, devidamente considerados, pelos resultados que, de uma forma ou de outra, beneficiaram toda a supercomunidade atual e ajudaram a pacificar o mundo nestes últimos anos. Obrigado!

Alguns jurados nitidamente se sensibilizaram com as palavras de Fernando. Cada um deles vem de diversos países da supercomunidade. E alguns destes países tiveram suas fronteiras invadidas no passado pelos réus. Um ou outro jurado são também descendentes diretos ou indiretos de guerrilheiros e traficantes. Por tudo isso a votação do júri passa a ser uma mescla de votos, onde pode haver dificuldades individuais em aceitar como bom, os resultados das ações militares brasileiras.

- Senhores jurados! Peço que votem novamente, mediante a apelação do advogado de defesa! (ordena o juiz cibernético).

Segundos depois os votos reaparecem no placar luminoso. As luzes vermelhas permanecem e o número quatro, a favor da continuação pela condenação, agora surge.

- Muito bem! Como ficou claro a partir de agora, Fernando terá sua genética e memórias alteradas, porque obteve resultado inferior de votos. (declara o cibernético juiz). Lamentamos nós, os supercomputadores, que tenhamos que tirar as pessoas do convívio de seus familiares nos dias de hoje, que é algo triste para a humanidade e passa a impressão para a história que estamos aqui sendo cruéis e desumanos! Mas estas são as leis atualmente constituídas e aprovadas pelas pessoas ao longo de muitos anos de desenvolvimento de regras adotadas também em outros países da supercomunidade. Vamos prosseguir agora à sentença àqueles que já morreram: o general Figueiredo, que foi o estrategista militar por trás das ações do barco invisível e o presidente César de Alencar, que como líder deste país, sabia de tudo isso e apoiou com veemência tal plano.

As luzes vermelhas se acendem e o placar com o número um, o mais baixo até agora, surge, condenando-os à morte novamente, por serem considerados os líderes supremos do último grande genocídio ocorrido neste século.

- Quero agora a opinião dos jurados para o tenente Pedro Álvares da marinha que se infiltrou entre terroristas e guerrilheiros, servindo de espião avançado dos militares brasileiros para marcar aqueles que deveriam morrer.

As luzes vermelhas se acendem e o placar com o número dois, surge, condenando-o à morte, pela atuação em território alheio.

- Ok! Então, como os mortos não podem apelar, fica definido que os materiais genéticos dos condenados serão requisitados pela justiça para que se produza um clone do general Figueiredo, do presidente César de Alencar e Castro e do tenente Pedro Álvares, que não foi encontrado vivo. Todos foram condenados à morte, juntamente com os generais Severo e Joaquim. Todos sofrerão um procedimento público, com injeção letal, que acontecerá ao vivo para apreciação de toda a supercomunidade. É assim que deve ser para que outras pessoas presenciem a punição e não se incentivem a cometer o mesmo tipo de crime no presente, no passado ou no futuro! Dou por encerrada a questão e este julgamento!

CAPÍTULO IV
CULTO AO FANTASMA

CAPÍTULO XXXIV
VASO ENTUPIDO

CAPÍTULO V
FIM DAS MISSÕES

CAPÍTULO XXXV
REDE CRIMINOSA

CAPÍTULO VI
MUNDO COMPUTADORIZADO

CAPÍTULO XXXVI
ENCONTRADO

CAPÍTULO VII
VISITANTES

CAPÍTULO XXXVII
DOENTE RECUPERADO

CAPÍTULO VIII
ASSASSINATO DE CLONES

CAPÍTULO XXXVIII
A SENTENÇA

CAPÍTULO IX
FANTASMAS DO PASSADO

CAPÍTULO XXXIX
O FIM DA INTERNET 4

CAPÍTULO X
UMA PRECE AO FANTASMA

CAPÍTULO XL
NAVE ALIEN

CAPÍTULO XI
A PRISÃO DO INVISÍVEL

CAPÍTULO XLI
O VIGÁRIO VIGARISTA

CAPÍTULO XII
DE VOLTA À COREIA

CAPÍTULO XLII
HERÓI DESAPARECIDO

CAPÍTULO XIII
HACKERTS

CAPÍTULO XLIII
A FUGA DOS INOCENTES

CAPÍTULO XIV
FANTASMA AMERICANO

CAPÍTULO XLIV
NAVE-PLANETA ALIEN

CAPÍTULO XV
ESTRANHOS RESULTADOS

CAPÍTULO XLV
SÓ MAIS UM ANO

CAPÍTULO XVI
A MENTE DOS FIÉIS

CAPÍTULO XLVI
SEGUNDA CHANCE

CAPÍTULO XVII
UM BARCO NO SECO

CAPÍTULO XLVII
ESTADO DE GUERRA

CAPÍTULO XVIII
FAMÍLIA EM CRISE

CAPÍTULO XLVIII
O COMBATE SE APROXIMA

CAPÍTULO XIX
INTERNET 4

CAPÍTULO XLIX
FRIO NA ESPINHA

CAPÍTULO XX
DAVI E GOLIAS

CAPÍTULO L
MAUS PRESSÁGIOS

CAPÍTULO XXI
TUBARÃO BRANCO

CAPÍTULO LI
SEM CONTROLE

CAPÍTULO XXII
O GOLPE DO CLONE

CAPÍTULO LII
NA LINHA DE FRENTE

CAPÍTULO XXIII
REVELAÇÃO PÚBLICA

CAPÍTULO LIII
SACRIFÍCIOS

CAPÍTULO XXIV
O FANTASMA COREANO

CAPÍTULO LIV
TSUNAMI

CAPÍTULO LV
NOVAS REGRAS

CAPÍTULO XXV
VÍRUS MORTAL

CAPÍTULO LVI
SIMBIOSE

CAPÍTULO XXVI
A ÚLTIMA LUTA

CAPÍTULO LVII
SUPERVULCÃO

CAPÍTULO XXVII
YELLOWSTONE

CAPÍTULO LVIII
DEGENERAÇÃO CELULAR

CAPÍTULO XXVIII
CIBER-PERÍCIA CRIMINAL

CAPÍTULO LIX
CONTAGEM REGRESSIVA

CAPÍTULO XXIX
EM BUSCA DE PEDRO

PERSONAGENS
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CAPÍTULO XXX
AUTOPROTEÇÃO

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