O Barco Invisivel

No Jornal do Horário Nobre, a repórter Ângela Jonas está pronta para entrar no ar ao vivo com a sua matéria especialmente produzida para hoje. Ela está sentada à bancada do programa ao lado da apresentadora principal, Bárbara Torres, que comenta neste momento sobre os desdobramentos do julgamento da tripulação do barco invisível:

- O julgamento dos militares que participaram das operações do barco invisível já terminou! Foi considerada a pena de morte aos dois militares que estavam dentro da embarcação durante todas as missões, Everardo e Sabino, ao tenente Pedro, que se infiltrou entre traficantes e guerrilheiros no Peru e na Colômbia, ao general Severo e aos finados general Figueiredo e o ex-presidente da república, César de Alencar e Castro, que apoiou todas as missões secretas do barco invisível. O jornalista Fernando Dias também foi condenado por participar diretamente de algumas missões indo além de seu compromisso profissional. Fernando foi responsável por toda a documentação gerada em detalhes sobre o assunto. Para alguns especialistas o resultado não chegou a ser uma grande surpresa, já que os países invadidos pela embarcação militar brasileira dificilmente apoiariam tal atitude de extermínio dentro de seus territórios, mesmo sendo as missões para coibir guerrilheiros e traficantes. Para a maioria das pessoas comuns a expectativa era de soltura dos acusados, devido aos bons resultados obtidos atualmente com o fim do tráfico e das guerrilhas que atuavam nas fronteiras. Além disso, tal evento foi determinante para a mudança política deste país e da união em torno da supercomunidade. Como todos já sabem, os integrantes do júri são representantes dos países onde as missões secretas do barco invisível aconteceram. Depois que os cibernéticos assumiram o sistema jurídico da Supercomunidade, houve um acordo internacional que determinou que nos julgamentos de crimes militares, cujas ações tivessem alcance internacional, o júri deveria ser formado com representantes governamentais dos países envolvidos nos acontecimentos que seriam julgados, para que não houvesse algum mal-estar internacional com o resultado da pena aplicada aos acusados! Agora, em poucas horas, todos serão executados sem mais direito à apelação! Ao meu lado temos hoje Ângela. Bom dia, minha amiga!

- Bom dia, Bárbara! É muito bom estar de volta a esta bancada, apesar do dia triste pelo resultado final do julgamento, já que a maioria da população brasileira estava a favor da soltura dos militares e do nosso colega jornalista.

- É! Foi uma pena mesmo! Mas você veio hoje aqui para falar sobre o tenente Pedro, que participou bravamente das ações militares brasileiras, identificando alvos e abrindo o caminho na floresta, para que o barco invisível pudesse realizar suas missões!

- Sim! Isso mesmo, Bárbara! Eu levantei a vida deste militar. Foi muito difícil porque ele se encontra desaparecido! O tenente Pedro foi um profissional exemplar, corajoso e valente. Uma pessoa que foi capaz de encarar uma missão praticamente suicida, mas que ele realizou com sucesso e louvor!

- O tribunal fez de tudo para acioná-lo, mas ninguém soube dizer onde ele se encontra neste momento?

- É! O tenente Pedro, quando foi recrutado pela marinha para a missão junto às fronteiras brasileiras, tinha perdido há pouco tempo seu filho para as drogas! Com isso seu casamento se acabou e ele ficou muito transtornado com tudo isso! Ele aceitou esta convocação voluntária da marinha, como forma de vingança pela perda de seu filho!

- Ahhh! Então ele aceitou isso por vingança?
- Exatamente! Somente um pai ou uma mãe que perde um filho para as drogas conhece a raiva e o ódio que eles ficam dos traficantes e produtores de drogas. O plano inicial da marinha era utilizar o barco invisível nesta nova missão, porque a sociedade vinha perdendo paulatinamente esta guerra. A marinha assumiu a bandeira de heróis da pátria e decidiram por este combate às escondidas.

- Mas como o tenente conseguiu sobreviver na mata ante as limitações de uma vida tão precária?

- O tenente Pedro nasceu em uma tribo e viveu por lá muitos anos até que encontrou para o exército. Ele sempre serviu por ali mesmo na região até quando aceitou a missão. Portanto, para ele não deve ter sido tão difícil viver naquele lugar. Ele já conhecia bem aquela vida na selva!

- E pelo que me informaram, toda a documentação de identificação do tenente, na época sargento, foi cancelada!

- Isso mesmo, Bárbara! Tudo o que o identificava como ser humano brasileiro foi deletado do sistema nacional e internacional. Ele simplesmente deixou de existir! E isso lhe foi muito útil porque ele nunca foi descoberto por ninguém. Na época existiam muitos políticos, policiais e militares envolvidos com o tráfico. E não só aqui no Brasil, também nos países fronteiriços ao nosso isso era comum. Qualquer um deles poderia identificar o tenente Pedro, o que causaria a sua morte imediata nas mãos dos traficantes ou guerrilheiros!

- E como o barco invisível sabia quem era ele entre os outros inimigos?

- Havia alguns códigos combinados entre eles. O posicionamento corporal de Pedro junto aos outros, o identificaria com não sendo o alvo. Foi apenas isso que o salvou da morte quando dos ataques do barco invisível na primeira missão que foi chamada de fantasma!

- E por que foi chamada assim, a missão?
- Porque a embarcação se movia incógnita entre os inimigos, analisando cada pessoa, o comportamento dos alvos sem que nenhum deles pudesse identificar o barco brasileiro. A estratégia da marinha brasileira deu tão certo, que em toda a região central da América do Sul, lendas e lendas sobre um fantasma vingador se proliferaram por ali. O evento ficou conhecido mundialmente e centenas de mortes foram atribuídas ao fantasma tornando impossível que a polícia pudesse identificar os verdadeiros assassinos. E o mais incrível é que ninguém se tocou que o tal fantasma usava canhões, metralhadores e bombas militares para eliminar seus oponentes. Isso mostra como o ser humano é facilmente enganado por histórias da carochinha! E quanto ao tenente Pedro, ao final das missões, ele recebeu medalhas, ganhou uma mansão da marinha junto ao lago norte em Brasília e um veículo branco esportivo elétrico último tipo na época. Teve uma boa pensão militar por serviços prestados, mas depois disso a vida dele entrou novamente como item top secret da marinha. Assim, ninguém nunca mais ouviu falar dele. Teremos que esperar mais alguns anos para saber seu real paradeiro, quando novos documentos secretos e ultrassecretos forem abertos ao público.

- Parece uma história de ficção, não é mesmo, Ângela? (a repórter confirma e concorda com a cabeça). Um conto policial de suspense e aventura! É como se o tenente Pedro fosse um agente secreto do governo brasileiro infiltrado entre os inimigos da população.

- É! Bárbara! Parece mesmo ficção! Mas foi bem real na época e o Brasil correu um risco enorme de ser descoberto se os outros governos vizinhos detectassem a presença do barco militar invisível em seus territórios.

- É verdade, Ângela...! Tem mais alguma coisa para nos contar hoje aqui?
- Sim! É sobre o fim da igreja que cultuava o tal fantasma!
- Acabou a igreja? Ela não existe mais?

- Exatamente! Foi comprovado pela polícia que os padres-pastores também não acreditavam na existência do fantasma. Com isso eles tiveram suas memórias apagadas e vivem hoje em lugar desconhecido de seus familiares! Os pouquíssimos fiéis, que inocentemente ainda acreditam na existência de um fantasma espiritual vingador, continuam rezando em suas próprias casas para que o fantasma os ajude no dia-a-dia.

- É mesmo?
- Sim! Eu entrevistei alguns deles que pedem pela saúde de seus filhos ou pais, rezam quando desejam um emprego melhor e rezam ao fantasma para as coisas mais fúteis do dia-a-dia! Por incrível que pareça, em pleno século XXI, muitos ainda acreditam em coisas deste tipo! E é por isso que ainda existem tantos cultos disponíveis para todos os gostos e crédulos!

- Esperamos que um dia as pessoas abram seus olhos para as realidades da vida e saibam analisar melhor os acontecimentos que nos cercam, ao invés de ficarem acreditando em qualquer coisa que contam ou inventam, não é mesmo?

- É verdade, Bárbara! Que este evento nos sirva a todos de lição. E com as novas tecnologias que estão sendo todos os dias criadas, precisamos ficar cada vez mais espertos com isso!

- Ok! Foi um prazer ter você aqui conosco, Ângela, contando um pouco da história do tenente Pedro, que ainda se encontra desaparecido e sobre o fim de uma falsa igreja que cultuava um barco invisível brasileiro, acreditando ser um fantasma real e vingador. Boa noite a todos que nos acompanharam em mais uma edição surpreendente do "Jornal do Horário Nobre"!