VOLTAR À PÁG.
DA COLEÇÃO

HOME
CAPÍTULO I
1°. de abril de 2020

INTRODUÇÃO
Sim, hoje é o dia nacional da mentira! Mas... o que irei contar a partir de agora... é a mais pura e assustadora verdade!

19:00. Eu, O Criador, autor de A Cultura, estou saindo do hotel onde me encontro e me dirijo até meu carro, cuja porta gaivota se abre automaticamente quando me aproximo. O banco giratório está posicionado para que eu me sente de costas. Ao fazer isso ele gira automaticamente noventa graus de volta para a posição de dirigir. A porta se fecha sozinha! O volante, antes recolhido para o interior do painel dianteiro, agora se reposiciona para que eu possa dirigi-lo.

Ao sair do hotel noto um veículo preto com vidros muito escuros estacionado à frente. Como venho sendo ameaçado ultimamente comecei a prestar mais atenção aos diversos detalhes que me cercam! Desde objetos estranhos, pessoas agindo de forma preocupada e veículos que não deveriam estar por ali!

Quando saí, noto que aquele veículo também começa a andar na mesma direção. Como me encaminho para a principal via da cidade, é natural que ele também fizesse o mesmo. Enfim, lá estou eu dirigindo meu veículo exclusivo para mais uma noite de autógrafos. Estou agora em Uberlândia, Minas Gerais!

Sem o famigerado GPS eu não teria a menor chance de chegar a todos os locais que sempre tenho que ir. Por isso, carrego sempre dois comigo! Precaução! Vocês entendem, não é? A livraria, da rede da editora que publicou a coleção que escrevi, me aguardava apenas dentro de uma hora. Mas eu sou "chato"! Gosto de chegar antes aos meus compromissos! Infelizmente eles não conseguiram um hotel próximo. Por algum motivo, que me foge a memória neste momento, os hotéis estavam lotados naquela semana.

Enquanto ando calmamente pela estrada principal da região percebo, na tela de cristal líquido de meu veículo, que aquele tal carro negro continua a me acompanhar, desde que saí do hotel onde estou hospedado. Isso é algo que fico "cabreiro"! Apenas para tirar minhas dúvidas entro numa rua à direita para sair propositalmente de meu caminho. Notei pelo meu telerretrovisor que o tal veículo não continua me seguindo! Faço o retorno novamente e volto na direção de meu destino: a tal livraria e mais uma noite de autógrafos. Não vejo mais o sinistro carro!

A editora pediu para eu acionar o sistema que me disponibilizaram onde uma microwebcam (câmera de vídeo via internet), instalada de forma imperceptível numa das hastes de meus óculos, envia ao meu carro todas as imagens para onde olho, incluindo o som de meus bate-papos também!

O módulo instalado no veículo se encarrega de gravar todas as imagens e também transmiti-las ao vivo para o site da editora, que mostra sempre as atividades de seus principais escritores. Muitos fãs acompanham seus escritores prediletos em momentos específicos como jantares especiais, entregas de prêmios, entrevistas na TV, rádio ou pela própria internet. Um verdadeiro reality show literário. Tenho que ligar antes de chegar ao evento para que todos vejam onde estou naquele momento.

Ao chegar lá há uma vaga especial e com seguranças armados no local para proteger a mim e ao meu carro. O local onde estaciono fica, sempre que possível, numa das saídas nos fundos da livraria. Uma precaução requisitada pela própria editora. Sinto-me como alguém que poderia ser morto ou sequestrado a qualquer momento! Esta é a parte ruim de ser famoso! E era exatamente isso que eu não desejava para mim...! Enfim, cheguei ao local.

Meu carro foi produzido para ser impossível que outra pessoa possa dirigi-lo! O volante tem reconhecimento de digitais! Um pequeno dispositivo posicionado no lugar do retrovisor interno utiliza-se de um recurso chamado biometria, que reconhece a minha íris e meu rosto para liberar o funcionamento do motor!

O acento do motorista possui uma balança de precisão, que controla uma faixa variável de meu peso provável para o assento. Depois que eu almoço, por exemplo, meu peso total muda e o computador leva isso em consideração acrescentando 400 gramas ao valor registrado. Portanto, nenhum manobrista poderia ter acesso ao veículo. Assim, sou sempre eu quem estaciona meu carro!

- Olá, senhor Criador!
- Olá! Está tudo bem? (respondo eu).
- Sim, senhor! Não aconteceu nada de estranho por aqui!
- Vocês viram um carro preto de vidros escuros chegando aqui? (questiono eu).
- Sim! Ele estacionou próximo da entrada principal da livraria! Quer que chequemos de quem se trata?
- Não saiu ninguém de dentro dele?
- Não, senhor!
- Então chequem, mas com cuidado! Pode ser perigoso! E... me façam um favor...
- Pois não, senhor!
- Não me chamem de senhor! Sinto-me meio velho com isso!
- Mas o senhor é O Criador, o escritor mais famoso do momento! Temos que chamá-lo de senhor, senhor!
- Você acaba de me chamar de senhor três vezes na mesma frase!!!!
- Desculpe-me, senhor!
- Tudo bem! (declaro eu, afastando-me dali para o interior da livraria).

Logo que entrei no recinto algumas pessoas da imprensa local já estavam na entrada principal me aguardando. Normalmente eles chegam na hora porque as personalidades costumam atrasar! Mas eu já estava, pois tinha entrado pelos fundos e o combinado é que a imprensa não entraria na livraria. Eu me encontrei com o dono da franquia local!

- Olá, senhor! É um prazer tê-lo aqui em nossa empresa! Eu estava ansioso por conhecê-lo!

- Tudo bem com você? Não precisa me chamar de senhor eu me sinto íntimo de todo mundo atualmente! Em todo lugar que vou todos já me conhecem!

Ambos rimos desse fato e ele me convida para conhecer o local:

- Venha comigo, quero lhe mostrar nossa megaloja! Temos quase mil metros quadrados só de livros.
- Caramba! E como estão as vendas em geral de sua loja?
- Ótimas! Temos clientes de várias cidades próximas que vêm até aqui apenas para comprar novos livros conosco!
- Legal! Vocês têm concorrentes na região?
- Temos! Mas são pequenas livrarias que vendem outras linhas editoriais! Não existe uma concorrência direta entre nós!
- Certo! Ali é um café?
- Sim! Vamos até lá! Temos aqui um café aonde muitos vêm para ler e para um happy hour nos finais dos dias!

Lá fora um segurança negro foi até o carro preto para falar com o motorista. Quando ele se aproximou do veículo este acelerou e partiu lentamente dali. Ele foi embora.

- É o Mário, o guarda-costas! Pode checar a chapa de um carro pra mim, por favor? (fala o segurança no rádio Nextel com outro colega na polícia)... Sim, ZYK 2059 - Carro de nome Apocalipse! É... isso..., o modelo recém-lançado! Tá! Eu aguardo...! Certo...! Alugado, né...? Tá...! Ficarei de olho...! Obrigado pela força, parceiro...! O quê...? Minha conta corrente...? Quanto...? Puxa! É muito dinheiro...! Tá...! Eu aceito...! Deixa comigo...! Fique tranquilo!

No interior da livraria estou sendo apresentado a todo o local pelo próprio dono da franquia!

- Muito bonito aqui! Adorei a organização e o acabamento do local! Parabéns! (comento eu).

Um dos clientes me reconhece e aproxima-se sorrindo:

- Olá, senhor Criador! Tudo bem? Que prazer encontrá-lo antes da hora marcada, senhor!
- Olá, senhor...!
- Pedro! Meu nome é Pedro! Eu acabo de comprar o quinto volume da Cultura! Comecei a lê-lo aqui mesmo! Estou impressionado com sua visão de como o passado da humanidade pode ter evoluído!

- Pois é, Pedro! Quando eu escrevo as letras simplesmente vão aparecendo abaixo de meus dedos conforme eu teclo no computador!

- O senhor não planeja como a história acontecerá?
- Eu planejo sim! Sou um excelente planejador! Gosto de me preparar para tudo que faço na vida! Mas quando escrevo me surpreendo porque nada sai como eu esperava! Eu me pego escrevendo algo que nem imaginava que iria acontecer. A história se desenrola para mim de forma tão surpreendente quanto para você quando a lê!

- É mesmo? O senhor incorpora alguém quando escreve?
- Rssss! Não sei lhe dizer nada sobre isso! Se incorporo alguém... esta... "entidade"... não me deixa saber que existe, porque eu não a percebo! Mas confesso que até eu acho incrível como tudo vai acontecendo!

- Fiquei arrepiado ao saber disso, senhor! Sua obra me passa a nítida impressão de que também não sabe o que irá acontecer! Tudo parece ser tão real e sempre me faz pensar na vida e como será que terminará a história...

- Eu também sinto isso, meu amigo!
- O senhor pode autografar meu livro agora?
- Claro! É para isso que estou aqui, não é?
- Rssss!

Depois que autografei o livro vendido eu me afastei dali e o cliente da loja acompanha-me sorrindo com os olhos! Mas eu estou ligado a tudo o que acontece, e com o canto do olho, enquanto converso com o dono do local, percebo que Pedro continua acompanhando meus movimentos! Depois das ameaças que venho sofrendo, desconfio de todos e a atitude dele não me passou despercebida! Fiquei alerta a partir daquele momento! Mas o cidadão desapareceu! Não o vi mais!

Isso me incomodou, porque normalmente após todos os autógrafos as pessoas ficam para a minha palestra de quarenta minutos no final! Continuei procurando visualizar o tal Pedro, mas ele não apareceu mais! A noite continuava acontecendo e agora há uma fila de pessoas que desejam autógrafos. Me esqueci de tudo e me concentrei no que as pessoas falavam comigo. Mas uma das pessoas da fila começou a me interrogar antes mesmo da vez dela e enquanto eu assinava meu nome no livro de outro cliente:

- Eu gostaria de saber como sabe sobre tudo o que aconteceu no passado da humanidade?
- Eu? Não sei de nada, meu amigo! Isto é apenas uma história de ficção!

- Não! Não é! O que escreveu demonstra que sabe de coisas que ninguém sabe! Os Neandertais, Jesus, A verdadeira história do universo, dos deuses...! Como sabe que houve alteração na história porque Deus voltou no tempo? Quem é você, afinal?

Eu olhei calma e diretamente para ele e retornei logo a seguir meu olhar para o livro que ainda estava autografando para outra pessoa, finalizei o que fazia, cumprimentei a pessoa e respondi às indagações dele:

- Você estava lá em cada um dos momentos que descrevo nestes livros?
- Não!
- Pois é...! Eu também não...! Portanto, o que escrevo está ligado diretamente à mais pura e óbvia... ficção!
- Eu sei que o que escreveu é a verdade! Meu Pai me contou tudo sobre isso!
- Se seu pai estava lá... então ele só pode ser o próprio Deus! Porque mais ninguém poderia saber a verdade sobre o que escrevi!

- Sim! Meu Pai é Deus e me contou tudo! E eu sou Iblis! Portanto, vou lhe perguntar pela última vez: Como sabe de toda a verdade? De meu nome? Da história completa? Você também é meu irmão? Meu Pai lhe contou isso também?

Eu estava em pé, autografando livros sobre um púlpito, colocado ali especialmente para isso, o que possibilitou que eu ficasse na mesma altura visual dos clientes da livraria! Diante do comentado pelo rapaz eu me sinto incomodado e olho diretamente nos olhos dele. Percebo ao fundo que dois seguranças se aproximam de nós para impedir uma possível agressão do rapaz contra mim. Eu aproveito o ensejo para continuar a conversa com o estranho homem:

- Olhe, meu amigo! Não sei se você é realmente quem diz ser ou pensa que pode ser... o que eu escrevi foi baseado apenas em uma nova forma de enxergar o universo e não existe nada de verdadeiro no que eu...

- Espera que eu acredite que você escreveu tudo isso baseado numa ideia? Acha que sou idiota? Você escreveu sobre mim e sabe sobre meus poderes! Por que ousa me desafiar?

Os dois seguranças se aproximam do cidadão, um de cada lado, e o convidam a sair:

- Senhor, por favor, estamos pedindo que saia desta livraria...

O tal Iblis cruza os braços diante de seu próprio peito e abre as palmas das mãos na direção de cada um dos dois seguranças. Um pequeno raio sai de suas mãos, derrubando os dois enormes guarda-costas! As pessoas ao redor gritam! Algumas começam a correr! Outras se afastam lentamente e de forma atônita para o que presenciaram!

A imprensa invade o local diante dos gritos das pessoas! Eu mesmo não estou acreditando no que estou vendo! Só posso imaginar duas possibilidades: ou eu escrevi sobre a verdade ou nunca fui alguém de verdade! Talvez eu seja apenas mais uma personagem de meus próprios livros! Mas isso seria loucura! O tal Iblis aponta agora uma de suas mãos na minha direção e comenta:

- Pela última vez! Quem é você? Como pode saber sobre toda a verdade? De onde você vem?

Sem opções e perto de perder a vida diante de alguém nitidamente com problemas mentais, seja ele humano ou o próprio Iblis, tive que usar de minha alta capacidade em solucionar problemas complicados e também porque sou especialista na Cultura, já que fui eu quem escreveu tal obra! Tinha agora que fazer o possível para intimidar aquele maluco. Só encontrei naquele momento uma única opção viável:

- Muito bem! Então você é realmente o Iblis de meu quinto volume! Até que enfim eu o encontrei!

Ao dizer isso com autoridade e segurança tornei o momento inesperado também para ele! O tal Iblis abaixa a mão e continua o questionamento:

- Quem é você, afinal?
- Eu sou um dos deuses do Firmamento! Um daqueles que criou o universo! Um que retornou para levá-lo daqui! Tenho que aprisioná-lo em outra dimensão! Sua conduta já ultrapassou todos os limites do tolerável! Vim aniquilar sua imortalidade e decretar sua prisão até o fim de seus dias!

Ele me analisa em busca da verdade, mas só toma alguma atitude quando ergo lentamente meu braço na direção do pescoço dele. O tal Iblis desaparece dali, diante de meus olhos e de todos no local! O espanto é geral! Inclusive o meu! Por que não acreditei em nenhum momento que ele falava a verdade! Agora já estou em dúvida também sobre isso! Eu me apresso na tentativa de ajudar os dois seguranças caídos. Outros dois aparecem ali para auxiliá-los. Eles começam uma massagem cardíaca em ambos, enquanto o quinto segurança, negro, entra correndo na sala:

-
Senhor Criador! Vamos sair daqui agora! Sua vida está correndo grave perigo! Vamos! Vamos!

Eu ainda olho ao redor em busca do tal Pedro, que me pedira autógrafo mais cedo, mas não o vi! Percebo o rosto assustado das outras pessoas no local e digo a todos:

-
Calma, pessoal! Esta confusão está acontecendo por minha causa! Estou saindo daqui e vocês poderão ficar tranquilos! Nada mais acontecerá de errado!

O segurança me pega pelo braço e me puxa com força para a saída de emergência da livraria! Quando chegamos perto da porta de saída ele me impede de sair! Com a arma em punho abre lentamente a porta dos fundos e observa com cuidado todo o local. Por uma pequena fresta pude perceber que meu carro estava parado ali perto. Avisei meu segurança que eu acionaria o veículo à distância para nos auxiliar! Pelo controle remoto em meu bolso liguei a câmera de teto do veículo.

Em meu celular e via internet, pude observar as imagens da câmera que mostra tudo ao redor! Como é noite e a câmera era uma
night vision, ou seja, visão noturna, pude observar que não havia ninguém no local. Mostro isso a ele! Apenas um carro estava parado mais longe e foi possível perceber que o motor estava ainda quente. Portanto, tinha estacionado há pouco tempo! Também percebi que havia alguém sentado lá dentro! O calor do corpo dele aparecia nitidamente em meu celular!

Ele está esperando alguma coisa! Mostro o detalhe que descobri ao meu segurança. Ele entende a situação e disse que me daria cobertura se alguém atirasse. Então, com o mesmo controle remoto, ligo o veículo que começa a manobrar sozinho para parar perto de onde estávamos. As portas gaivota se abrem e corremos para a segurança do interior blindado! Os bancos, posicionados a noventa graus, viram-se rapidamente para a posição normal, depois que nos sentamos. As portas se fecham e colocamos rapidamente os cintos de segurança. Eu acelero o veículo rapidamente para sairmos dali!

- Puxa, senhor Criador! O que houve lá dentro, afinal?
- Boa pergunta, meu amigo! Também não entendi! Parece que uma personagem de meu livro ganhou vida!
- O quê? O senhor está bem?
- Acho que estou! Mas depois de hoje não sei se continuarei! Como estão seus colegas lá na livraria?
- Eles ligarão assim que possível, senhor. Acho melhor não retornarmos para o hotel onde está hospedado, concorda?
- Sim! Acho prudente localizar outro local para passar esta noite! Talvez até em outra cidade! O que acha?
- Se não estivermos sendo seguidos... Tudo bem!

- Tem razão novamente! Precisamos ter certeza disso! Use as câmeras retrovisoras do veículo para observar os outros carros que andam próximos a nós! Darei voltas em um ou outro quarteirão se desconfiar que estamos sendo seguidos por alguém!

- Tudo bem, senhor! Vamos fazer isso!
- Vou aproveitar e tentar descobrir algum hotel com quartos vagos para esta noite.

O GPS informa diversos locais disponíveis na região. Via celular ligo para cada um deles de uma cidade próxima.

- Vocês têm dois quartos próximos um do outro e vagos para esta noite...? Certo...! Diga-me o endereço, por favor...! Ok...! Já digitei em meu GPS... Estamos indo para aí agora...! Sim, janta para um e lanche para o outro...! Tá...! Isso! Café da manhã também...! Sim! Bem cedo amanhã...! Perfeito! Obrigado...! Cartão de crédito...! Isso...! Beleza! Já, já estaremos chegando! Obrigado! Consegui dois quartos disponíveis, meu amigo. Vamos para lá agora!

- Senhor! Posso lhe fazer uma pergunta?
- Claro! Faça!
- Sobre o que falam seus livros?
- Eles não falam! São apenas textos!

Nós dois nos entreolhamos e sorrimos para a brincadeira que fiz! A seguir faço um breve resumo:

- Eu uso a religião católica e o conceito de Jesus e Deus para mostrar às pessoas que se pode olhar de forma diferente para tudo no mundo! Apresento as diversas faces das pessoas, tanto o lado bom, quanto o lado cruel! Mas ao fazer isso, abro antigas feridas da sociedade e da história humana! Mas algumas dessas coisas... as pessoas não estão prontas para ouvir! Falo dos radicais religiosos, daqueles católicos fervorosos e dos que são excessivamente religiosos e tementes a Deus! E... também... dou um significada para Deus..., que ninguém gosta muito! E aí começa a sua história!

- A minha, senhor?
- Sim! Quando você foi contratado pela Editora para ser meu guarda-costas!
- Entendo! Já sei que fui contratado para protegê-lo de alguns radicais religiosos, talvez homens-bomba, atiradores e assassinos contratados! Mas o que ouvi pelo rádio, me diz que provavelmente lidarei com algo muito diferente!

- O que ouviu pelo rádio, afinal?
- Ouvi quando os dois colegas foram abatidos por aquele que oabordou! Os rádios ficaram ligados e o ouvi dizendo ser... Deus! Ouvi o susto das pessoas quando o tal sujeito desapareceu! O que está acontecendo afinal...? Quem é o senhor...? E quem é aquela pessoa que o ameaçou...?

- Temos muito que conversar, meu amigo! Eu realmente não sei o que está acontecendo! Eu sou apenas uma pessoa muito criativa! Nada mais do que isso! Aquele sujeito que me abordou na livraria soltou raios pela palma das mãos, o que derrubou seus colegas! Em meu livro um dos personagens fez o mesmo! Ele disse ser o tal personagem!

- Existem recursos tecnológicos que podem fazer o que ele fez!
- Sei disso! Por isso fingi ser aquele a quem ele mais temeria: o próprio Deus!
- Entendo...! O senhor me pareceu estar bem convicto de quem dizia ser...! Acha que ele voltará!
- Se for um louco, voltará com certeza e ainda mais violento!
Mas se for o tal personagem mesmo..., então você não terá nenhuma chance em tentar me proteger!

- Com todo respeito, mas eu não acredito que estamos vivendo uma ficção científica, senhor!
- Eu também não! Mas vamos manter a mente aberta para qualquer eventualidade! Afinal de contas, ele desapareceu diante de meus olhos e de todos os outros presentes!
- Se essa loucura for verdade, senhor! Como teve acesso a tais informações? Como pôde escrever sobre alguém que não conhecia e nem sabia ser real?
- Essa é a pergunta do dia, meu amigo! Dou um doce para quem souber responder isso!
- Não tem a menor ideia como tudo isso pode ser possível?
- Tudo é tão inusitado para mim quanto para todo mundo! Chega a ser inconcebível algo tão estranho!
- É difícil acreditar que alguém escreveria sobre pessoas que nunca viu e nem ouviu falar antes!

O telefone do segurança cai da mão dele, que se abaixa para procurá-lo sob o banco, mas vi que ele caíra perto dos pés e não sob o banco! Estranhei o fato de ele estar vendo o celular ali e colocar uma das mãos sob o banco! Fui forçado a esquecer o assunto, porque é o meu telefone quem toca neste momento!

Aliás, eu também não desliguei o sistema de webcam de meus óculos! Portanto, quem quer que esteja vendo o site da editora neste momento, está participando de tudo o que está acontecendo comigo agora. Inclusive quando meu celular toca o áudio dele também passa a ser disponibilizado junto com a imagem da webcam e, portanto, todos podem participar de minha vida, enquanto o sistema estiver ligado.

- Pois não? (atendo eu o telefone).
-
Criaaaadooor...! Criaaaaadooor...!
- Quem está falando? (indago eu).
-
Você acha que pode fugir de seus compromissos assim?
- Quem está falando?
-
Fui hoje especialmente para te ver na livraria e disseram que não estava lá! Que falta de respeito com seus leitores!
- Desculpe-me..., mas... eu o conheço?
-
Iria me conhecer se estivesse onde deveria estar!
- Sinto muito! Houve um imprevisto e tive que ir embora! Mas poderá me ver pessoalmente amanhã em outra livraria!
-
Sim! Já me informaram sobre isso! Estarei lá sem falta! Pode apostar!
- Que bom! Estou ansioso por conhecer todos os meus ávidos leitores! Você pelo jeito já leu os quatro volumes anteriores, não é?
-
Sim! Fiquei impressionado com a sua audácia em escrever sobre o que não conhece: a religião, Jesus e Deus!
- Pois é! Esta a vantagem em ser alguém criativo, de mente aberta e ateu, o que me possibilita ser alheio ao mundo religioso!
-
Acho que em certas coisas não devemos mexer! Não há necessidade de se criar um tumulto tão grande apenas por dinheiro!
- Acha que escrevo por dinheiro?
-
É o que todos os ateus e judeus fazem, não é? É tudo sempre por dinheiro!

- Então você precisa ler novamente tudo o que escrevi! Não se trata de dinheiro ou invenção pura e simples! A obra fala do conceito de ser humano e mostra que podemos enxergar a vida e todas as coisas de forma diferente! Ser humano é mais do que seguir regras rígidas e dogmas milenares. Ser humano é poder evoluir com respeito ao próximo e confraternização entre as raças!

-
Acho que sua obra é perigosa e ofensiva às religiões e a todos que crêem em Deus e Jesus!
- Em nenhum momento eu ofendi a Jesus e seu papel na humanidade! Ao contrário! Tentei mostrar uma possibilidade do que aconteceria se Ele retornasse aqui! E quanto a Deus, acho que existe um exagero da humanidade em tamanha devoção!
-
Você não conhece Jesus e a Bíblia! Se tivesse lido o livro sagrado, jamais escreveria sua obra!
- Então você deve estar feliz e com sorte por eu não ter lido o livro milenar, porque senão você teria perdido a oportunidade de ter esta nova visão que lhe dei sobre a vida!

-
É! Vamos nos ver pessoalmente em breve! E então poderemos conversar melhor sobre tudo isso!
- Será um prazer autografar a sua coleção! Traga-a para mim, meu amigo!
-
Pode ter certeza que eu levarei especialmente para você, senhor criador!
- Certo até breve então!

Ele desliga o telefone sem comentar mais nada! Percebo que este não é um fã comum! Sua forma de falar e de agir demonstram que não está satisfeito com o que escrevi! Isso poderá ser mais um problema para mim!

- Meu amigo! (digo eu ao segurança). Seu trabalho será diferente de agora em diante! A partir de hoje estou cancelando as noites de autógrafos! As gravações de entrevistas também serão em locais reservados e nunca ao vivo!
- É uma boa medida, senhor! Mas terá que se livrar também desse carro! Ele é exclusivo demais e todos os seus inimigos sabem da existência dele!
- Tá dizendo que terei que comprar um carro ruim?
- Rsrs! Pode ser um carro especial, mas que se misture com os outros na rua!
- É, mas você conhece algum outro veículo que faça o que este faz?
- Não, senhor!
- Pois é! Então não posso me livrar dele! Será mais fácil fugir com este veículo do que com qualquer outro!
- Também será mais fácil de ser seguido, do que com qualquer outro!
- A vida é uma aposta, meu amigo! Todos nós temos uma chance muito grande de morrer depois que nascemos! Só não podemos deixar de viver, porque a morte é certa! A não ser para os imortais, não é mesmo?

Nós dois rimos de minha piada, mas ele demonstrou estar preocupado com a presença de meu carro nada discreto.

21:00. Andamos mais alguns quilômetros e conseguimos descansar naquela noite num hotel de beira de estrada. Deixei o veículo nos fundos do local de forma que ninguém na estrada poderia vê-lo! Isso nos deu um pouco de segurança adicional naquela noite. Lembrei-me de desligar a webcam de meus óculos, mas antes dei um recado a todos que estão acompanhando:

- Bem, senhores! É hora de dormir. Como tudo o que está acontecendo comigo é muito inusitado e minha vida está correndo um sério risco, deixarei o sistema em modo de espera. Toda vez que eu usar os óculos o sistema se ligará automaticamente. Assim, se eu for morto, todos saberão quem serão as pessoas que me mataram! Espero que isso nunca aconteça! Boa noite, leitores!

Retiro os óculos e o sistema se desliga automaticamente!

CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
COMENTE SOBRE
ESTE LIVRO

OOOOOOOOOOO
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O

Capítulo Anterior
Próximo Capítulo
OOOOOOOOOOO