Voltar à pág.
da coleção

Introdução
Capítulo I
Pecado Espiritual

Este livro foi registrado
na Biblioteca Nacional

Capítulo II
Paraíso dos Espíritos

CAPÍTULO IV - ENCARNADO NO INFERNO
Capítulo III
Floresta Espiritual

Na Terra o jovem espírito agora ganhou um corpo humano! É noite! Ele está nu e deitado no chão, num beco qualquer da cidade de São Paulo! O jovem se levanta, meio confuso com o que aconteceu! Põe a mão esquerda sobre sua cabeça, tentando entender como foi que parou ali! Percebe que seu corpo espiritual está diferente. Não emite mais luz própria! Olha ao redor e vê a iluminação pública e todos os tipos de luzes disponíveis na cidade grande: apartamentos acessos, faróis de carros que passam rapidamente por ali. Tudo reflete forte em seu rosto, fazendo-o se lembrar das luzes que o trouxeram para cá, onde agora se encontra. De repente se lembra de tudo!

Olha para a palma de sua mão esquerda, justamente aquela que tocou a superfície do lago! Tudo está claro novamente! Ele já sabe o porquê de estar aqui! Este é o Inferno humano! Tudo ao redor em nada lembra o Paraíso onde antes estava! Prédios, asfalto, casas e veículos barulhentos nas ruas. O som confuso da cidade, a multidão de novidades o incomoda demais! Dentro do beco onde se encontra, o eco de todos os ruídos ao redor se amplificam e o jovem decide sair dali! Ele tenta flutuar e nada acontece! Fecha os olhos para se concentrar e novamente nada acontece. Resolve então andar calmamente em direção à rua logo à frente! Ao sair em direção à rua, ainda com as mãos nos ouvidos, um carro vem em sua direção, buzinando forte e com o farol alto!

O jovem apavora-se, achando que aquela forte luz o levará dali para um novo mundo ainda mais inferior, muito pior do que este em que está agora! Ele acredita serem estas as mesmas luzes que o trouxeram até aqui. O veículo breca forte e desvia-se, quase atropelando o rapaz, que, por estar nu, sente o forte deslocamento de ar e o impacto das pequenas pedrinhas que machucam seu corpo. Coisa que nunca sentira antes. Tudo é muito novo! Ele se encolhe e vira de costas para se proteger dos múltiplos impactos dos pedriscos minúsculos erguidos pelas rodas do carro e lançados violentamente em sua direção! O dono do carro abre seu vidro e ainda grita:

- Sai da rua, maluco?

Logo depois o veículo acelera e vai embora, cantando os pneus. Todos os sons incomodam o rapaz: brecadas, buzinas, gritos, escapamento do carro, o cantar dos pneus...! A cidade sabe ser bem barulhenta para alguém que nunca ouviu antes algum som em sua vida! De dentro do beco surge um bêbado que vira tudo o que aconteceu e pergunta para o desnudo rapaz:

- Está tentando se matar, sujeito?

O jovem olha para ele e tenta responder mentalmente:

- Não! Não posso morrer aqui! Senão jamais voltarei ao Paraíso!

O bêbado estranha o fato do jovem estar nu e o questiona novamente:

- O que andou aprontando? Estava transando com alguém?

O jovem o olha novamente e comenta mentalmente, achando que o tal humano o está escutando:

- Não sei do que está falando! Preciso de um avental para me cobrir! O senhor tem alguma sobrando?
- Onde estão as suas roupas?
- Eu não tenho! Por isso estou pedindo a você! (responde ele mentalmente novamente).
- Olha! Eu tenho umas roupas velhas que acabei de ganhar de uma casa aqui próxima! Estão limpinhas! Você quer?

O jovem olha para ele e confirma com a cabeça que sim. O bêbado sai cambaleando para o fundo do beco e pouco depois retorna com um par de calças e uma camisa velha!

- Não sei se servirá em você, mas roupa e sapato de pobre não têm tamanho. Todas servem, não é mesmo...? De onde você vem?

O jovem olha para as roupas sem entender como irá vesti-las. Primeiro ele tenta colocar a camisa colocando-a como calça. O que obviamente não dá certo! Enquanto isso ele responde ao bêbado, ainda mentalmente:

- Eu era um espírito! Agora encarnei aqui no Inferno! Fiz besteira lá! E tenho que descobrir como retornar!
- Você não é muito de falar, não é mesmo? E também parece que nunca usou roupas antes!

O jovem olha para ele sem entender porque o tal bêbado disse que ele não é de falar, se responde a tudo o que lhe fora perguntado!

- Como eu visto isso aqui? (questiona o jovem mentalmente, mostrando a camisa ao bêbado).

O embriagado cidadão, sem nada responder, tira a própria camisa de seu corpo e a veste novamente para mostrar como se faz tal coisa.

- Ah! É assim? Obrigado! Eu nunca tinha visto nada parecido com isso antes!
- Você sabe falar? (questiona o humano que se apoia na parede ao lado para não cair de bêbado).

O jovem agora já entendeu também como é que se vestem as calças e o faz com mais facilidade. Diante da nova questão de seu amigo ele não imagina como se faz para falar e tenta emitir alguns sons com a boca. Ele abre e fecha a boca sem conseguir emitir nenhum som. Começa a caminhar em direção ao bêbado e inadvertidamente pisa numa ponta de madeira jogada ali, o que o faz soltar um grito rápido de dor.

- Aiii!

Isso o espanta, porque percebeu duas coisas novas neste momento! Ele pode sentir dor e pode também falar. Começa então a se comunicar.

- Puxa! Eu posso falar! E como dói meu pé! Por que isso?
- Você bateu a cabeça em algum lugar? (questiona o bêbado ao rapaz).
- Não sei! Não me lembro! Por quê?
- Você parece que nem é daqui! Parece que nasceu hoje!
- Você não prestou atenção ao que eu falei antes? De onde vim e o que eu fiz?
- Você não tinha falado nada até agora! Como eu iria saber dessas coisas! Afinal, estou bêbado, mas não sou surdo!
- Então você não consegue ler pensamentos?
- Você é bem esquisito, cara! Mas também... se fosse normal não estaria jogado pelas ruas! Para cá só veem os loucos, desamparados, vagabundos e desempregados! Bem-vindo ao Inferno! (comenta o bêbado que se senta no chão junto à saída do beco).
- Obrigado...! Eu acho...! (comenta o rapaz meio sem saber se o comentário foi bom ou ruim). Diga-me uma coisa! Quantas pessoas você já teve que matar aqui para continuar vivo?
- O quê? Por que está perguntando isso?
- É que me disseram que para sobreviver no Inferno é preciso matar! (declara o jovem recém-encarnado, enquanto senta-se no chão ao lado do bêbado).
- Me acontece cada coisa...! (comenta o bêbado olhando para cima). Se bem que você vem batendo todos os recordes de esquisitices...!
- Me desculpe! É que realmente hoje é o meu primeiro dia aqui no Inferno e ainda não sei como me comportar... ou o que fazer...! Estou meio perdido...! Deixe-me perguntar outra coisa: Está sabendo de algum tsunami que aconteceu recentemente?
- O jornal de ontem não disse nada! Eu nunca consigo ler o jornal de hoje! Só consigo o de ontem, quando alguém já o leu e o jogou no lixo. Quem sabe no lixo de amanhã teremos alguma informação! Mas por que a pergunta?
- Eu fiz uma besteira no Paraíso! E o que fiz pode ter causado um tsunami por aqui!
- Cara...! Você não bate bem da bola, não é mesmo?
- Cara? Bater bem... da bola?!?! O que tudo isso quer dizer?!?!
- Que você é louco!!!!
- O que é ser louco...? Aliás...! Estou sentindo algo estranho entrando pelo meu nariz! O que é isto? (reclama o rapaz do odor que vem do bêbado ao seu lado).
- O cheiro de Inferno, meu amigo!
- Puxa ninguém me falou sobre cheiros! É muito ruim! Como você aguenta?
- Isso não é nada perto de passar fome e sede!

Inesperadamente estaciona um carro grande, uma van, em frente ao beco! Dali três pessoas, sendo dois homens e uma mulher, todos usando uniformes amarelos com uma cruz vermelha na frente, descem do veículo e aproximam-se dos dois sentados no beco!

- Olááá...! Com liceeeença...! (declara a linda mulher de uniforme). Meu nome é Vanessa e pertenço à ONG Paraíso! Estou aqui para convidá-los a conhecer nossa sede, onde vocês terão tudo gratuito! São roupas limpas, alimento, água, banho, avaliação médica, remédios e um lugar quentinho para dormir toda noite!
- Você disse... Paraíso? (questiona o rapaz que acabara justamente de "vir" de lá).
- Sim! Já conhece?
- Claro! Eu vivi lá até recentemente! Você consegue me levar de volta?
- Sim! É para isso que estamos aqui! Para poder levá-los para lá! Mas se quer retornar por que saiu?
- Eu não saí! Cometi um erro e vim parar neste Inferno!
- Vamos levá-lo de volta e eu mesma quero saber o que aconteceu para que lhe tirassem de lá!
- Puxa que bom! Achei que seria muito mais difícil retornar! Foi o Guardião que a enviou até mim?
- Quem?!?! (indaga ela, estranhando a pergunta).
- Aquele de barbas brancas? Foi ele quem a enviou até mim?

A moça sorri docemente e comenta com ele:

- Acreditamos que trabalhamos para Deus em prol dos necessitados! E pensando dessa forma..., sim... foi Ele que nos enviou até vocês!
- Ahhh! Então é esse o nome dele... Deus!!! Ele só me disse para chamá-lo de Guardião?
- Você já esteve com Deus?
- Sim! Foi Ele quem me apresentou o Paraíso quando eu cheguei lá!

A moça estranha o comentário e lembra-se de um funcionário antigo do lugar que tinha barbas brancas! O tal sujeito foi um andarilho e depois que conheceu a ONG ficou vivendo por lá, trabalhando na instituição de caridade.

- Você deve estar falando do Zé!
- Zé?!?! Que Zé?!?!
- Zé foi funcionário da ONG há muito tempo! Ele tinha barbas brancas e talvez tenha sido ele quem lhe apresentou a instituição!
- Mas se ele é o Zé, por que me disse que se chamava Deus?!?! Ele não está mais lá?!?!
- Não! Passou dessa para melhor! Subiu aos céus... aquele bom homem! (declara a linda mulher).
- Ahhh! Passou para o próximo estágio espiritual? Então quem ficou no lugar dele?
- A vaga está em aberto para quem quiser se candidatar!
- Estou querendo muito retornar ao Paraíso e voltar a conversar com meus amigos animais, plantas e seres de outras origens!

O bêbado, sentado no chão ao lado do rapaz, olha para a moça, que parece não entender o que está acontecendo com o tal jovem! O embriagado homem faz o típico sinal do dedo indicador girando em círculos ao redor de sua orelha para insinuar que o recém-encarnado é meio doido! A moça agora entende melhor o que está acontecendo e o porquê dos comentários tão sem-sentido! Ela agora os convida novamente:

- E então? Vamos até lá conhecer o futuro lar de vocês?
- Claro que eu vou! (declara o jovem feliz porque pensa que irá retornar ao Paraíso).
- Tá! Eu vou conhecer o local! (declara o bêbado). Mas já vou avisando! Se eu não gostar volto pra cá!
- Quando iremos ver a luz que nos levará? (questiona o jovem à bela moça da ONG).

Ela estranha a tal pergunta novamente, mas entra no "jogo maluco" e lhe responde:

- Breve! Assim que amanhecer!
- O que é amanhecer?

O bêbado olha para cima e torce a boca, sugerindo com este gesto que está ficando difícil conviver com um jovem encarnado tão "desmiolado"! Vanessa sorri para os dois e comenta:

- Lá vocês poderão ter todas as respostas às suas dúvidas!
- É verdade, meu amigo! (comenta o jovem com o bêbado). Chegando lá procure o ser de olhos azuis! Ele é grande e meio esquisito, mas tem muitas informações sobre tudo! Consulte também as árvores! Elas me contaram coisas incríveis!

O bêbado olha para ele de forma jocosa, não acreditando em nada que dissera!

- Qual é o nome de vocês? (indaga a moça de uniforme amarelo).
- Eu sou Wladimir! (declara o bêbado).
- E você? (questiona ela ao rapaz recém-encarnado).
- Eu? Nunca tive um nome!
- Não se lembra de seu nome? (indaga, preocupada, a jovem morena).
- Lembro-me apenas de minha vida já no Paraíso! Antes disso eu vivia numa estrela e de nada me lembro deste período!
- Estrela?!?! Tá! Vou pedir para nosso médico te avaliar e descobrirmos se conseguimos encontrar a sua família! (declara ela).

Todos entram no veículo e lá dentro já se encontram mais algumas pessoas de rua. O rapaz senta-se ao lado de uma mulher toda descabelada e bem mal-vestida! O bêbado senta-se ao lado dele. A van está praticamente lotada e agora todos são levados diretamente para a sede da ONG. O rapaz puxa papo com a estranha mulher ao seu lado!

- Estou ansioso para sair deste Inferno! Este lugar me assusta!
- Satanás está por todos os lados! Ele irá pegar cada um de nós e nos queimar em seu fogo demoníaco! (responde ela).
- Satanás?!?! Quem é ele?!?! (pergunta o jovem).
- O Demo: O dono do Inferno! (responde a louca mulher). Aquele que pune nossos espíritos, inundando-os com a gasolina dos pecados que todos cometemos e ateando o fogo mais quente e cruel como só ele sabe fazer! Nem mesmo Deus tem a ousadia de aproximar-se do Inferno!
- Ninguém no Paraíso me falou que existe um Satanás por aqui! (comenta o rapaz cada vez mais preocupado em viver na Terra).
- Ele é como o próprio Deus! Está em todos os lugares! Em cada um de nós! Perto demais! A qualquer momento um pecado pode trazê-lo até você! E então será o seu fim! Jamais chegará ao Paraíso se ele te encontrar antes!

A mulher comenta tais coisas, olhando bem de perto, diretamente nos olhos do rapaz, enquanto o bêbado vira-se novamente para o céu e reclama:

- Aonde quer que eu vá sempre tem mais um doido!

O jovem, assustado com tais informações, questiona Vanessa, sentada no banco da frente com os outros dois rapazes da ONG:

- Vai demorar para chegar ao Paraíso? Não quero que Satanás nos encontre antes disso!
- Não, meu amigo sem nome! (responde a sorridente Vanessa). Estamos quase lá! É aqui perto! Mas não se preocupe! O Demônio nunca chega perto daqueles que fazem o bem!
- Preciso de mais informações! (requisita o jovem rapaz). Como alguém pode viver aqui sem matar ninguém e ainda conseguir fazer o bem, vivendo tão perto do demônio? Alguém está me enganando sobre o Inferno! As informações não estão corretas!

No banco da frente da van os três funcionários da ONG Paraíso começam a rir contidamente porque estão levando uma mulher doida e um sujeito amalucado que viveu numa estrela e conhece Deus!

Capítulo IV
Encarnado no Inferno

VOLUME
1

Capítulo V
Gula

Capítulo VI
Inocência

Capítulo VII
A Bebida

Capítulo VIII
Amnésia

Capítulo XII
Mentira

Capítulo IX
A Missão

Capítulo XIII
Nova Casa

Capítulo X
Loucura

Capítulo XIV
O Dono do Inferno

Capítulo XI
Luxúria

Capítulo XV
Ira

Capítulo XVI
Egoísmo

CLIQUE AQUI
PARA COMENTAR
SOBRE ESTE LIVRO

Capítulo XVII
Arrogância

Capítulo XVIII
Preguiça

Capítulo XIX
Avareza

Capítulo XX
Inveja

Capítulo XXI
Ascensão

HOME