CAPÍTULO XXIV
São Paulo. 2059. Numa noite fria, sob uma garoa fina, a cientista sai da empresa onde trabalha e anda na escuridão até seu carro estacionando na rua ao lado. Um grupo de quatro arruaceiros, tatuados e usando palavras de baixo calão, aproximam-se rapidamente da solitária mulher e cercam-na. Bem vestida e com andar confiante ela grita para eles se afastarem.
Mas os jovens são audazes, beliscam suas pernas e cutucam seu corpo trêmulo de medo. Ela gira a bolsa na intenção de acertá-los. Os jovens pulam para trás e ao seu redor enquanto a mulher, agora não tão confiante, anda apressada e balbuciante sobre o salto alto. Ela deseja chegar o mais rápido possível até seu carro, estacionado logo à frente.
Mário, o androidis, aparece no local, usando sua já consagrada máscara, capuz e capa. Ele se posicionou atrás de um dos jovens, que se afastava da cientista por causa dos movimentos rápidos de sua bolsa. Ele não percebe a presença do soldado divino e tropeça em seu pé, caindo no chão de costas. O negro poderoso aproxima-se do segundo jovem e acerta um soco forte na cara dele. A moça, percebendo que agora tem ajuda e que o arruaceiro que estava mais próximo dela se distraiu com as ações do soldado, gira sua bolsa e acerta-o diretamente no rosto. Ele cai imediatamente de costas ao chão.
O quarto baderneiro salta sobre o Mário que se abaixa e ainda dá um soco no estômago do infeliz durante o movimento. Ele cai ao chão quase sem conseguir respirar. O primeiro jovem que tropeçara no soldado e caira, pega agora uma barra de ferro, que estava jogada no chão, e vem por trás para bater nas costas do androidis. Antes de ser atingido Mário agarra a barra com a mão esquerda, que estava abaixada, sem precisar olhar para trás.
Neste momento outro jovem desfere um golpe, com um soco inglês, no rosto do divino. Mário usa sua outra mão e com a palma aberta impede tal impacto. Ele agora puxa a barra de ferro, junto com o rapaz que ainda a segurava e estava tentando arrancá-la das mãos do poderoso androidis. Ambos os agressores são arremessados ao chão com fortes dores pelo impacto sofrido em seus corpos contra a barra de ferro entre eles. A moça aproveita para correr até seu carro.
- Espere, moça! Não vá embora! (Mário anda rápido atrás dela).
Neste momento os outros dois partem para o ataque, um com canivete e outro com um soco-inglês. Quando os dois pulam sobre o soldado com suas armas na posição de ataque, Mário, de costas para eles abre a palma de suas duas mãos voltadas para trás e ambos os delinquentes são arremessados longe dali sem que conseguissem acertá-lo. A cientista não chega ao veículo. Ela vê um estranho enorme usando um chapéu antigo!
O Shiva está todo de preto e com os dois braços de cima abertos. Pronto para uma briga. Os outros quatro braços estão escondidos sob seu paletó negro. A moça, que andava rapidamente para o veículo agora desiste de continuar. A imagem de Talwaq é assustadora. O soldado a alcança e coloca a mão em seu ombro. O Shiva se aproxima e faz o mesmo. Os três desaparecem do local e reaparecem na dimensão de Jesus. Ela olha ao redor e não entende como chegou a um local cheio de árvores, bem no meio da noite numa floresta!
- O que está acontecendo? Como viemos parar aqui? (ela olha ao redor tentando compreender a situação).
- Está será sua casa agora! (responde o soldado).
- Do que está falando? (a moça volta-se para ele achando um absurdo tal comentário).
Agora aproxima-se Jesus junto ao trio e questiona:
- O que está acontecendo?
A moça se assusta com a nova presença no meio da noite em meio à floresta e gira a bolsa para acertar o rosto do Senhor! Rapidamente Mário segura a ameaçadora "arma" e impede que Jesus seja atingido!
- Calma! Ele é do bem! Vocês poderão conversar muito daqui para frente!
- O quê? (exclama ela indignada com a situação).
- Você voltou? Por que está trazendo ela para cá? (questiona o filho de Deus ao soldado).
- É! Por quê? (indaga furiosa a mulher ao soldado).
- Estou fazendo o serviço de Seu Pai! (declara Mário).
- Do que está falando? (indaga Jesus).
- Ele não trará as pessoas boas da humanidade para junto do Senhor! (informa o soldado).
- Por quê? Aconteceu alguma coisa com Ele? (se espanta Jesus).
- Seu Pai mudou de planos! Ele resolveu transformar a humanidade inteira em outra coisa!
- Como assim... transformar a humanidade em outra coisa? Do que vocês estão falando afinal? Aliás, quem são vocês (questiona a cientista olhando de forma esquisita para o Shiva que nada comenta).
- Mas isso não foi o combinado! (comenta, preocupado, Jesus ao androidis).
- Eu sei! Mas quem pode mudar a opinião de um Deus afinal? (comenta Mário com Jesus).
- Agora Mário olha para a cientista e declara a ela:
- Quanto às suas questões converse com Jesus! (o soldado divino aponta com o queixo para Cristo e desaparece logo depois deixando o Shiva ali).
- Jesus? O que está acontecendo aqui? Onde é que eu vim parar?
- Calma, minha filha! Eu lhe explicarei tudo...! Mas quem são vocês? (indaga Jesus à cientista e ao Shiva).
- Como é que pode eu ser raptada por esta gangue que vem me perguntar quem sou eu!? (declara indignada a mulher). Vocês raptam qualquer um e depois perguntam quem é?
- Eu sou Talwaq! Deus me mandou ajudá-lo para que eu conheça melhor os humanos!
- Meu Pai pediu para ajudá-lo? (indaga Jesus estranhando a afirmação).
- Deus é Seu Pai? (questiona a cientista).
- Sim! (responde Jesus voltando-se novamente para o Shiva). Não entendo porque Meu Pai pediria a ajuda de alguém! Ele não é de fazer isso!
- Já! Já ele retornará então o Senhor pergunte a ele! (comenta o Shiva).
- Mas... este que esteve aqui... não é Meu Pai! (afirma o Senhor já ficando confuso com a situação).
- Espere um pouquinho aí! Vamos devagar! (comenta a cientista já muito nervosa). Não estou entendendo nada! Dá para começar do início? Quem são vocês afinal? Que tanto falam de Deus? Vocês são de alguma seita macabra? Ou o quê?
Os três se entreolham sem entender muito bem o que está acontecendo.
- Vamos contar cada uma de nossas histórias com bastante calma, está bem? (declara Jesus tentando organizar a bagunça!). Talvez assim possamos nos entender melhor!
CAPÍTULO XXIV
Não blasfemarás.