VOLTAR À PÁG.
DA COLEÇÃO

HOME
PREFÁCIO
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO I
CAPÍTULO XVII
Zangado limpa arduamente um enorme tambor de alumínio que encontrara. Usando um lança-chamas, embutido em seu uniforme, o androide queima potenciais bactérias, dentro e fora do tambor. Ele já havia anteriormente lavado e esfregado o cilindro diversas vezes. Jesus agora retorna da reunião com seu irmão Gauss que reprogramou o anel para retirar o líquido congelante do interior dos corpos criogenados. O Senhor pergunta:

- E então, Zangado! Já terminou de limpar o recipiente?

- Quase lá, Senhor!

Jesus abre o congelador e pega a amostra de células-tronco, quando informa o androide:

- Eu já estou indo, meu amigo. Te aguardo lá, OK?

- Sim, Senhor!

Cristo desaparece dali e reaparece na empresa de criogenia. Ele abre um dos freezers do lugar e coloca a bolsa lá dentro. O Filho de Deus começa a andar até um dos cinco caixões da entrada. O Senhor faz carinho num deles e fala em voz alta:

- Infelizmente não poderei reviver ninguém desta sala. O vírus esterilizador está presente em seus corpos! Para que os outros humanos sobrevivam, nenhum de vocês poderá ser retirado deste estado! Eu sinto muito!

Zangado reaparece com o enorme tambor, com tampa e lacrado:

- Pronto, Senhor! Aqui está o recipiente.

- Muito bem, então! Vamos começar lá dentro, onde se encontram os milhares de corpos!

- E estes aqui, Senhor?

- Precisamos mantê-los nesta condição, enquanto a raça humana existir, caso contrário contaminarão os demais!

- O Senhor quer que eu os destrua?

- Não! Deixe-os como estão! Talvez um dia, num futuro distante, possamos salvá-los! Mas não hoje!

Jesus caminha para dentro do enorme galpão, onde corpos ansiosos aguardam para serem revividos. Zangado levanta a mão, utilizando o sistema de levitação e transporta o enorme tambor, que flutua no ar até a entrada da pequena porta por onde Jesus passou. Na passagem o tambor bate num dos caixões, sob os protestos do androide, que reclama de seu descuido.

O androide agora aciona o poder do anel e se transporta lá para dentro do galpão, juntamente com o tambor. O que ele não sabe é que a câmara criogênica, atingida pelo tambor, deu um pequeno defeito. A imagem aproxima-se do digital da temperatura do caixão, onde podemos ver a temperatura interna de -196ºC que agora aumentou para -195ºC.

No interior do galpão Zangado usa seu sistema de raio-X para avaliar o primeiro caixão. Ele informa Jesus:

- Senhor! Não poderemos fazer os testes neste corpo.

- Por quê?

- Ele está trincado em três partes, veja! (Zangado mostra numa tela holográfica, projetada à frente, o resultado da análise).

- Mas por que isto aconteceu?

- Minha pesquisa na internet informou que isto pode acontecer com alguns corpos, pois a vitrificação deixa tudo muito frágil!

- Deixemos este corpo para depois! Não sei se poderei recuperá-lo! Talvez possa utilizar as células-tronco para refazer as ligações dos tecidos, músculos e pele. Veja o próximo corpo, por favor!

Zangado aciona o raio-X novamente e determina:

- Este está Ok, Senhor!

- Muito bem! Vamos reverter lentamente o processo da criogenia e esperar que funcione o meu procedimento. Tudo isto levará muito tempo.

- Tudo bem, Senhor! Somos todos imortais aqui, e eles (apontando para os caixões) não estão com pressa!

Jesus sorri para o androide e pergunta:

- Você tem certeza de que não há mais vestígios do gene que esterilizou a humanidade em nenhuma parte do planeta?

- Temos feito uma varredura global todos os anos, depois da queda do meteoro na Alemanha. Os traços do gene desapareceram depois de vinte anos, porque o ambiente consumiu todo o material que não fora fixado nos seres humanos.

Jesus sorri levemente para ele e faz outra pergunta:

- Como você se sente, Zangado? Quero dizer, sente dores? Sente-se como uma pessoa normal?

- Bem, Senhor! No início, quando me vi dentro deste corpo, senti um grande desespero, por não ser mais quem eu era! Mas aos poucos, percebi que minha perda foi contraposta a muitos ganhos! É bom ter poderes e vida eterna! As dores que eventualmente sinto num acidente qualquer, ou problemas com algumas de minhas partes mecânicas, são coisas muito pequenas, face ao restante de que disponho. Uma destas coisas é poder ter a sua companhia eternamente!

- Obrigado, meu amigo! Eu tenho aprendido dia-a-dia a conviver com vocês, e hoje eu os encaro como verdadeiras pessoas! Vocês representam a essência do que é ser humano! Tornaram-se amigos e companheiros de trabalho!

- Quero apenas contar com a sua amizade, Senhor! Isto é o mais importante para mim e para todos os outros 537 Zangados do Planeta.

Jesus sorri e indaga:

- Como funciona esta história de memórias compartilhadas? Vocês não se confundem quem é quem?

- Cada um de nós, espalhados pelo planeta Terra, temos acesso semanalmente às memórias dos outros. É como se eu fosse alguém onipotente... um Deus... alguém que pode ver tudo o que acontece em todos os lugares ao mesmo tempo! As experiências vividas por cada androide Zangado estão vívidas comigo. É muito bom ter um conhecimento tão vasto, num tempo tão curto. Agora sei o que é ser um verdadeiro Deus!

- Não, meu amigo! Um Deus não é onipotente, apesar de ter muitos poderes e conseguir fazer coisas que nenhum de nós poderia compreender inteiramente. Um Deus é frio, porque não compartilha sentimentos. Tudo o que faz é criar coisas maravilhosas e gigantescas. O detalhe do dia-a-dia de suas criações não é conhecido por Eles. O livre-arbítrio e o convívio com os outros é o que torna a vida de todos os seres em algo maravilhoso! Meu Pai teve esta oportunidade e permaneceu frio aos problemas diários dos homens! Não se sinta como um Deus, porque você é muito melhor do que Ele!

Os dois se abraçam em meio a algumas lágrimas, artificiais do Zangado, em sua composição, mas reais em sentimentos dos dois amigos. Lá fora o digital de temperatura do caixão danificado já mudou bastante: -170ºC. Em seu interior a névoa diminui e o corpo congelado começa a aparecer suavemente! Mais uma hora se passa e Jesus olha para a condição do primeiro caixão escolhido:

- É, Zangado! Parece que podemos iniciar os trabalhos com este corpo! Eu vou lá fora pegar a bolsa de células-tronco e...

- Não, Senhor! Pode deixar que faço isso! (interrompe o androide).

Ele começa a andar na direção da porta de saída do galpão, usa o poder de seu anel e desaparece dali, reaparecendo junto dos cinco caixões na outra sala. Quando está próximo do freezer onde se encontra a bolsa hospitalar requisitada por Jesus, Zangado pisa em uma poça de água e para de andar, olhando preocupado para baixo. Nota que um dos caixões está todo suado por fora e é daí que vem a água. Aproxima-se do problema e olha em seu interior, percebendo que o corpo está coberto por gelo e água, e não mais por névoa criogênica! Observa a temperatura no digital ao lado, que informa -150ºC:

-
Oh! Meu Deus! (exclama alto o androide).

Rapidamente ele envia um sinal para que outro androide vá até lá. Encosta uma das mãos no caixão, para, pensa um pouco, sua fisionomia muda rapidamente para uma preocupação muito grande! Percebe a presença de Jesus, que acabara de aparecer à sua frente. Zangado toma uma decisão e desliga rapidamente os cabos de realimentação de nitrogênio, elétrico e de controle eletrônico do caixão.

-
Não se aproxime, Senhor! (requisita o androide).

-
O que aconteceu? (indaga, preocupado, Jesus).

Zangado agora coloca uma de suas mãos sobre o caixão e aciona a semidimensionalidade. Ele, a água do chão e o caixão ficam transparentes. Só agora responde ao Senhor:

- Um acidente quebrou o sistema de criogenia! Mas felizmente o corpo não foi exposto ao ambiente! Desta forma não houve contaminação! Enquanto houver gelo o corpo não espalhará a mutação genética! Por enquanto estamos seguros!

De repente todo o caixão, apoiado sobre uma mesa com rodas, trinca e o conteúdo vaza para fora rapidamente. Porém tudo continua em semidimensionalidade. Jesus olha ainda mais preocupado e nota que todo o líquido contaminado passa, em transparência, por baixo de seus pés. Zangado, desolado, olha para toda a cena e depois para Cristo, comentando:

- Tive uma ideia! Mas agora é tarde demais! Deveríamos ter nos livrado destes corpos contaminados!

-
E agora? (pergunta angustiado Jesus).

- Vou me transportar diretamente para o espaço, logo acima da atmosfera. Na reentrada todo este material irá se incinerar, matando o gene mutante.

-
Mas você irá morrer com isso!

- Não, Senhor! Preciso queimar por alguns segundos na reentrada antes de retornar à Terra. Assim eu garanto que não voltarei contaminado!

-
Você suportará toda esta condição extrema?

- Vou programar o meu retorno automaticamente para cá, após seis segundos queimando na atmosfera. Pode ser que alguns de meus sistemas eletrônicos e mecânicos falhem, precisarei que o Senhor me leve de volta para a Alemanha. Lá eles poderão me consertar novamente!

- Não há necessidade disso, meu amigo! Basta deixar este corpo no espaço e retornar para cá. Podemos esperar mais vinte anos até que todo o ambiente volte ao normal e a contaminação desapareça, sem prejuízo para você!

- Sei de sua ansiedade para fazer com que o que restou da raça humana retorne à vida! Não posso fazer isso com o Senhor!

- Sua vida é mais importante neste momento! Eles estão mortos e podem esperar!

- Farei o possível para voltar vivo, Senhor! De qualquer forma continuarei vivo nos outros Zangados se eu não conseguir voltar! Não se preocupe! Tudo dará certo!

- Boa sorte, meu amigo!

Neste momento aparece outro androide Zangado no local e presencia a partida do 538 para o espaço. Ele e Jesus aguardam o retorno do soldado contaminado. No espaço toda a água líquida se congela rapidamente, inclusive a que espirrou no corpo do androide. Em poucos segundos o corpo, a água e o soldado começam a reentrar na atmosfera terrestre. A água espalhada rapidamente se vaporiza!

O caixão vai se desintegrando em fragmentos menores juntamente com o corpo em seu interior. Cada uma destas partículas começa a se incendiar, durante a reentrada. O corpo do soldado também se avermelha. Ele grita de dor enquanto fecha os olhos e põe as mãos na cabeça. O relógio interno começa a contar o tempo regressivo de cinco segundos para seu retorno.

Algumas partes de seu corpo se incendeiam; faíscas e diversos danos ocorrem em todas as juntas, movidas por motores elétricos; vazamentos de líquidos de controle escapam de seu interior. O soldado desmaia e logo depois ele desaparece do espaço, retornando para a sala de criogenia. Jesus e o outro Zangado aproximam-se do corpo fumegante.

-
Zangado! Você está bem? (pergunta o Senhor ao corpo desfalecido).

O outro androide pega uma vassoura e comenta com Cristo:

- Pode deixar, Senhor! Eu o levarei para a cidade dos
stellaris, lá eles o consertarão!

- Salve-o, por favor! (requisita Cristo).

- Farei o que for preciso, Senhor!

O androide encosta o cabo da vassoura no corpo vermelho de calor e com o poder do anel os dois androides retornam para a Alemanha. Jesus observa a partida de ambos, olha para o freezer semiaberto e corre para pegar a bolsa com células-tronco. Ele comenta consigo mesmo:

- Preciso correr! Senão o corpo descongelado não sobreviverá!

Ele levanta-se apressadamente, pega a bolsa e se transporta, com o poder do anel, para o interior do galpão.

CAPÍTULO II
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO III
CAPÍTULO XIX
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO XX
CAPÍTULO V
CAPÍTULO XXI
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO XXII
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO XXIII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO XXIV
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO XXV
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XXVI
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XXVII
CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XXVIII
CAPÍTULO XIII
CAPÍTULO XXIX
CAPÍTULO XIV
COMENTE SOBRE ESTE LIVRO
CAPÍTULO XV
OOOOOOOOOOO
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O

Capítulo Anterior
Próximo Capítulo
OOOOOOOOOOO