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da coleção

Introdução
Capítulo I
Pecado Espiritual

Este livro foi registrado
na Biblioteca Nacional

Capítulo II
Paraíso dos Espíritos

CAPÍTULO VI - INOCÊNCIA
Capítulo III
Floresta Espiritual

O dia seguinte começou e já são oito horas quando os funcionários da ONG Paraíso do turno da manhã chegam e já encontram o café preparado para eles e para as pessoas que dormem ali. A movimentação no local recomeça com o raiar deste novo dia! No quarto onde o rapaz recém-encarnado dorme, todos já se levantaram, menos ele! A longa e difícil primeira noite o fez literalmente desmaiar e nem mesmo os barulhos de todos se levantando e conversando o fizeram acordar hoje cedo! O bêbado resolve acordar o amigo:

- Olá...? Alienígena...? Acorda aí, cara...!

Ele o chacoalha e finalmente os primeiros sinais de consciência surgem!

- O quê...? Onde estou...? Quem é você...? Ahhh...! Sim...! Já entendi onde estou...! Mas por que está me chamando? Há pouco tempo me pediu para dormir?
- Há pouco tempo?!?! São oito e quinze da manhã!
- Não dormi nada ainda! Você não tinha me dito que isto era tão difícil de ser feito! Não me deu nenhuma dica! Agora que consegui dormir você me acorda?!?!
- Vocês alienígenas são muito esquisitos! Vamos comer novamente! Agora é o café da manhã!
- Tá...! Vai ter carne novamente?
- Não! Agora teremos leite, queijos, pães, mortadela, presunto, salgados e doces!
- Nossa! Quantos tipos diferentes de comida existem aqui na Terra?
- Depende de quanto dinheiro se tem para gastar!
- Dinheiro?!?!
- Já sei...! Não sabe o que é dinheiro...?
- É! Como sabe que não sei?
- Eu sei por que você nada sabe! Então fica fácil adivinhar o que desconhece!
- Acho que entendi a sua lógica!
- Que bom! Agora que está tudo explicado e compreendido, vamos tomar nosso café da manhã, alienígena?
- Por que me chama de alienígena? Eu sou um espírito superior encarnado!
- Pois é! Isso para mim é ser alienígena!
- Ahhhh! Então é assim que somos chamados por aqui?
- Sim! Mas nem todo mundo tem a chance de ver ou conviver com um de sua espécie! Portanto, fique perto de mim ou se dará mal neste lugar!
- Está bem!

Quando ele chega ao refeitório a maioria dos mendigos e andarilhos já se encontram lá comendo! Como antes os dois caminham lentamente ao lado de uma mesa com uma bandeja nas mãos escolhendo tudo aquilo que desejam comer! E, como antes, o rapaz senta-se ao lado do bêbado para se alimentar e nele se espelha em todos os seus atos para assim fazer direito o que é preciso! Desta vez o jovem não faz tantas caretas para tudo o que prova, porque descobriu que nem tudo é ruim como imaginava! Ele também não fala mais com a comida! Ainda bem! O café da manhã transcorreu tranquilamente até a chegada do médico! Numa pequena sala lateral ao refeitório o médico voluntário dispõe de alguns recursos! Ali ele realiza exames mais simples e colhe alguns materiais para uma análise mais detalhada, quando desconfia de algum problema mais grave. Chega a vez do jovem rapaz! Ele entra na sala! O médico fecha a porta e lhe faz algumas perguntas:

- Olá...! Bom dia...! Em sua ficha diz que você não se lembra de seu nome...?
- Pelo que sei nunca tive um! (responde o jovem).
- Todos têm um nome! Você também não tem nenhum documento?
- Documento?!?! O que é documento?!?!

O médico sorri jocosamente e continua a bateria de questões.

- Sabe quantos anos você tem?
- Anos?!?!
- Sim! Sua idade?
- Não sei do que está falando?!?!
- Já esteve internado em algum sanatório ou algo similar?
- Eu cheguei ontem à noite aqui no Infer.... na Terra! Não conheço nenhum lugar além do beco onde surgi e este lugar aqui!
- Amnésia...! E das grandes...! Não é mesmo, meu amigo...?
- Vanessa já me disse isso! Não conheço esse termo!
- Certo...! Sente-se ali na cama, por favor!
- Já é hora de dormir novamente?

O médico sorri e comenta com ele:

- As camas não foram feitas apenas para dormir, meu rapaz!
- É verdade! Meu amigo comentou sobre isso comigo! Disse que servem também para transarmos!

Surpreso, o médico tenta disfarçar e declara a ele:

- Diga a seu amigo que a cama também serve para os médicos examinarem seus pacientes! Então... você é homossexual?
- Sou o quê?!?!
- Tudo bem se não quiser falar sobre isso! Como falou de seu amigo, achei que estivesse envolvido sexualmente com ele! Tire sua camisa!

O rapaz faz careta e retira sua camisa. Ele aparenta neste momento estar um pouco confuso com tais perguntas e comentários estranhos e sem sentido:

- Não estou entendendo o que o senhor está falando!
- Você fuma ou bebe álcool?
- Não sei o que é fumar, mas estou querendo descobrir onde tem álcool! Sabe onde o encontro?
- O álcool é encontrado em todos os lugares, mas se você gosta de beber então deve se lembrar de algo sobre seu passado!
- É como eu disse antes! Cheguei ontem aqui e não conheço nada!

O doutor coloca o estetoscópio no peito do rapaz, que reclama:

- É melhor o senhor ajustar a temperatura! Está meio frio!

O médico abaixa as sobrancelhas, olha para ele e requisita:

- Respire fundo e solte o ar bem lentamente pela boca!

O jovem o faz e pergunta logo a seguir:

- Por que está fazendo isso?
- Quero que você apenas respire fundo e solte o ar lentamente pela boca! Não fale nada enquanto faz isso!

O rapaz faz o que lhe é pedido, enquanto suas sobrancelhas erguidas demonstram não estar entendendo muito bem o motivo daquilo!

- Certo! (declara o médico enquanto muda o estetoscópio para as costas do paciente na altura dos pulmões).
- Ahhh! Obrigado! A temperatura está bem melhor agora! (declara o jovem, achando que o médico ajustou a temperatura do equipamento).
- Vamos repetir o procedimento anterior, rapaz. Quero que respire bem fundo e solte o ar lentamente pela boca...!

O paciente o faz e ainda não entende o porquê disso tudo.

- Ok...! Não há nada em seus pulmões! (decreta o doutor). Você vem tomando algum tipo de droga?
- Não conheço o significado desta palavra!
- Você já foi diagnosticado como esquizofrênico alguma vez?
- O quê?!?! O senhor precisa explicar melhor para mim sobre o que está falando! Não entendo nada do que me pergunta! Desconheço quase tudo o que acontece aqui na Terra!
- Na Terra?!?! Então acha que é de outro planeta?!?!
- Eu? Não! Sou apenas um alienígena comum!
- Muito bem, meu amigo! Vou requisitar que um psiquiatra venha visitá-lo na semana que vem! Neste meio tempo... (o médico abre seu armário, atrás de sua cadeira e pega uma caixa de remédio, tarja preta), quero que tome esta droga antipsicótica todos os dias, está bem? Apenas um comprimido por dia!
- Que tipo de comida é essa?
- Não! Não é comida! É uma droga! Um remédio!
- Ahhh! Uma amiga disse que esteve um tempo num lugar que deram remédios a ela para melhorar!
- Sim! Exatamente! Este remédio o fará melhorar e o trará de volta à realidade! Depois que passar a tomar este remédio com frequência, estas histórias que me contou deixarão de existir em sua cabeça!

O jovem pega a caixa e olha para ela, enquanto comenta:

- Como assim?!?! Então isso aqui irá me matar?!?! Vou me esquecer de tudo?!?! Não posso morrer aqui, senão jamais retornarei para o lugar de onde vim. Esquecerei quem sou e por que estou aqui!
- Você não morrerá! Ao contrário! Você irá ver as coisas mais claramente!
- Sinto muito! Não quero esquecer minha origem e meu destino!

O ex-espírito coloca a caixa de remédio sobre a mesa do doutor e sai da sala, reclamando!

- Me avisaram que aqui tentariam me enganar! Por quê? O que todo mundo ganha com isso? (declara o rapaz ao médico, enquanto sai da sala).

O doutor olha desconsolado para o jovem que, na opinião dele, sofre de amnésia e esquizofrenia precoce! O jovem sai revoltado da sala do médico e encontra do lado de fora o bêbado que lhe faz um convite inesperado:

- Ei! Meu amigo alienígena! Quero te mostrar como faço para ganhar dinheiro e conseguir álcool para beber!
- Agora?
- Sim! Quer ir comigo?
- Claro! Quero muito retornar ao Paraíso!
- "Demorou"! (comenta feliz o tal bêbado). Faça exatamente como eu fizer!
- Sinto pela demora, mas não foi culpa minha! (informa o rapaz, apontando para o consultório médico). Ele me atrasou com uma conversa esquisita lá dentro!
- Fique quieto! Não fale nada! Apenas repita meus movimentos, de forma discreta e sem chamar a atenção!

O jovem olha para ele sem entender muito bem o que isso quer dizer, mas começa a segui-lo. O bêbado se afasta sutilmente dos enfermeiros e o jovem permanece junto a ele!

- O que estamos fazendo? (questiona o rapaz).
- Silêncio! Quer que saibam que estamos saindo daqui?
- Eles não podem saber que iremos encontrar o álcool?
- Claro que não! Senão poderão nos dar algum tipo de remédio para dormirmos e esquecermos esta história de fuga!
- Estou confuso! Uma amiga minha disse que esteve em um lugar que lhe deram muitos remédios e ela melhorou de um problema que tinha! Mas o sujeito daquela sala queria que eu tomasse um remédio que me fará esquecer quem sou e para onde devo retornar! Quem está falando a verdade, afinal?!?!
- Meu amigo! Neste planeta ninguém fala a verdade! Todos querem nos enganar ou manipular!
- Mas algumas pessoas aqui parecem ser bons espíritos, apesar de inferiores!
- Sim! Nem todos são maus! Mas é preciso ficar esperto! Você não sabe diferenciar os bons dos maus! Fique sempre perto de mim que eu te ensino, alienígena!
- Como sairemos daqui?

Os dois estão no cantinho do salão principal e o bêbado pisca para seu amigo "extraterrestre" com um sorriso maroto:

- Combinei uma coisa com outro amigo! Quando os enfermeiros correrem para o centro do salão nós sairemos daqui lentamente, sem chamar a atenção! Está bem?
- Certo! Quando isso acontecerá?
- Exatamente... (o bêbado pisca para outro mendigo, que está do outro lado da sala e termina a frase que começara) agora...!

O mendigo, colega do bêbado, entende o sinal e cai ao chão, fingindo estar desmaiado! Os enfermeiros correm para ajudá-lo, enquanto o rapaz percebe que tal pessoa precisa de ajuda. Ele começa a andar em direção ao incidente e é impedido ao ser agarrado no braço pelo Wladimir!

- O que está fazendo? Vamos embora daqui! (declara o bêbado ao jovem inocente).
- Mas aquela pessoa está precisando de ajuda! Vamos até lá!
- Pare com isso, alienígena! Ele está fingindo para que possamos fugir daqui!

O bêbado o arrasta para fora enquanto o jovem fica sem entender o que está acontecendo! Não existe ninguém na portaria, porque ninguém está preso ali. Todos podem ir e vir quando quiserem! Agora os dois estão na rua caminhando em passos acelerados para longe dali.

- Não entendo! Por que ele fingiu estar mal?
- Eu combinei isso com ele, alienígena! Todos prestaram atenção ao evento e assim nossa barra ficou limpa para sairmos!
- Por que todos aqui fingem ajudar, fingem passar mal, fingem serem amigos?
- Não é bem assim...! O pessoal de lá é legal, mas eu preciso de álcool e eles não me dão!
- Ainda não entendo porque proíbem algo tão bom e que possibilita que tenhamos a oportunidade de voltarmos todos para casa? Achei que aqui no Infer...., quero dizer... na Terra, tudo seria permitido se fazer!
- Você pode fazer tudo que quiser, desde que os enfermeiros, a polícia, a esposa e o marido da vizinha não te peguem!
- Polícia?!?! O que é polícia?!?!
- Eles são a lei! Mas muitos são cruéis e perigosos! Fique longe deles o máximo que puder!
- Como saberei quem é polícia?
- Quando vir um deles saberá! Eles são inconfundíveis!

O jovem olha ao redor na rua onde estão andando e começa a ver carros, pedestres, crianças, cachorros, prédios, casas, postes, fiação elétrica, aviões no céu, helicópteros voando baixo, além da luz solar que ilumina todo o ambiente. Tudo isso o deixa deslumbrado!

- O que está acontecendo aqui? O que são todas estas coisas? (o jovem aponta para cada novidade que ele vê).
- Alienígena! Você tem muito que aprender neste planeta! Não posso ficar te explicando tudo! Vamos aprender primeiro a ganhar dinheiro fácil por aqui! Está bem?
- Claro! Estamos juntos!

Os dois se dirigem a um cruzamento movimentado de uma via e ficam parados na esquina!

- Estas coisas... (o jovem aponta para um carro que passa diante deles) fazem muito barulho!
- Com o tempo você se acostuma! Eu já nem ligo mais para isso!
- O que vamos fazer agora?
- Espere...! Observe...! E aprenda!

O semáforo fecha e o bêbado começa a andar com dificuldade, simulando uma perna com problemas, entre os veículos fazendo cara de coitadinho e de dor, falando baixinho e estendendo a mão para cada motorista parado ali. O jovem faz careta porque percebeu que Wladimir está mentindo sobre sua condição de saúde para ganhar o tal dinheiro precioso! Ele percebe que na outra via os carros continuam andando e nota três garotas com curtíssimas saias fazendo estranhos sinais e sorrindo para os veículos que passam por elas. O rapaz percebe que de dentro de um dos carros um homem grita na direção das mulheres:

-
Ohhh! Vaquinhas boas!

O jovem encarnado reconhece o termo e aproxima-se lentamente das garotas. Um carro quase o atropela, mas ele nem sequer liga para isso. Não sabe que está correndo risco de vida! As garotas olham preocupadas, porque pensam que é mais um maluco ou bêbado que vai mexer com elas!

- Xiiiii! Lá vem encrenca! (declara uma delas).

O jovem se aproxima com as sobrancelhas abaixadas e faz uma pergunta:

- Eu ouvi alguém chamando vocês de vaquinhas?!?!
- Sim! Chamam a gente deste jeito mesmo! Por quê? Tá interessado em alguma coisa? Tem dinheiro para gastar?
- Eu comi uma vaca ontem e adorei!
- É mesmo? Qual o nome dela?
- Meu amigo ali (o jovem aponta para o bêbado), disse para eu não falar com a comida! Não perguntei o nome dela!
- Iiiii! Esta papo tá esquisito!!! (comenta outra das garatas).
- Vocês não se importam em serem comidas? (pergunta indiscretamente o jovem rapaz).
- A gente precisa ganhar dinheiro para viver, né?
- Mas eles cortam vocês... e vocês não morrem?
-
Que papo é esse de cortar, meu irmão? (declara nervosa a mulher com quem ele conversava). Passa fora daqui, maluco! Eu também tenho uma faca! Sai fora ou você será o cortado!

O bêbado aparece atrás do jovem e o questiona:

- O que está fazendo aqui? Não falei para ficar me olhando trabalhar para aprender a ganhar dinheiro?
- Sim! Falou! Mas elas são vacas! Você disse que as vacas vivem longe daqui! E não me disse que eram humanas!
- Elas são tipos diferentes de vacas! Estas aí não servem para o almoço ou a janta! Elas servem para outra coisa!
-
Caiam fora daqui vocês dois! Senão vai ter barraco! (grita uma das garotas com uma das mãos dentro da bolsa ameaçando retirar uma arma dali).
- Vamos embora, alienígena! (requisita o bêbado). Eu já consegui uns trocados! Agora podemos tomar aquele álcool, que lhe falei! Estou morrendo de sede!
- Morrendo?!?! (indaga, estranhando, o jovem).
- É uma forma de se falar! Vamos embora!

Capítulo IV
Encarnado no Inferno

VOLUME
1

Capítulo V
Gula

Capítulo VI
Inocência

Capítulo VII
A Bebida

Capítulo VIII
Amnésia

Capítulo XII
Mentira

Capítulo IX
A Missão

Capítulo XIII
Nova Casa

Capítulo X
Loucura

Capítulo XIV
O Dono do Inferno

Capítulo XI
Luxúria

Capítulo XV
Ira

Capítulo XVI
Egoísmo

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Capítulo XVII
Arrogância

Capítulo XVIII
Preguiça

Capítulo XIX
Avareza

Capítulo XX
Inveja

Capítulo XXI
Ascensão

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